terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Os jovens de Santa Maria

A tragédia ocorrida na madrugada deste domingo em Santa Maria (RS) une os brasileiros em torno do luto e do pesar pela morte de 231 pessoas, a maioria jovens ainda com a vida inteira pela frente. Para todos os que lidam com gestão pública, da dor devem emergir atitudes efetivas que visem evitar que desastres como estes, e mesmo acidentes cotidianos menores, continuem a se repetir no país. O Brasil está cansado de leniência, seja de quem for.

O incêndio na boate lotada de estudantes universitários foi causado por uma série de erros, segundo relatos feitos por autoridades e testemunhas e reproduzidos hoje pelos jornais. Equipamentos inadequados de prevenção, rotas de fuga e emergência inexistentes, uso indevido de fogos de artifício em local fechado. Nada disso, claro, se compara ao sofrimento de pais, familiares, amigos que perderam entes queridos na madrugada de domingo.

O episódio é a maior tragédia desta natureza ocorrida no país desde o incêndio do Gran Circo Americano, que fez 503 mortos em Niterói (RJ) em 1961. O fogo na boate Kiss – que também deixou 127 feridos, muitos deles ainda em estado grave – deve servir para que se adotem medidas rigorosas de prevenção e combate a acidentes, e não apenas em locais destinados a diversão, no país.

Temos uma cultura que privilegia a normatização, mas pouco cuida para que as regras sejam cumpridas. Que este lamentável acidente nesta cidade universitária no interior do Rio Grande do Sul sirva para mudar isso: é de cuidar e preservar vidas que se trata, e de fazer com que as leis sejam aplicadas em benefício dos cidadãos.

Vale lembrar que tragédia semelhante ocorreu em Buenos Aires em 2004: 194 pessoas morreram num incêndio numa discoteca, a República Cromañón. Lá o episódio acabou motivando a criação de uma legislação específica mais rigorosa de prevenção. Deveríamos trilhar o mesmo caminho.

Em suas diferentes esferas, os governos federal, estaduais e municipais precisam assegurar que os órgãos responsáveis por fixar normas para funcionamento de estabelecimentos comerciais e pela sua fiscalização ajam rigorosamente desde já para impedir que a tragédia de Santa Maria se repita.

Importa também fazer o que defende o Zero Hora, no editorial de sua edição de hoje: “O caso da boate Kiss deve servir de referência para que os legisladores revisem as normas de funcionamento de casas de espetáculos e para que os órgãos fiscalizadores adotem procedimentos mais criteriosos e mais transparentes na aferição das condições de segurança desses estabelecimentos”.

Numa hora como esta, não há governo e oposição; há seres humanos comovidos pela dor que poderia acometer diretamente cada um de nós. É esta sensação de que o risco nos espreita e de que, muitas vezes, é feito pouco para proteger os cidadãos e para zelar pela vida humana que nos aterroriza. Mas é possível evitar que o pior volte a acontecer: basta não esquecer, jamais, os jovens de Santa Maria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário