Na semana passada, o
governo admitiu que o acionamento das usinas térmicas para tentar evitar o
racionamento de energia encarecerá as contas de luz, anulando parte da redução
obtida com a renegociação forçada dos contratos de concessão. As autoridades
oficiais disseram que o custo não ultrapassaria 3%, mas a conta será muito mais
salgada, como mostra O Globo na manchete de sua edição de hoje.
O jornal ouviu
especialistas e concluiu que, se as térmicas tiverem que funcionar durante todo
o ano, as tarifas ficarão 15% mais caras a partir de 2013. “Isso significa que
o consumidor teria de pagar a mais pela energia R$ 14,4 bilhões em 12 meses, o
que anularia, já no ano que vem, a redução média de 20% na tarifa, sancionada
esta semana pela presidente Dilma Rousseff”, alerta o jornal.
A possibilidade de
que as térmicas tenham que ser mantidas ligadas o tempo todo não é desprezível.
Atualmente, praticamente todo o parque gerador do país movido a
termoeletricidade já está em operação: são 11,9 mil megawatts médios sendo produzidos
em usinas a gás, óleo ou carvão, o equivalente a 20% da carga total do
sistema elétrico nacional. Mesmo com a volta das chuvas, a tendência é manter a
fumaça a pleno vapor.
Em função da severa
seca dos últimos meses, os reservatórios das hidrelétricas ainda estão nos
menores níveis dos últimos 12 anos. Houve leve melhora desde a última semana,
mas é improvável que se repita a situação de 2012, quando as barragens começaram
o período seco com a água armazenada em níveis recordes.
No ano passado,
mesmo com a situação hidrológica confortável no fim do verão, o sistema
elétrico chegou a dezembro no osso, com os reservatórios em baixa histórica. O governo
já sinalizou que não pretende correr o risco de ver a situação se repetir e indicou
que o uso intensivo das térmicas é prática que veio para ficar.
“O plano do
Ministério de Minas e Energia é fazer com que, no médio prazo, essas usinas
passem a fazer parte constante da geração do país. Isso significa que as
térmicas entrarão para a base do sistema nacional e funcionarão durante todo o
ano, 24 horas por dia, sendo paralisadas somente para manutenção”, informou o Valor Econômico há uma semana.
A redução das
tarifas de energia é uma medida muito bem-vinda, por aliviar os orçamentos
domésticos e, principalmente, colaborar para recompor, pelo menos em parte, a combalida
competitividade das empresas brasileiras. Entretanto, a forma como o governo
conduziu a mudança foi deplorável e indicava, desde o primeiro momento, que a
novidade poderia vir a ter fôlego curto, como agora se percebe.
A mudança nos custos
de energia exigia uma abordagem estrutural do problema, que atacasse,
primordialmente, a alta carga de tributos e encargos pendurada nas contas de
luz. O governo, porém, optou pela via do imediatismo, numa ação que tende a se
esgotar num prazo muito mais exíguo do que se poderia imaginar – a despeito de,
pelo caminho, ter implodido a capacidade de investimento das concessionárias e,
ainda, comprometido a expansão futura do setor elétrico brasileiro.
O modelo energético
gestado por Dilma Rousseff desde que foi ministra de Minas e Energia do governo
Lula é uma bomba-relógio pronta para explodir. Tem se mostrado incapaz de
assegurar a energia necessária para alimentar a demanda, depende excessivamente
do imponderável – as chuvas mandadas por São Pedro – e não consegue sequer garantir
os benefícios que alardeia, como a redução tarifária. Produz, em suma, lusco-fusco
e não luz.
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