quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Cochilando com a inflação

A estabilização da moeda é uma das maiores conquistas da história recente do país, que, ao longo de décadas, conviveu com a chaga da hiperinflação. Infelizmente, nos últimos anos, e na contramão de todo o resto do mundo, o Brasil voltou a flertar perigosamente com o descontrole de preços. A experiência ensina: com a inflação não se brinca.

Nos últimos dez anos, a inflação brasileira só não superou o centro da meta estipulada pelo Comitê de Política Monetária em três ocasiões: 2006, 2007 e 2009. Em todos os demais exercícios, inclusive o de 2012, os preços subiram acima do planejado – desde 2005, a meta anual é de 4,5%.

No ano passado, o IPCA, que baliza o regime de metas para inflação no país, atingiu 5,84%. A julgar pelas projeções mais recentes, não deve decair deste patamar: segundo a edição do boletim Focus divulgada ontem pelo Banco Central, o índice deve atingir 5,53% até dezembro. Não será surpresa, porém, se a realidade contrariar os prognósticos, para pior.

Para 2014, a previsão também é de novo estouro da meta, com os agentes de mercado trabalhando com a perspectiva de inflação de 5,5% no ano. Se isso se confirmar, Dilma Rousseff terá entrado e saído do governo sem conseguir fazer com que a média geral de preços na economia se comporte de acordo com os objetivos da política oficial.

Isso significa que há, portanto, clara desconfiança dos chamados formadores de preços em relação à consistência da política econômica posta em prática por Brasília. Como a autoridade monetária projeta atingir determinado alvo, mas não se importa quando, de maneira recorrente, erra a mão, sua credibilidade vê-se arranhada.

O quadro inflacionário só não piorou mais porque o governo federal vem adotando uma série de malabarismos para domar os índices. Postergou reajustes necessários, como o da gasolina; mudou metodologias de cálculo; atuou arbitrariamente na formação de preços; manipulou tarifas públicas, como as de energia e transportes públicos, como mostra a Folha de S.Paulo hoje. Sem estes moderadores, a situação já estaria bem mais preocupante.

Quando Dilma assumiu o poder, a inflação vinha em escalada, alimentada pelos deslavados gastos da gestão Lula para excitar a economia e produzir ambiente favorável à eleição da petista. O primeiro remédio adotado pela presidente foi aumentar os juros, para, em seguida, cortá-los a machadadas – redução, diga-se, elogiável. Mas os preços mal se alteraram: altos estavam, altos continuaram.

É corrente entre petistas a tese de que uma inflação mais alta é aceitável a fim de estimular a economia. A formulação é uma das mais furadas da teoria econômica e a experiência da atual gestão está aí para comprovar: embora o nível geral de preços tenha se mantido em alta no país, o crescimento econômico mergulhou à pior média em 20 anos, de 1,8% anual.

Com isso, o Brasil de Dilma tornou-se uma jabuticaba mundial: cresce pouco, mas convive com uma inflação alta demais para os padrões globais. Alguns exemplos: a Rússia tem uma inflação relativamente próxima à nossa, porém cresceu 2,9% até o terceiro trimestre; a China fechou 2012 com inflação de 2,5% e crescimento de 7,4%; a Índia terá inflação de 7,24% com expansão de 5,3%; e os EUA devem fechar o ano próximo a 2%, com crescimento de 3,1%, conforme levantamento do economista Jason Vieira.

A inflação é uma das manifestações mais salientes da política econômica desequilibrada que a gestão petista põe em prática no país. O mais lamentável é que são justamente os mais pobres os que mais sofrem com a carestia e com o descontrole de preços. Preservar a estabilidade da moeda – uma conquista lograda pelos presidentes Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso – é um valor do qual a sociedade brasileira não abre mão. O governo Dilma não pode cochilar.

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