A mudança nas
cadernetas vem sendo ensaiada há algum tempo. Sempre que os juros básicos se
aproximam de seu piso histórico, isto é, 8,75% ao ano, a conversa volta. Desta
vez, parece que a presidente resolveu pagar para ver. A tunga está para ser
anunciada hoje, conforme prenunciam todos os jornais.
A nova fórmula de
remuneração da poupança ainda não é conhecida. Apenas se sabe que ela deixará
de render o que rende hoje, ou seja, 0,5% ao mês mais a variação da TR. Se dá
para apostar, o mais provável é que seja adotada a fórmula que atrela o rendimento
das cadernetas a um percentual da taxa Selic, que seria de 70% e/ou 80%.
Por este modelo,
enquanto a taxa básica de juros não cair abaixo de 8,5% anuais, a “nova”
poupança ainda levaria leve vantagem sobre a atual. Numa simulação feita pelo Valor
Econômico – evidentemente rascunhada a partir do Ministério da Fazenda –,
com a Selic ainda neste patamar, a nova regra faria a poupança render entre
6,3% e 6,8%, ante os 6,4% atuais. É neste cálculo que o governo vai basear sua
defesa da mudança.
Todo mundo quer que
os juros caiam o máximo possível no país. Ninguém duvida que as taxas ainda
praticadas aqui são estapafúrdias. Todos também sabem que o rendimento prefixado
da poupança cria um constrangimento à baixa geral dos juros. São fatos.
O que não se aceita
é que, no momento de um movimento virtuoso, como o que se espera agora com a
redução dos juros, os pequenos poupadores sejam os primeiros chamados a pagar a
conta.
Fundos de investimento lastreados na Selic estão rendendo, em média, uns 10% ao ano. As cadernetas, como dito acima, rendem uns 6,4% – bem menos, portanto. Por que, então, o governo começa a mexer primeiro justamente no que rende – nominalmente – menos?
Fundos de investimento lastreados na Selic estão rendendo, em média, uns 10% ao ano. As cadernetas, como dito acima, rendem uns 6,4% – bem menos, portanto. Por que, então, o governo começa a mexer primeiro justamente no que rende – nominalmente – menos?
A explicação técnica
é que, sobre os fundos, incidem taxas de administração e imposto de renda que
não oneram a poupança. Com isso, e com a taxa básica de juros abaixo dos 8,5%,
a caderneta passaria a render mais que as aplicações em renda fixa e ficaria “muito
atraente”.
Ser mais rentável torna-se,
assim, um pecado para a opção preferencial de quem poupa centavos. É curioso que
nestes séculos todos em que ocorreu o inverso – fundos de quem investe milhões
serem “mais atraentes” que a poupança – ninguém se incomodou, nem fez menção de
qualquer mudança.
Pois bem, se é para implodir
o piso dos juros – o que é desejável – e evitar que a caderneta fique mais
apetitosa que os fundos, por que o governo não diminui, primeiro, o tributo que
cobra de quem investe? Fundos de investimento pagam até 22,5% de imposto de
renda. Por que não reduzir a mordida do leão?
Por que, em seguida,
o governo não orienta uma baixa geral nas taxas de administração? Há casos – até
mesmo nos bancos públicos – em que elas comem quase metade do rendimento dos
fundos. A gestão petista não quer, porém, nem pensar nestas alternativas. Prefere começar
pelo elo mais fraco, ou seja, o pequeno poupador.
Baixar o imposto de
renda ou induzir a diminuição das taxas de administração preservaria a atratividade
dos fundos de investimento sem gerar a necessidade de alterar o ganho da poupança. O governo também preservaria a fonte de financiamento de
sua imensa dívida, já que os fundos investem, preferencialmente, em títulos públicos.
Entretanto, uma das
alternativas em discussão no Planalto, segundo a Folha
de S.Paulo, vai justamente na direção oposta: passar a cobrar imposto
de renda de tudo, tanto de fundos, quanto das novas e das velhas aplicações em poupança.
Se for isso mesmo, a gestão Dilma estará quebrando contratos, ao contrário do
que tem sido prometido.
O mínimo que se
espera de um governo é que honre compromissos. Esta é uma regra básica de
regimes democráticos e não uma concessão. Com a tunga nas cadernetas, o PT repete
a traumática experiência que o país viveu há 22 anos, com o hoje aliado Fernando
Collor de Mello. Quem menos tem é sempre quem paga a conta.
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