Nos últimos dez
anos, a inflação brasileira só não superou o centro da meta estipulada pelo
Comitê de Política Monetária em três ocasiões: 2006, 2007 e 2009. Em todos os
demais exercícios, inclusive o de 2012, os preços subiram acima do planejado
– desde 2005, a meta anual é de 4,5%.
No ano passado, o
IPCA, que baliza o regime de metas para inflação no país, atingiu 5,84%. A julgar
pelas projeções mais recentes, não deve decair deste patamar: segundo a edição
do boletim Focus divulgada ontem
pelo Banco Central, o índice deve atingir 5,53% até dezembro. Não será
surpresa, porém, se a realidade contrariar os prognósticos, para pior.
Para 2014, a
previsão também é de novo estouro da meta, com os agentes de mercado trabalhando
com a perspectiva de inflação de 5,5% no ano. Se isso se confirmar, Dilma Rousseff
terá entrado e saído do governo sem conseguir fazer com que a média geral de
preços na economia se comporte de acordo com os objetivos da política oficial.
Isso significa que há,
portanto, clara desconfiança dos chamados formadores de preços em relação à consistência
da política econômica posta em prática por Brasília. Como a autoridade monetária
projeta atingir determinado alvo, mas não se importa quando, de maneira
recorrente, erra a mão, sua credibilidade vê-se arranhada.
O quadro
inflacionário só não piorou mais porque o governo federal vem adotando uma
série de malabarismos para domar os índices. Postergou reajustes necessários, como
o da gasolina; mudou metodologias de cálculo; atuou arbitrariamente na formação
de preços; manipulou tarifas públicas, como as de energia e transportes públicos,
como mostra a Folha de S.Paulo hoje. Sem estes moderadores, a situação já estaria bem mais preocupante.
Quando Dilma assumiu
o poder, a inflação vinha em escalada, alimentada pelos deslavados gastos da
gestão Lula para excitar a economia e produzir ambiente favorável à eleição da
petista. O primeiro remédio adotado pela presidente foi aumentar os juros,
para, em seguida, cortá-los a machadadas – redução, diga-se, elogiável. Mas os preços
mal se alteraram: altos estavam, altos continuaram.
É corrente entre petistas
a tese de que uma inflação mais alta é aceitável a fim de estimular a economia.
A formulação é uma das mais furadas da teoria econômica e a experiência da atual
gestão está aí para comprovar: embora o nível geral de preços tenha se mantido em
alta no país, o crescimento econômico mergulhou à pior média em 20 anos, de 1,8%
anual.
Com isso, o Brasil
de Dilma tornou-se uma jabuticaba mundial: cresce pouco, mas convive com uma
inflação alta demais para os padrões globais. Alguns exemplos: a Rússia tem uma
inflação relativamente próxima à nossa, porém cresceu 2,9% até o terceiro
trimestre; a China fechou 2012 com inflação de 2,5% e crescimento de 7,4%; a
Índia terá inflação de 7,24% com expansão de 5,3%; e os EUA devem fechar o ano
próximo a 2%, com crescimento de 3,1%, conforme levantamento
do economista Jason Vieira.
A inflação é uma das
manifestações mais salientes da política econômica desequilibrada que a gestão petista
põe em prática no país. O mais lamentável é que são justamente os mais pobres
os que mais sofrem com a carestia e com o descontrole de preços. Preservar a
estabilidade da moeda – uma conquista lograda pelos presidentes Itamar Franco e
Fernando Henrique Cardoso – é um valor do qual a sociedade brasileira não abre
mão. O governo Dilma não pode cochilar.
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