Há dois anos, ela e
Lula estiveram em Ipojuca (PE) para “inaugurar” o navio – na quarta ida do
então presidente ao estaleiro. Na ocasião, não faltaram fanfarras, discursos ufanistas
e júbilos, parte da extemporânea e ilegal campanha da então candidata – as imagens são reveladoras.
Naquele 7 de maio de 2010, o João Cândido tocava as águas pela primeira vez. Deveria
começar a navegar oceanos quatro meses depois. Mas só agora, três
anos e oito meses após o início de sua construção, o petroleiro está sendo
entregue.
Não se sabe ao certo se o navio irá, de fato, singrar os mares: o portento
que foi transformado pelo discurso do PT no “símbolo do renascimento da
indústria naval” brasileira – como dizia uma das peças de campanha de
Dilma em 2010 – mal consegue boiar.
O João Cândido é
desconjuntado, defeituoso, torto. “O navio teve de ser retirado da água, sob o
risco de afundar. Uma boa parte da embarcação também teve de ser desmontada,
especialmente em função dos problemas de soldagem. Os problemas estruturais são
tamanhos que chegou-se a considerar a hipótese de perda total da embarcação”,
publicou o Valor Econômico em março.
Imagine a situação:
o João Cândido vai ao mar e, por infelicidade, ou justamente em consequência de
toda a irresponsabilidade envolvida na sua construção, naufraga com sua carga
de 1 milhão de barris de petróleo. Impossível calcular a dimensão de tamanho
desastre, humano e ambiental, de vidas e de óleo ao mar.
Os problemas
enfrentados pelo Estaleiro Atlântico Sul (EAS), onde o João Cândido foi construído,
se devem, em parte, à sanha politiqueira do PT. Para caber no cronograma
eleitoral, a construção do estaleiro e a montagem do navio tiveram de ser
feitas concomitantemente, de forma atabalhoada. Foi o caminho mais curto para o
desastre.
As condições de
trabalho, que já seriam difíceis para quem jamais montara sequer uma lancha,
tornaram-se sofríveis. Os empregados – o EAS chegou a contar com 11 mil e hoje
tem metade disso – trabalhavam sob temperaturas desumanas, agravadas pelo sol
inclemente e pelo calor emanado dos equipamentos de solda, o que aumentava o
tempo gasto em algumas operações em até oito vezes.
Na base do improviso,
o EAS naufragou num oceano de prejuízos. Em 2011, fechou seu balanço com R$
1,47 bilhão no vermelho – as receitas não cobriram sequer gastos com mão de
obra e materiais. Horrorizados, os sócios coreanos pularam fora, e agora o
estaleiro busca no exterior parceiros que entendam do assunto – construir
navios não é com a Camargo Correa, nem com a Queiroz Galvão, as construtoras remanescentes
no negócio.
Este seria um
problema privado, não fosse um detalhe: o estaleiro só existe graças às
benesses do BNDES. O EAS tem 22 navios encomendados pela Transpetro para
entrega até 2016. A carteira soma R$ 7 bilhões, dos quais 90% financiados pelo
banco oficial. Apenas com os primeiros três petroleiros que constrói, a empresa
perdeu dinheiro suficiente para fabricar um navio (R$ 333 milhões), conforme
reconheceu no balanço de 2011. Sem condições de começar pagar o que deve, o EAS
já pediu mais prazo para o BNDES.
O naufrágio do João
Cândido é parte de uma malsucedida estratégia voltada a ressuscitar, na marra, a
indústria naval brasileira, levada a cabo por Lula e mantida por Dilma. À base
de uma política de reserva de mercado, que exige conteúdos nacionais mínimos,
sai caríssimo produzir embarcações no país. A operação só para em pé com muito dinheiro
público.
O João Cândido, por
exemplo, deverá custar R$ 495 milhões, ou mais de 53% acima da previsão inicial,
segundo mostrou o Jornal do
Commercio. Prometido para até o fim deste ano, o segundo navio a ser fabricado
pelo EAS, o Zumbi dos Palmares, vai sair 24% mais caro que o estimado, isto é, R$
424 milhões.
Já outro produto do estaleiro,
a P-55 encareceu 20% e custou R$ 1 bilhão. Trata-se de outro vexame. Entregue em
dezembro passado, a plataforma ainda não funciona e terá de sofrer reparos no
Rio Grande do Sul antes de finalmente começar a produzir. Com isso, a
Petrobras, que a contratou, teve de postergar a extração de 180 mil barris diários
de petróleo para o fim de 2013, deixando de faturar pelo menos US$ 15 milhões
por dia.
Onde quer que se olhe, os resultados da
política petista para o setor naval ainda são uma miragem. Dos oito novos estaleiros
previstos, destinados a construir equipamentos necessários à exploração do
pré-sal, somente três funcionam, ainda que precariamente, como é o caso do EAS.
“A única certeza que se tem ao começar um projeto de construção é de que não
vai acabar no prazo”, disse um presidente de estaleiro a O
Estado de S.Paulo, em março.
Em junho de 2010,
Lula publicou no Zero
Hora artigo intitulado “Indústria naval renasce das cinzas”. Nele,
afirmava: “A retomada da indústria naval é irreversível. (...) Os reflexos desta
verdadeira explosão da indústria naval estão se espraiando por toda a economia
e beneficiando, direta ou indiretamente, todos os brasileiros.” Como o navegar
impreciso do João Cândido atesta, é possível que, nunca antes na história deste
país, o ex-presidente tenha se equivocado tanto.
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