Dilma Rousseff aproveitou
a gordura que sua cruzada retórica contra os bancos está lhe rendendo para
investir no bolso dos poupadores. Argumenta que, em troca, levará o país a ter
juros reais na casa de 2% ao ano. É bom que consiga cumprir a palavra.
A tunga na poupança foi
vendida pelo governo como a retirada do último empecilho para a derrubada dos
juros. Mas, de concreto, ainda somos os vice-campeões mundiais na modalidade usura.
Nossas taxas só perdem para as russas. Nada mudou, ainda.
A partir de agora, os
depósitos realizados pelos poupadores nas cadernetas passarão a ter rendimento
menor do que o atual sempre que a Selic ficar igual ou abaixo de 8,5% ao ano. Quando
isso ocorrer, a remuneração da poupança será de 70% da taxa básica de juros mais
TR.
Ou seja, pela
mudança anunciada ontem pela equipe econômica de Dilma, o pequeno investidor da
caderneta será brindado sempre com o menor rendimento. Como se vê, um
baita negócio para o poupador, não?
Banqueiros, empresários
e políticos aliados aplaudiram. Obviamente porque nenhum deles, possivelmente,
tem dinheiro guardado na poupança. Mas quem entende de finanças pessoais não
tem dúvida: o poupador perdeu, e muito. Segundo O
Estado de S.Paulo, o rendimento da poupança cairá dos atuais 6,53% para
cerca de 5,95% ao ano.
“Caso o juro real chegue
a 2%, como é o objetivo declarado de Dilma, o rendimento da poupança para os
novos depósitos ficará cerca de 18% menor do que o previsto hoje”, calculou a Folha de S.Paulo.
Quanto mais a inflação se distanciar da meta fixada pelo governo, maior será a
perda da poupança.
“O investidor da
poupança saiu perdendo”, atesta Rafael Paschoarelli, professor da FEA/USP. “A
medida, infelizmente, vem para piorar o rendimento da poupança”, completa Fábio
Colombo, administrador de investimentos – ambos ouvidos por O
Globo.
O jornal fez
simulações que quantificam as perdas em moeda sonante. Com as novas regras, um poupador
que guardar R$ 10 mil na caderneta terá R$ 10.582,91 ao fim de um ano,
considerando uma Selic de 8,5%. Pelas regras antigas, teria R$ 10.616,78. Isso
significa que ele perderá R$ 33,87.
À medida que a taxa
básica cair, a diferença entre a rentabilidade antiga da poupança e a da nova
se ampliará, sempre em prejuízo do pequeno poupador. Com uma taxa de 8,25%, por
exemplo, a perda de rendimento da caderneta, para a mesma aplicação de R$ 10
mil, sobe para R$ 50,81 ao fim de um ano.
Quem conhece de finanças
também tem outra convicção: o cenário mais provável é que os bancos lucrarão com
a tunga na poupança. Isso porque, a partir de agora, terão dinheiro mais barato
para emprestar na forma de crédito imobiliário – 65% dos depósitos em caderneta
são direcionados, por lei, a financiamentos habitacionais. E continuarão cobrando
por isso tão caro quanto cobram hoje.
Haverá também, do
lado de quem toma financiamento, o risco de descasamento entre o valor das parcelas
e a capacidade de pagamento. A alteração na regra de remuneração das cadernetas
também pode modificar a forma de definição dos juros da casa própria e as prestações
podem até subir. Os mutuários que se cuidem.
Tudo considerado,
fica o recado de que o governo terá de tombar os juros de qualquer jeito. Primeiro,
porque assumiu, implicitamente, este compromisso ontem, ao tentar justificar a
redução da remuneração das cadernetas de poupança. Segundo, porque, de fato, a
economia está necessitando disso.
A debilidade do
setor produtivo tem ficado cada vez mais evidente, como comprovado pela nova
queda na indústria, divulgada ontem: 3% no trimestre. O comércio exterior
também perde força: teve em abril o pior resultado para o mês desde 2002, isto
é, em dez anos. Como consequência, estão desabando as expectativas em torno do
crescimento da economia brasileira.
Todos, sem exceção,
somos a favor de juros mais baixos. A bola da queda das taxas está com o
governo, que começou cortando-a na cabeça do pequeno poupador. Não é possível
que os que sempre ganharam continuem com seus privilégios. Mas, por ora, eles permanecem
intocados pela gestão petista.
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