Os preços da
gasolina e do diesel vêm sendo manipulados há anos para evitar altas maiores na
inflação – sem muito sucesso, diga-se de passagem. Estima-se que a defasagem em
relação aos preços internacionais seja atualmente de 16% no caso da primeira e de
23% no do segundo, conforme estimativa
do Centro Brasileiro de Infraestrutura.
Isso causa um
tremendo rombo nas contas da Petrobras e compromete o plano de investimentos da
companhia (de US$ 236 bilhões até 2016), com consequências daninhas, por
exemplo, para a expansão da oferta de derivados no mercado nacional. Hoje, a
estatal paga pelo combustível que é obrigada a importar para suprir a demanda
interna mais do que cobra dos consumidores finais.
O reajuste previsto até
agora cobrirá apenas parte da diferença. Especula-se que o aumento ficará em
torno de 7%, percentual que autoridades do Ministério da Fazenda consideram “plausível”.
A justificativa é que, se a elevação for maior que esta, a inflação poderia
sair do controle. Equivale a dizer que, se soprar, a casa cai.
O “jeitinho” custa
caro à Petrobras, mas cobra preço ainda maior na forma da total desorganização que
causou ao setor de combustíveis no país. Hoje, o Brasil tornou-se dependente de
importação não apenas de gasolina, mas também de etanol, do qual até pouco
tempo atrás era tido como produtor imbatível.
Em 2012, os gastos
com importação de gasolina cresceram 82% na comparação com o ano anterior e o
volume de etanol comprado lá fora cresceu 57%. Foram adquiridos 3,78 bilhões de
litros de gasolina, que fizeram o país torrar US$ 2,9 bilhões, e 3,1 bilhões de
litros de etanol, informou a Folha de S.Paulo na terça-feira.
O setor de combustíveis
serve para ilustrar a ingerência excessiva do governo na atividade econômica e
os desequilíbrios que daí advêm. A manipulação dos preços acabou gerando uma inflação
reprimida que, agora, a gestão petista busca contornar por meio de malabarismos
de toda sorte, que o Financial Times ironizou como “jeitinho monetário”.
Neste ambiente, o
governo federal agora tem de apelar a estados e municípios – como no caso da
postergação dos reajustes das passagens de ônibus em São Paulo e no Rio – para que
as práticas capengas de Brasília não descambem. Mais uma vez, as finanças
subnacionais são chamadas a pagar a conta dos desequilíbrios cometidos pelo poder central.
“Os truques,
adiamentos, defasagens e subsídios criam uma inflação reprimida. Como sabemos,
não adianta esconder, negar, varrer para debaixo do tapete porque a inflação
sempre aparece. (...) Como aprendemos dolorosamente, em economia não dá para
apenas quebrar o termômetro”, escreve Miriam Leitão n’O Globo.
Vai ficando claro
que as autoridades do governo Dilma Rousseff já não dispõem de instrumentos
eficazes de gestão da economia e, mais especialmente, de controle da inflação. O
histórico de improvisos cobra agora seu preço. Ter agido assim ao longo de
tantos anos, a despeito dos muitos alertas em contrário, equivaleu a atiçar gasolina
no fogo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário