O temporal de más notícias
deste verão veio embalado na ameaça cada vez maior de que o país tenha que sofrer
um racionamento de energia neste ou no próximo ano – quando, para piorar, ainda
haverá a Copa do Mundo. O Brasil está atualmente no fio da navalha,
equilibrando-se entre uma demanda que não para de crescer e uma oferta que não
corresponde ao que o governo prometera.
Os reservatórios das
principais regiões produtoras de hidroeletricidade iniciaram janeiro no menor nível
dos últimos 12 anos: 28,9% da capacidade, abaixo do registrado em igual período
de 2001, ano em que o país teve de lidar com a falta de energia em razão da
falta de chuvas. Será preciso cair muita água do céu nas próximas semanas para que
as perspectivas se desanuviem.
Atualmente, as
usinas hidrelétricas e térmicas estão gerando energia no limite de suas capacidades.
Não há qualquer folga, o que indica um péssimo planejamento no setor. Especialistas
como Mario Veiga calculam em pelo menos 9% o risco de o governo decretar um racionamento
daqui a quatro meses – o dobro do percentual considerado aceitável nos modelos
oficiais.
Entre as razões para
o risco de faltar energia, está o deficiente planejamento do governo para o
setor, cuja concepção atual é toda da lavra da então ministra de Minas e
Energia de Lula, Dilma Rousseff. Como se tornou comum no governo do PT, boa parte
das obras prometidas não sai do papel.
O comitê oficial que
monitora o setor já reconheceu que 55% das obras de geração estão atrasadas – em
média, sete meses em relação ao prazo contratual – e 76% das obras de
transmissão têm atraso médio de 15 meses. Para complicar, obras já prontas,
como parques eólicos na Bahia, não conseguem produzir porque faltam linhas para
transmitir a energia.
A primeira vítima desta
incúria são os consumidores. Com a escassez, a operação do sistema elétrico
nacional tem tido que recorrer a fontes de energia mais caras, como a gerada
pelas térmicas, e os preços no mercado vêm disparando. A consequência virá nas
contas de luz: parte da redução prometida pelo governo não acontecerá.
Segundo publicou o Valor Econômico na semana passada, “até o momento, dois pontos da queda
prometida de 20% nas contas já foram tolhidos pelo alto custo da geração
térmica. Até março, mantidas as condições meteorológicas atuais, esse impacto
poderá chegar a cinco pontos”. Além disso, o governo já admitiu que as tarifas poderão
subir até 3% em 2014 apenas em função do maior acionamento das térmicas.
Além de trazer uma conta
mais salgada para os consumidores residenciais, a atual crise energética também derrubou a confiança dos empresários. Eles já não creem que poderão contar
com um fornecimento firme de energia para fazer frente a seus planos de
investimentos.
A maior parte das
grandes empresas já trabalha com a possibilidade de um “racionamento branco”,
ou seja, a redução voluntária de consumo para evitar a escuridão total. Com menos
energia, é certo que produzirão menos e o país crescerá menos.
A presidente Dilma
acha que consegue mudar o ânimo dos frustrados empreendedores no gogó. Desde
que interrompeu suas férias na semana passada, ela tem se dedicado a audiências
com pesos pesados da economia para convencê-los a acreditar nas promessas de
que o governo fará sua parte e não faltará energia.
Mas suas novas promessas
são tão consistentes quanto as que a presidente fez nos seus primeiros dois
anos de mandato em relação ao desempenho geral da economia e jamais cumpriu: o
PIB que não cresce, a inflação que não baixa, os investimentos que não
acontecem. A energia inexistente tende a ser apenas mais um capítulo desta saga
de infortúnios.
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