Até algum tempo
atrás, a indústria brasileira se equilibrava numa gangorra entre altos e
baixos. Ia mal, mas entre um tombo e outro respirava. Agora, a via é de mão única:
ladeira abaixo. Só não dá para saber ainda onde está o fim da ribanceira.
Ontem, o IBGE
divulgou os números referentes à produção industrial brasileira em maio. Pelo terceiro
mês consecutivo, o setor encolheu. A queda aconteceu tanto na comparação com o
mês anterior quanto em relação ao mesmo mês do ano passado.
Desde o período
entre agosto e outubro de 2011, a indústria não registrava três baixas seguidas.
Mas tudo indica que vêm mais quedas pela frente. A julgar pelos primeiros
indicadores antecedentes – como consumo de energia, vendas de varejo e estoques
acumulados – deve ter havido nova retração no setor em junho.
Aos números de maio:
queda de 0,6% em relação a abril; de 3,2% na comparação com maio de 2013 e de
1,6% quando cotejado o período de janeiro a maio com os cinco primeiros meses
do ano passado. Em 12 meses, a indústria ainda acumula alta de 0,2%, que deve
virar fumaça em breve.
Decompondo-se os
resultados, percebe-se que, de um lado, o consumidor parou de comprar bens de
maior valor (os chamados duráveis), como automóveis. De outro, os empresários
puxaram o freio de mão dos investimentos, esfriando a produção de máquinas e
equipamentos, que caem quase 6% no acumulado neste ano.
Dos dois lados falta
um elemento essencial para que uma economia funcione a contento: confiança. O país
parece em compasso de espera aguardando para ver o que a eleição presidencial
nos reserva. Se prevalecer mais do mesmo, o caldo da economia corre risco de entornar
de vez.
A indústria
brasileira produz hoje nos mesmos níveis de 2008. Ou seja, lá se vão seis anos
perdidos – nos últimos oito meses, desde outubro de 2013, a retração acumulada já
chega a 4,5%. É muito tempo para um país como o Brasil – que não tem mais tempo
a perder – desperdiçar.
A crise da indústria
brasileira se faz sentir na pele. Nos últimos três anos, 230 mil empregos foram
eliminados no setor. Só em maio passado, 28 mil vagas de trabalho industrial foram
fechadas, segundo dados do Caged.
Já se dá de barato
que a produção da indústria brasileira diminuirá neste ano. O acumulado de
desempenhos ruins deságua no resultado geral da economia: com o setor
industrial em crise e outros segmentos, como consumo e varejo, em ritmo de
paradeiro, o PIB tende a encolher no segundo trimestre.
O governo parece
atônito. Limita-se a lançar medidas pontuais que ora já não produzem sequer
cócegas. Na indústria, por exemplo, foram perto de duas dezenas de pacotes e
pacotinhos apenas na gestão Dilma – o mais recente deles a suspensão da alta do
IPI de automóveis e a perenização da desoneração das folhas de pagamento de alguns
setores. O resultado é o que estamos vendo: nenhum.
A triste realidade é
que o produto nacional tornou-se caro, perde mercado interno e não consegue mais
avançar no exterior. A sufocante carga tributária e a incúria com nossa
infraestrutura – hoje em frangalhos, também em razão da longa e eleitoreira
resistência ideológica do atual governo a investimentos privados – minaram
ainda mais nossa capacidade de investir e competir.
Além disso, o
governo petista fez uma opção equivocada, calcada no aumento de consumo e voltada
preferencialmente para o mercado interno. Demos as costas para o mundo e nos
alijamos de cadeias globais de produção. A saída é outra: é mais abertura,
maior integração e mais comércio com o resto do globo. O isolamento imposto ao
país está matando a indústria brasileira.
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