Ontem foram
conhecidos os números relativos à geração de empregos formais no país em abril.
Foi o pior resultado para o mês desde 2009, quando, recorde-se, o mundo inteiro
estava mergulhado numa recessão feia: apenas 217 mil vagas foram geradas, de
acordo com o Caged, do Ministério do Trabalho.
O balanço dos
primeiros quatro meses do ano no mercado de trabalho brasileiro é bastante negativo.
No período, a criação de empregos com carteira assinada caiu 20% na comparação
com o quadrimestre inicial de 2011. Em números absolutos, significa que, entre
um ano e outro, deixaram de ser criados quase 180 mil postos de trabalho.
Mais uma vez, a
indústria continua exibindo o pior desempenho entre os setores. Em abril, foram
criadas apenas 30 mil vagas no segmento – ante 51 mil um ano atrás e 82 mil no
mesmo mês de 2010. Com isso, a expansão dos empregos industriais acumula pífia alta
de 1,4% nos últimos doze meses.
A retração do
emprego é o sinal mais feio até agora da crise que começa a se espalhar pela
economia. Já se dá de barato que o crescimento do PIB neste ano dificilmente
ultrapassará os 2,7% do Pibinho de 2011, com a presidente Dilma Rousseff
engatando seu segundo ano de maus resultados.
Outras evidências incômodas
da crise em gestação vêm de abalos na saúde financeira de algumas de nossas
principais empresas. O Globo mostra
que, com a alta de quase 10% do dólar desde o fim de março, o custo das dívidas
em moeda estrangeira de 200 companhias brasileiras subiu R$ 18,7 bilhões.
Desde abril, também
secou o crédito externo para empresas nacionais. Segundo o Valor Econômico, desde o fim do mês passado “nenhuma companhia se
arriscou a acessar os mercados internacionais”. Com a cotação do dólar
superando R$ 2, captar lá fora torna-se pecado mortal para os balanços
contábeis.
Era previsível que,
mais cedo ou mais tarde, o Brasil seria afetado pela maré negativa que assola
os mercados externos – em especial, o da cada vez mais combalida União
Europeia. O que assombra é a pouca prudência que nossas autoridades econômicas
exibiram ao longo das últimas semanas, agindo como se estivessem numa ilha
isolada do mundo.
Do Ministério da
Fazenda, a tônica foram comentários róseos completamente descolados da
realidade. Até poucos dias trás, Guido Mantega ainda falava numa expectativa de
crescimento de 4,5% para o PIB brasileiro neste ano. Puro delírio.
O mais aterrorizante
é o risco de o governo apelar para mais medidas voluntaristas a fim de incensar
a economia, implodindo alguns fundamentos saudáveis, como a responsabilidade
fiscal. Um primeiro alerta veio da confirmação de que a arrecadação federal
começou a ceder, o que pode induzir a gestão petista a querer ultrapassar alguns
limites e economizar menos.
“O governo voltou a
matutar novas mágicas e milagres a fim de fazer o país sair do marasmo, coisas
como reduzir o superávit primário e soltar as amarras da prudência nos bancos
públicos”, alerta Vinicius Torres Freire na Folha
de S.Paulo.
Estamos diante do
esgotamento de um modelo que, bem ou mal, mostrou resultados nos últimos anos:
crescer pelo consumo, mediante abundante oferta de crédito. Os governos do PT
apostaram nesta rota e jamais conseguiram fazer o que era realmente necessário:
preparar o país para avanços mais robustos por meio de investimentos
estruturantes.
Em momentos de
turbulência como o atual, prudência e responsabilidade são as palavras-chave.
Medidas açodadas ou ações carcomidas – como os manjados incentivos à indústria
automobilística, novamente em pauta – não serão suficientes para resolver
problemas estruturais. Para vencer as dificuldades, será preciso bem mais do
que continuar apostando em lotar shopping centers.
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