Há exatos 20 anos
entravam em circulação as cédulas e moedas do real, a nova moeda lançada como
mais uma tentativa de debelar uma hiperinflação que teimava em não dar trégua
por aqui. Sob o comando do presidente Itamar Franco e com a liderança do então
ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, o Plano Real conseguiu restituir
aos brasileiros a confiança na sua moeda. Esta conquista não tem preço.
Desde a
redemocratização, já haviam sido tentados pelo menos seis planos de estabilização (Cruzado I e II, Bresser, Verão, Collor I e II),
mas todos haviam redundado em fracasso. Com o real, finalmente, a história foi
diferente. O plano triunfou por pelo menos duas de suas características: a
engenhosidade que marcou a transição da antiga (o cruzeiro real) para a nova
moeda e a transparência com que todas as mudanças foram implementadas.
O processo começou
ainda em junho de 1993, um ano antes da estreia da nova moeda, com o anúncio de
um plano de ajuste fiscal. A ele, seguiram-se cortes para equilibrar o
Orçamento da União e, a partir de fevereiro do ano seguinte, a paulatina
migração da antiga para a nova moeda. Tudo feito com previsibilidade, pondo fim
a um histórico de pacotaços baixados do dia para a noite ao longo de anos de
história econômica no Brasil.
Quando a nova moeda
estreou, a inflação estava em 47,4% ao mês, o que, anualizado, equivaleria a
10.420%. Parece assombroso – e era! Mas já havia estado pior: no mês da posse
de Fernando Collor de Mello na presidência da República, em março de 1990, a
inflação chegara a bater em 80% ao mês. Um país com características assim não
tinha a menor chance de dar certo.
Com o Plano Real, o
IPCA baixou de 2.477% em 1993 para 916% no ano de lançamento da nova moeda. A
inflação foi caindo progressivamente até chegar ao piso de 1,65%, o menor da
história, registrado em 1998. Fernando Henrique deixou o governo com o custo de
vida variando 12,5%, num repique decorrente dos temores gerados pela
expectativa de vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais
de 2002.
Passados 20 anos, é
triste constatar que a inflação voltou a ocupar o lugar de maior fonte de preocupação
dos brasileiros, temorosos de perder uma conquista que sabemos tão árdua.
Pesquisas de opinião como a do Pew Research mostram que 85% dos entrevistados apontam a alta de preços como
principal problema do país atualmente. Já o Ibope
indica que 71% desaprovam as políticas de combate à inflação postas em marcha
pela gestão Dilma.
Este ano, pelo
quinto ano seguido, a inflação deverá triscar o limite superior de variação
permitido pelo regime de metas – 6,5%. Em 10 dos 41 meses da gestão Dilma
transcorridos até agora, o IPCA ultrapassou o teto da meta.
Os preços de itens
básicos, como alimentos, são os que mais sobem, numa média de 9% há cinco anos.
Com os serviços, acontece o mesmo. Não há um descontrole evidente, mas há uma
perigosa convivência com índices constantemente elevados à qual o governo
petista parece dar de ombros.
Entre os países do
G-20, apenas seis (Argentina, África do Sul, Índia, Indonésia, Rússia e
Turquia) exibem atualmente inflação mais alta que a brasileira. Entre as 26
nações que adotam regimes de metas, somente três (Gana, Indonésia e Turquia)
têm índices de preço mais elevados que o nosso. Não são propriamente as
melhores companhias com as quais o Brasil deveria figurar...
O maior receio dos
brasileiros hoje repousa na pouca preocupação que a gestão do PT parece
depositar sobre a alta generalizada de preços. Prevalece entre os petistas a
crença de que um pouco mais de inflação não faz mal porque, segundo esta
distorcida visão, ajudaria a impulsionar o crescimento da economia nacional.
A realidade é que a
leniência petista em relação à inflação resultou na pior das equações: baixo
crescimento – o menor da América do Sul – e inflação persistentemente alta.
Passados 20 anos da mais importante conquista obtida pelos brasileiros na
história recente, nos vemos novamente às voltas com uma agenda que parecia superada
há muito tempo.
O Brasil precisa de
uma nova rodada de reformas estruturais para retomar o caminho do
desenvolvimento do qual se desvirtuou. É difícil conseguir isso com os atuais
governantes – uma vez que, não custa lembrar, o PT foi uma das poucas forças políticas
que ficou contra o Plano Real e, anos depois, também foi às raias do Supremo Tribunal
Federal lutar contra a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Experimentamos hoje
uma política esquizofrênica: ao mesmo tempo em que aperta os juros, o governo
mantém frouxo o controle sobre os gastos públicos, que continuam em forte alta.
Tal receita, apregoada pela “nova matriz econômica” petista, definitivamente
redundou em fiasco. O que o país precisa é de uma política consistente contra a
inflação, a ser tratada com tolerância zero. Desta conquista, os brasileiros
não abrem mão.
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