A presidente está gastando tempo precioso numa pantomima.
Todos, inclusive ela, já sabem que não há como fazer plebiscito a tempo de
vigorar já na eleição de 2014, mas Dilma persevera na proposta. É sua maneira
de tentar desviar o foco das insatisfações da cidadania e transferir a pressão
para o Congresso.
A impossibilidade de realizar a consulta popular no exíguo
prazo até 5 de outubro foi discutida ontem de manhã pelo vice-presidente da
República, ministros e líderes da base aliada. O consenso foi tamanho que tanto
Michel Temer quanto José Eduardo Cardozo manifestaram à imprensa a dificuldade
de cumprir o cronograma. Depois, tiveram que recuar.
Seguindo sua estratégia esperta, Dilma dobrou a aposta à
tarde. Durante cerimônia na Bahia, ela insistiu em defender a manifestação
imediata dos brasileiros em relação à reforma política. No mesmo momento, o PT divulgava
nota batendo na mesma tecla: quer não apenas plebiscito, mas também
constituinte – meramente para defender teses que só interessam ao partido, como
o financiamento público de campanhas e o voto em lista fechada.
Tanto a presidente quanto os petistas estão carecas de saber
que, por uma questão matemática, o plebiscito não sai a tempo de vigorar nas
eleições gerais do ano que vem. Mas querem posar de defensores da manifestação
popular, jogando para o Congresso a pecha de fechar-se ao clamor das ruas. Julgam-se
muito espertos.
Mas a verdade é que o Congresso não se nega a fazer as mudanças
necessárias no sistema político. Numa resposta rápida aos protestos, prepara-se
para dar fim ao voto secreto e demonstra disposição para implementar outras
alterações, como a adoção do voto distrital.
O Congresso tampouco se nega a submeter o assunto a consulta
popular. A população pode muito bem se manifestar se quer ou não manter o que
os parlamentares aprovaram por meio de um referendo.
Ontem, na Bahia, a presidente afirmou que não é “daquelas
que acreditam que o povo é incapaz de entender [o plebiscito] porque as
perguntas são complicadas”. Vale-se, novamente de esperteza. A questão não é se
as perguntas são ou não complicadas, mas que as respostas, complexas e
multifacetadas, não cabem no binário “sim” ou “não” que caracteriza as decisões
plebiscitárias.
Não dá para fazer um plebiscito – cujo custo é estimado em
R$ 2 bilhões – agora, de afogadilho, pretensamente para “responder” as ruas,
mas sem condições de valer nas eleições de 2014, frustrando as expectativas
populares.
É ainda menos lícito concentrar todas as energias do país,
incluindo-se governo, instituições e Parlamento, em algo que, definitivamente,
não é essencial na pauta dos brasileiros. Enquanto Dilma queima pestanas com
plebiscito sobre voto em lista fechada e outras excentricidades, a inflação
escala e chega a 6,7% nos últimos 12 meses, implodindo o teto da meta, como
informou o IBGE
há pouco.
Não adianta a presidente insistir na sua tese ladina de
desviar atenções enquanto o bate-cabeças que impera em seu governo mostra-se
cada vez mais sonoro e os problemas reais da população se avolumam. Ninguém mais
se entende e ninguém mais parece muito disposto a seguir as ordens da chefe. Acontece
que, agora, mais que nunca, ficou claro que a ações de Dilma Rousseff sempre se
orientaram pela esperteza. De tanta, acabou engolindo a dona.
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