O plebiscito é a mais nova das ideias presidenciais a ir
para o lixo da história. Apresentada como plano B depois que a proposta de uma
constituinte para mudar o sistema político morreu antes de completar 24 horas
de vida, a consulta à população feita a toque de caixa não tem a mais remota
chance de prosperar.
Apenas o PT se interessa pelo plebiscito tal como proposto
por Dilma. Por razões óbvias: o escopo das mudanças sugeridas não atende aos
clamores por melhor representação popular – de resto, quase inexistentes entre
as palavras de ordem ouvidas nas ruas – mas visa, isto sim, cimentar a força
dos partidos no poder, como é o caso dos petistas.
Além do PT, somente o PCdoB estaria propenso a topar o
plebiscito, segundo a Folha de S.Paulo
– mas, desde que se contentou em ser mero satélite do projeto lulista, o
partido deixou de ter relevância. O Globo
diz que, além dos dois, também o PDT toparia a parada. E mais ninguém.
Em contrapartida, partidos aliados, como o PMDB, já começam a
abraçar propostas apresentadas pela oposição como respostas às ruas. É o caso
da diminuição do número de ministérios e do gigantismo do Estado, do aumento de
verbas para a saúde e da desconcentração de recursos para estados e municípios.
Esta é uma agenda que interessa às pessoas e difere bastante das ideias vãs boladas
por Dilma.
Sempre que foi pressionada, a presidente não conseguiu agir
à altura do cargo que ocupa. No auge dos protestos de junho, depois de uma
quinta-feira em que a multidão esteve próxima de atingir o Palácio do Planalto,
ela respondeu com um pronunciamento à nação que é candidato a um dos mais
decepcionantes da história.
Em seguida, produziu um discurso em que apresentou à
sociedade uma pauta que primou pela veleidade: lá estavam tanto a constituinte,
quanto o plebiscito, bem como outros quatro “pactos” tão vazios de conteúdo que
é preciso esforço redobrado para lembrar-se do que mesmo eles tratavam.
Para refrescar a memória: tratavam de saúde, de educação, de
mobilidade e de responsabilidade fiscal. Mas poderiam versar sobre quaisquer
outros assuntos, tão descoladas estão as propostas feitas pela presidente de
suas realizações no cargo.
Para enfrentar a questão do mau atendimento médico, Dilma
sugere importar profissionais estrangeiros, pagando-lhes um salário que aos brasileiros dificilmente é pago. A resposta veio rotunda ontem na forma de
dezenas de manifestações da categoria pelo país.
Dilma também propôs como parte do pato, oops, do pacto, um
esforço para melhorar a estrutura hospitalar e de postos de saúde do sistema público.
Vejamos, contudo, o que sua gestão produziu a respeito.
Como candidata, ela havia prometido fazer 500 UPAs e 8 mil
UBSs. Já como presidente, reduziu bastante a ousadia da meta, para 269 UPAs e
7.557 UBS. E o que aconteceu nos dois primeiros anos de seu governo? Foram
abertas apenas 12 UPAs (4,4% do total) e 434 UBSs (6%). Estes números não são
da oposição; são do mais recente balanço do PAC.
Na mobilidade urbana, a presidente apresentou mais uma
portentosa cifra: aplicar R$ 50 bilhões na melhoria dos transportes. Mas, na realidade,
o valor prometido é o mesmo já reservado no PAC, o mesmo que o governo federal simplesmente
não consegue investir: apenas 8% da dotação orçamentária foi efetivamente paga
nos dois anos da gestão Dilma, que agora se alvoroça em torrar uma montanha de
dinheiro no trem-bala...
As propostas da presidente quanto à austeridade fiscal estão
entre as mais levianas da história. Neste curto período desde que as apresentou como
um dos cinco “pactos”, o governo Dilma já voltou a vilipendiar as contas
públicas, por meio de novos malabarismos com os recursos do BNDES e de bancos
públicos. O tamanho da encrenca é assustador: nos últimos anos, o Tesouro transferiu
o equivalente a 8,3% do PIB para o BNDES, que dali distribuiu o dinheiro para
empresas como as do agora falido Eike Batista.
Dilma Rousseff mostrou, nos últimos dias, que não consegue
se mover fora do universo confortável que o marketing lhe constrói. A presidente
parece ter apostado que bastaria empurrar os problemas com a barriga, enquanto
enganava a população até obter um novo mandato. O mais provável agora é que,
junto com suas propostas vazias, ela também seja varrida, pela vontade popular,
para o lixo da nossa história.
Nenhum comentário:
Postar um comentário