Legislar sobre o
funcionamento de casas noturnas tem sido até agora atribuição de órgãos
estaduais e, mais frequentemente, municipais. Apenas algumas normas técnicas de
segurança – como as da ABNT – têm alcance nacional. Constata-se que o ideal é a
criação de uma legislação de cunho federal, que sirva para, pelo menos, estreitar
as chances para a ocorrência de novas tragédias.
Num país de
dimensões continentais e realidades absurdamente díspares, a padronização das
normas facilitaria o trabalho de prevenção e de fiscalização de todos. Restritas
apenas às órbitas estaduais e municipais, muitas vezes as iniciativas de segurança
descambam para os meandros de burocracia e acabam se convertendo em oportunidades
de corrupção.
Mais importante,
porém, que legislar será garantir que as normas sejam rigorosamente cumpridas,
o que não é comum no país. A comoção do momento não pode ser aplacada com mera
fúria legislante, logo suplantada pela leniência e pela negligência dos que
devem executar as leis.
Tragédias ocorridas
em outros lugares do mundo podem fornecer aprendizados e apontar caminhos a
seguir. Um incêndio ocorrido numa casa noturna de Rhode Island há dez anos, por
exemplo, legou regulamentos antifogo ainda mais rigorosos aos Estados Unidos,
país que há mais de um século já buscava prevenir com vigor ocorrências desta
natureza.
Como consequência,
por exemplo, todas as casas noturnas norte-americanas com capacidade para mais
de 100 pessoas tiveram que instalar chuveirinhos anti-incêndio nos tetos. Além disso,
fogos de artifício passaram a ser admitidos apenas em locais com mais de 930
metros quadrados, mostra a Folha de S.Paulo.
Da Argentina, também
podem ser tomados ensinamentos para prevenir tragédias. Lá, um incêndio numa
casa noturna superlotada no penúltimo dia de 2004 deixou 194 mortos e mais de
mil feridos. Além da interdição de quase 140 estabelecimentos em Buenos Aires,
o país vizinho rapidamente aprontou uma férrea legislação preventiva após o
acidente.
Algumas das medidas poderiam
ser aproveitadas por aqui: divulgação das informações sobre as condições de
segurança dos estabelecimentos na internet; obrigatoriedade de divulgação
ostensiva relativa ao número máximo de pessoas permitidas na casa; reforço da sinalização
interna indicando saídas de emergência.
Voltando ao Brasil, o
que se tem são as velhas delongas de sempre. O Globo noticia hoje que um grupo de especialistas sugeriu, ainda em
2009, a criação de um código nacional de segurança contra incêndio ao Ministério
da Ciência e Tecnologia. Seria decorrência de um projeto contratado em 2005,
intitulado Brasil sem Chamas. O estudo, porém, só será concluído no mês que
vem. É de se questionar: por que tamanha demora?
Assim, as ações preventivas continuam restritas à órbita local. Neste momento, agem
corretamente os prefeitos que determinaram inspeções em massa dos
estabelecimentos noturnos e casas de espetáculos existentes em suas cidades. Mas,
em seguida, a revisão das atuais normas gerais de funcionamento e a adoção de
legislação de alcance nacional serão imprescindíveis.
O país ganhará com a
uniformização das regras de prevenção a acidentes, valendo-se, inclusive, também
da experiência dolorosa de outros países. Quem sabe não surge daí uma nova
cultura que não se limite a evitar que a tragédia de Santa Maria se repita, mas
que também ajude o Brasil a deixar para trás nefastas práticas cotidianas que só
conspiram contra a segurança e o bem-estar de seus cidadãos.
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