Sem surpresa, o Comitê
de Política Monetária do Banco Central decidiu ontem manter a taxa básica de
juros em 11% ao ano. É o suficiente para conservar o Brasil na inglória
condição de país que pratica a mais alta taxa real entre todas as economias do
planeta. Este campeonato ninguém gostaria de conquistar.
Foi a segunda vez consecutiva
que a Selic foi mantida nos patamares atuais. O BC sinalizou, porém, que pode
alterar seu comportamento na reunião prevista para o comecinho de setembro. A
decisão de ontem, segundo comunicado oficial emitido após a reunião, limita-se apenas
a “este momento”.
A próxima decisão
acontecerá poucos dias depois de o IBGE divulgar os resultados do PIB no
segundo trimestre, que muitos não descartam que poderá ser negativo – de acordo
com a prévia do BC divulgada
nesta manhã, o crescimento acumulado em abril e maio foi nulo.
Segundo analistas,
há duas hipóteses para quando setembro vier: aumento dos juros em função de
novas altas da inflação ou redução da taxa em razão do esfriamento da economia.
De todo modo, a
manutenção dos juros nos patamares atuais consolida o Brasil como a pátria dos
juros altos, título que reconquistamos no fim do ano passado e parece que ainda vamos conservar por muito
tempo. Segundo levantamento feito pela consultoria Moneyou,
a taxa brasileira está em 4,2%, já descontada a inflação projetada para os
próximos 12 meses.
Curiosamente, as três
posições seguintes são ocupadas por parceiros brasileiros nos Brics: China
(3,4%), Índia (2,3%) e Rússia (1,5%). Para este clube, não há banco de fomento
ou fundo de socorro que dê jeito... Das 40 economias acompanhadas pela Moneyou,
o Brasil está entre as 16 que praticam taxas positivas. Nas demais, o juro
nominal é mais baixo que a inflação projetada.
Esta ingrata condição
joga por terra mais uma das promessas da presidente Dilma Rousseff. Em 30 de
abril de 2012, ela ocupou cadeia
nacional de rádio e televisão para prometer a redução dos juros. Jogou os
bancos públicos na cruzada, apostando que forçaria o resto do sistema bancário
a acompanhá-los.
Como Dilma é uma
economista apenas bissexta, seus fundamentos não batem com a realidade. Juro
não cai à base de voluntarismo, ainda mais num país em que o governo não só não
controla como aumenta seus gastos, como ocorre na gestão petista.
O resultado é que,
depois de nove altas consecutivas entre abril de 2013 e abril de 2014, tanto a Selic
quanto as taxas das demais linhas de crédito estão hoje mais altas do que
no início do mandato da presidente, como ilustrou a Folha de S.Paulo no sábado.
O juro alto é o
remédio amargo que sobrou para os formuladores da nossa política monetária em
função da inflação persistentemente alta no país – turbinada também pelo
tarifaço previsto
para a energia. Os prognósticos quanto aos índices de preços e ao aumento da
carestia continuam sombrios, solapando a confiança de consumidores e
empresários, de indústria e comércio.
O temor é
disseminado. Pesquisa encomendada pela Fiesp e divulgada hoje por O Globo mostra que 69% da população brasileira considera que houve
grandes aumentos de preços nos últimos seis meses. 73% das pessoas ouvidas avaliam
que a política econômica do governo é a responsável pela elevação dos preços.
A realidade é que o
Brasil vê-se hoje aprisionado na armadilha do baixo crescimento e da inflação
elevada, temperada também pelos juros altos. Este coquetel indigesto só tem
como ser superado por uma política econômica responsável que trate as contas
públicas com zelo e transparência, empreenda firme esforço para reduzir a
dívida pública e não transija no combate à carestia. Menos que isso é só pantomima
ensaiada para pôr na propaganda de TV.
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