Pesquisas de opinião publicadas no fim de semana trouxeram
um duro choque de realidade para a presidente: o povo que foi para as ruas
demonstra uma insatisfação disseminada, antes difusa, mas agora amplamente manifesta.
Dilma perdeu popularidade e também capital eleitoral. Seu futuro político turvou-se.
A avaliação positiva do governo da presidente caiu pela
metade, considerada a margem de erro do Datafolha,
em apenas 20 dias: era de 65% em março, desceu a 57% no início de junho e desabou
para 30% agora.
Foi a mais rápida queda de popularidade de um presidente da
República desde que Fernando Collor de Mello confiscou a poupança dos
brasileiros, em 1990. Dilma parece ter feito pior: confiscou a esperança do
povo.
A desaprovação a Dilma se expressa de forma específica e
concreta. Os brasileiros estão vendo com crescente ceticismo o futuro, as
perspectivas da economia e as chances de que a vida melhore. A avaliação
positiva da gestão econômica caiu de 49% para 27%. Mais pessoas acham que
a inflação e o desemprego vão subir e o poder de compra dos salários vai cair.
Ao resultado da pesquisa sobre a avaliação do governo,
publicada no sábado, se somou o de intenção de voto na eleição presidencial do
ano que vem, conhecido ontem. Nesta, Dilma perdeu 21 pontos: os que dizem pretender
votar pela reeleição dela somam hoje apenas 30%, ante 51% somente 20 dias antes.
Tudo considerado, temos uma demonstração inconteste de que a
população percebeu que está diante de um governo fantasma. Falta solidez à gestão
de Dilma, são rarefeitas as perspectivas positivas em razão do pouco que a
presidente conseguiu construir nestes 30 meses até agora. O percentual dos que
consideram sua gestão “ruim” ou “péssima” passou de 7% em março para 9% no
início de junho e quase triplicou agora, para 25%.
Quem parar para pensar vai ver que este é um governo que
praticamente não existiu. Dilma foi eleita vestida na fantasia de competente
gestora que iria fazer e acontecer. Sua experiência pregressa
como “mãe do PAC” não fornecia razões para acreditar em tamanha fabulação, mas o
marketing excessivo cuidou de resolver as coisas.
Já no cargo, a presidente deixou de lado a fantasia e
encampou um novo figurino: o de “faxineira” da ética. Gastou seu primeiro ano pondo
nada menos que sete ministros para correr, varrendo para debaixo do tapete a
sujeira que recebera de herança de Lula e com a qual ela mesma colaborara,
ainda na condição de ministra-chefe da Casa Civil.
O segundo ano foi de intenso bate-cabeça, com a presidente
tomando decisões e logo voltando atrás, fazendo e desfazendo. Ministérios
importantes como o dos Transportes simplesmente travaram. Até deliberações corretas,
como a das privatizações de infraestrutura, consumiram meses de titubeio. Por isso,
até hoje continuam sem sair do papel.
Na gestão da economia, Dilma deixou corroer a credibilidade
que o país passara anos construindo. Permitiu o desmonte da política fiscal
responsável, liberou a criatividade da equipe econômica e, pior de tudo,
tratou a inflação como bichinho de estimação.
Quando os problemas começaram a se revelar, Dilma
simplesmente lançou-se em sua campanha reeleitoral, acreditando que poderia
empurrá-los com a barriga até que o segundo mandato estivesse no papo. Fiava-se
nos seus altos patamares de popularidade.
Constata-se que Dilma gastou tempo precioso do país num
projeto vazio. Cuidou, tão somente, de tentar preservar seu capital eleitoral,
sem dedicar-se a resolver os problemas da população. Mostrou, sentada na
cadeira da presidência da República, o pouco ou nenhum tino que possuiu para
lidar com um país com as dimensões do Brasil.
A petista ainda tem um ano e meio pela frente. Se pelo menos
dedicar-se a evitar que a situação do país se degringole ainda mais, já
prestará um grande serviço aos brasileiros. Se continuar agindo como agiu até
hoje, Dilma Rousseff arrisca-se a passar para a história como a presidente que
mais mal fez ao Brasil. O país do futuro ficará atado ao passado.
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