Nos últimos dias, Mendes
falou à Veja; reiterou sua versão aos
jornalistas que o procuraram no domingo, quando a revista começava a circular; voltou
a falar com repórteres anteontem em Manaus e, ontem, deu uma entrevista coletiva de
19 minutos, além de atender jornais em separado. Não parece nem um pouco
em dúvida de suas convicções.
“A gente está
lidando com gângsteres. Vamos deixar claro: estamos lidando com bandidos. (...)
O objetivo era melar o julgamento do mensalão. Dizer que o Judiciário está
envolvido numa rede de corrupção”, afirmou o ministro, quando foi abordado por
repórteres ao se encaminhar para uma sessão da 2ª Turma do STF.
As palavras de
Mendes fazem ou não sentido? Evidentemente. Desde que foi apanhado no escândalo
do mensalão, o gigantesco esquema de desvio de dinheiro público para comprar
apoio no Congresso, o PT bate na tecla de que age como os outros. Ou seja,
tenta nivelar a todos por baixo. Exatamente como agora, ao buscar arrastar também
o Supremo para a vala comum da escória.
Ao contrário do
arrojo de Gilmar Mendes, o outrora palavroso ex-presidente limitou-se até agora
a uma nota de 184 palavras emitida pelo instituto que leva seu nome. Microfones
a seu dispor não faltam. Mas, por que, afinal, Lula não fala?
Se nada disse ao
longo destes dias, o ex-presidente não se eximiu de sacar as armas de que dispõe:
conclamar, por meio de Rui Falcão, a militância petista a resistir às “manobras”
e, por intermédio de seus asseclas no Congresso, investir contra Mendes na CPI
do Cachoeira, como mostra hoje a Folha de
S.Paulo.
“Sem alarde, a CPI
do Cachoeira requisitou ontem à Polícia Federal as transcrições de todos os
diálogos envolvendo personagens com foro privilegiado captados nas operações
Vegas e Monte Carlo. A iniciativa, subscrita pelos deputados Cândido Vaccarezza
e Paulo Teixeira, é interpretada por integrantes da comissão como uma investida
do PT para constranger Gilmar Mendes. (...) Petistas o elegeram como novo alvo
das investigações.”
Por que, afinal, Gilmar
Mendes incomoda tanto os petistas? Porque a atitude do ministro do Supremo equivale
a pôr o dedo numa ferida que está exposta em várias dimensões, momentos e
situações, mas que, pela onipresença que vai tomando, às vezes começa a passar
despercebida: o achincalhe perpetrado pelo PT, Lula à frente, às instituições
da República.
Vale lembrar alguns
episódios em que o então presidente tentou desacreditar órgãos de fiscalização
e controle cuja função é zelar pelo bem público. Foi assim, por exemplo, com o
Tribunal de Contas da União, com o Ministério Público e até com repartições
ligadas à preservação do meio ambiente.
Sempre que se
interpuseram no caminho de alguma vontade de Lula, foram alvo do escárnio do
então presidente. O TCU foi acusado de retardar obras; o MP de proceder a
investigações incômodas; os órgãos ambientais de zelar até por “bagres” em
detrimento do interesse maior da marcha desenvolvimentista empreendida pelo PT.
Na realidade, o que
estas instituições estavam fazendo, assim como o grito de Gilmar Mendes agora
faz, é cuidar de impor algum freio ao desmesurado desejo de Lula e do PT de subverter
toda a ordem constituída a seu inteiro favor.
Há mais uma penca de
exemplos neste sentido: o uso de instituições públicas, como o BNDES, para
beneficiar empresas amigas e, em contrapartida, arrancar-lhes gordas doações,
como aconteceu em 2011; a montagem de uma rede de descarados propagandistas na
internet, também alimentada por polpudos patrocínios públicos; os conluios com
empresas favorecidas pelo PAC, como ficou evidente com a construtora Delta. E por
aí vai.
A imprudência de
Lula ao tentar chantagear Gilmar Mendes permite à sociedade brasileira defrontar-se,
mais uma vez, com esta escalada de ilícitos. Reabre a possibilidade de que se dê
um sonoro “basta” aos exageros e afrontas praticados pelo PT. Felizmente, este
acerto de contas está próximo. Com sua soberba, Luiz Inácio Lula da Silva acabou
fazendo um favor ao país: tornou inadiável o julgamento do mensalão e
a punição de seus réus pelo STF.
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