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Quase metade dos
oito minutos e 23 segundos do pronunciamento que deveria servir para comunicar
a redução das tarifas de energia foi destinada a atacar os que fazem críticas à
forma como a medida foi tomada pelo governo federal ou levantam preocupações quanto
ao suprimento energético num momento em que os reservatórios das usinas do país
encontram-se em níveis historicamente baixos.
Nesta corrompida
visão, à qual o marketing do PT lança mão principalmente em momentos em que se
vê mais acuado, o país foi dividido entre “nós” e “eles”, entre os “a favor” e os
“do contra”. É a versão petista do “Ame-o ou Deixe-o” celebrizado pela ditadura
militar na década de 1970.
Dilma foi eleita
para governar para todos os brasileiros, mas comportou-se como líder de facção.
Repetiu, em todos os atos e com todas as letras, seu tutor, Luiz Inácio Lula da
Silva – que, aliás, promete encontrar-se hoje em São Paulo com a presidente
para ditar-lhe rumos para seu governo, assim como já fez com outro poste
petista, o prefeito da capital paulista.
A rede nacional de
rádio e televisão foi convertida por Dilma e seus marqueteiros em comício de campanha.
Vinte e um meses antes da próxima eleição, na qual sua participação ainda não é
dada como certa nem por parte dos petistas, a presidente fez proselitismo
político, prometeu o que não pode garantir – a ausência de risco de
racionamento – e anunciou uma medida que, mais uma vez, se vale de malabarismos
contábeis para parar em pé.
Para a Folha de S.Paulo, em editorial na edição de hoje, Dilma manifestou-se “com um
triunfalismo que não encontra respaldo na realidade”, usando o espaço
institucional para “criticar, com uma agressividade inusual,” os que não lhe
dizem amém.
Também em editorial, O Globo avaliou que a presidente fez “exploração política da questão da
energia” e empregou “um tom apelativo, beirando o sentimento de patriotismo a
que governos autoritários militares recorriam com frequência”. Já O Estado de S.Paulo não tem dúvidas do caráter eleitoreiro da atitude da
presidente: em cadeia nacional, Dilma “discursou como se estivesse em um
palanque”.
A propaganda – oops,
o pronunciamento – de Dilma fez constar em letras garrafais que não haverá “nenhum
risco de racionamento” de energia no país, algo que nem São Pedro pode garantir,
muito menos com base na incômoda situação em que se encontram os reservatórios brasileiros
neste momento.
Nem mesmo a expansão
da oferta de energia assegurada pela presidente pode ser dada como certa. Em cadeia
nacional, ela anunciou acréscimo de 8,7 mil megawatts em 2013, o que equivale a
mais que o dobro da média anual verificada na última década. Além disso, um
terço do que ela promete são obras atrasadas que já deveriam estar em operação,
como mostra hoje a Folha.
Não bastasse o
caráter eleitoreiro do pronunciamento oficial e a inconsistência de cenários e dados
apresentados à nação, confirmou-se ontem que a redução das tarifas de energia será
viabilizada por mais uma operação temerária com dinheiro do contribuinte, ancorada
em mais uma criativa manobra contábil.
Para honrar o corte nas
tarifas, o Tesouro terá que aportar R$ 8,4 bilhões e não R$ 3,3 bilhões, como
já se especulava. Para tanto, será preciso antecipar recursos a
receber de Itaipu, emitir títulos da dívida pública e transferi-los ao BNDES. Em suma, consumir
receita futura para financiar despesa corrente, com aumento da já alta dívida
bruta, como analisa Mansueto Almeida em seu blog.
O governo nem sabe
ao certo como fará isso. “De onde o Tesouro vai tirar o dinheiro é um problema
do Tesouro”, desdenhou o ministro que deveria cuidar do setor de energia, mas não quer nem saber quem pagará
a conta. A gestão petista também não faz ideia de quanto terá que desembolsar
para bancar a redução tarifária – as estimativas divulgadas ontem vão só até
2014; depois disso, seja o que Deus quiser.
A redução dos custos
de energia merece todo o apoio, porque busca atenuar pelo menos parte das deficiências
e ineficiências de infraestrutura que grassam no país, contra as quais a gestão
Dilma pouco tem feito. Mas, desde o primeiro instante, ficou claro que à administração
petista importa menos o interesse nacional e muito mais os dividendos eleitorais.
São atitudes recorrentes de um governo de trevas.
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