Não deixa de ser
positiva a iniciativa de Brasil e mais quatro países de criar instituições que
atendam a interesses dos chamados Brics, o acrônimo com que o mundo financeiro
batizou o grupo emergente formado também por Rússia, Índia, China e África do
Sul. Pelo menos sugere que nossa política externa ensaia deixar o estado de
estupor em que mergulhou nestes últimos anos.
O risco, contudo, é
de que a investida que resultou na criação do Novo Banco de Desenvolvimento e de
uma reserva de contingência de US$ 100 bilhões para socorrer economias em
apuros não passe de mais um lance de megalomania. Nossa diplomacia tem se
mostrado mais afeita a lances mirabolantes do que a produzir resultados efetivos.
Algo sugere que o
gosto por holofotes e por uma grandiosidade artificial se fez presente nestes dois
últimos dias em Fortaleza. Guido Mantega, por exemplo, acha
que o acordo entre os cinco países supera Bretton Woods, o concerto entre 45
nações que sucedeu o fim da Segunda Guerra e resultou na criação de instituições
como o FMI e o Banco Mundial. Sabemos o valor que as opiniões de nosso ministro
da Fazenda têm...
O governo brasileiro
se viu vencido em suas pretensões de presidir o novo banco, preterido em favor
da Índia. Ficou com o prêmio de consolação: ocupará a presidência do conselho
de administração – que, esperamos, seja exercida com mais zelo do que o
empenhado por Dilma Rousseff quando ocupou a mesma função na Petrobras...
O tal banco surge
com dimensão modesta, quando comparada à de instituições de fomento similares
já existentes. Terá capital de US$ 50 bilhões para financiar projetos de
infraestrutura nos países-membros, enquanto só o BNDES dispõe de US$ 334 bilhões
e o Banco Mundial, de US$ 324 bilhões.
Espera-se que o
banco de fomento internacional não nasça e prospere com os vícios que hoje
marcam a atuação do nosso BNDES, atualmente mais afeito a distribuir
privilégios definidos por Brasília do que a executar políticas voltadas ao
desenvolvimento horizontal do nosso setor produtivo.
É preciso estar
atento, ainda, aos riscos de, sob alegação de querer suplantar “tudo o que está
aí”, o novo banco de desenvolvimento dos Brics não seja tão criterioso na
cobrança de condicionalidades ambientais para a concessão de empréstimos – como
é, por exemplo, o Banco Mundial.
Quanto aos efeitos
sobre a nossa política externa propriamente dita, a investida junto aos Brics
contrasta com os quase quatro anos de inação de nossa diplomacia, depois de
oito anos de hiperatividade exibicionista. Tal política nos valeu, inclusive,
perda de espaço para os mesmos parceiros que ora se juntam para criar as novas
instituições anunciadas em Fortaleza.
Nos últimos cinco
anos, o Brasil mais comprou do que vendeu da China, da Índia, da Rússia e da África
do Sul. Para os chineses, as exportações cresceram 111% e as importações, 171%
entre 2009 e 2014; para os indianos, 102% e 281%, respectivamente; para os
russos, enquanto as vendas subiram 18%, as importações aumentaram 238%. Para a
África do Sul, as exportações caíram 7% no período e as importações subiram 83%,
mostrou a Folha de S.Paulo na semana passada.
Se a investida junto
aos Brics não for apenas um lance de oportunismo, terá valido a pena, por
romper o isolacionismo que tem levado o Brasil a perder de goleada no plano
internacional. Como tudo em política externa, os prazos a serem cumpridos são
longos. A ver se a cúpula de Fortaleza não terá sido só um bric-à-brac que
junta intenções díspares, excessivas e, não raro, de mau gosto.
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