Dilma Rousseff praticamente
se livrou da taça ontem na cerimônia de premiação da campeã Alemanha, na tentativa
de evitar vaias e apupos. Mesmo levando três segundos para passá-la às mãos do
capitão Philipp Lahm, não conseguiu.
Com a mesma velocidade, o governo petista quer
agora dar um jeito de virar a página da Copa do Mundo, decretando seu sucesso
absoluto. Devagar com o andor: política, como futebol, não se ganha no grito. A
“Copa das Copas” não aconteceu.
O Mundial realizado
novamente no Brasil depois de 64 anos teve muito de positivo. Mas,
principalmente, pelo que ocorreu dentro das quatro linhas dos gramados. O sucesso
decorreu especialmente do futebol organizado, planejado e globalizado jogado pela
maior parte das 24 seleções que vieram disputar a taça.
É deste futebol
vencedor que o governo petista agora quer afastar nossos bons jogadores, com
sua proposta de criar barreiras para impedir a exportação de talentos para o
exterior.
Seria uma maneira, segundo disse a presidente na semana passada, de
encher estádios – os mesmos que estão fadados a se tornar uma manada de
elefantes brancos em virtude da megalomania exibida pelos petistas na organização
da Copa.
Trata-se de mesma
visão isolacionista e intervencionista que marca muitos aspectos da atual
gestão. Tal vezo colide com a constatação de que um dos motivos de a Copa ter
tido futebol tão exuberante e equilibrado foi o fato de todas as seleções serem
predominantemente formadas por jogadores que disputam alguns dos mais
competitivos campeonatos nacionais e regionais na Europa. Já pensou se nossa
seleção só pudesse contar com as estrelas do Brasileirão?
Bons resultados
também foram notados em relação à organização do torneio, à realização das
partidas e dos eventos paralelos. Neste caso, deve-se muito ao esforço de
milhares de brasileiros, à simpatia e hospitalidade de outros tantos e à participação
de diversas esferas de governo espalhadas em 12 cidades-sede. Querer
atribuir-se senhor absoluto deste êxito, como tenta fazer o governo federal, é
gol de mão.
Pior ainda é tentar,
usando todos os seus poderosos instrumentos de propaganda, decretar no grito
que tivemos a “Copa das Copas”. Entre uma bela Copa e uma Copa perfeita, vai
distância tão grande quanto a que separa o futebol vencedor jogado pelos
alemães da bolinha batida pela seleção do agora ex-técnico Luís Felipe Scolari.
O Brasil foi
escolhido em outubro de 2007 para sediar o torneio. Nestes quase sete anos,
teve todas as condições de transformar a oportunidade de abrigar uma Copa num
motor de realizações, numa usina de produção de benefícios duradouros para a
população brasileira. Os resultados não passam nem perto disso.
Os balanços da Copa devem
se basear no cotejo entre aquilo que o governo se comprometeu a fazer e o que efetivamente
fez até o torneio. O levantamento mais completo é o que foi feito pela Folha de S.Paulo no primeiro dia em que a bola rolou nos gramados
brasileiros.
Dos 167 compromissos
assumidos em 2010, apenas 53% foram finalizados a tempo do Mundial. Outros 41%
estavam incompletos e seriam concluídos durante ou, na maior parte dos casos,
depois da Copa. Um mês antes, também a Folha
havia apontado que somente 10% das obras de mobilidade prometidas haviam sido concluídas.
A promoção do
torneio custou mais caro que o previsto, chegando a R$ 26 bilhões, dos quais
84% saíram de cofres públicos via orçamentos ou linhas de crédito liberadas por
instituições federais, segundo o Valor Econômico. Os gastos especificamente com estádios triplicaram em relação
ao informado à Fifa.
Para garantir melhor
desempenho durante o torneio, a organização brasileira também teve que se valer
de esquemas especiais, como a escalação de homens do Exército para policiar
vias públicas ou a decretação de feriados para esvaziar as metrópoles em dias
de jogos. Teve, portanto, que recorrer ao improviso.
Passada a Copa do
Mundo, cabe ao governo de turno responder por que não entregou o que prometeu.
Cabe, ainda, explicar à população os motivos de ter feito tanto esforço para
bem atender o público internacional durante 32 dias de festa e não exibir a
mesma dedicação cotidiana para tornar o dia a dia de 200 milhões de brasileiros
melhor. O fim dos jogos é só o início desta prestação de contas.
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