O incêndio na boate
lotada de estudantes universitários foi causado por uma série de erros, segundo
relatos feitos por autoridades e testemunhas e reproduzidos hoje pelos jornais.
Equipamentos inadequados de prevenção, rotas de fuga e emergência inexistentes,
uso indevido de fogos de artifício em local fechado. Nada disso, claro, se
compara ao sofrimento de pais, familiares, amigos que perderam entes queridos
na madrugada de domingo.
O episódio é a maior
tragédia desta natureza ocorrida no país desde o incêndio do Gran Circo
Americano, que fez 503 mortos em Niterói (RJ) em 1961. O fogo na boate Kiss – que
também deixou 127 feridos, muitos deles ainda em estado grave – deve servir
para que se adotem medidas rigorosas de prevenção e combate a acidentes, e não
apenas em locais destinados a diversão, no país.
Temos uma cultura
que privilegia a normatização, mas pouco cuida para que as regras sejam
cumpridas. Que este lamentável acidente nesta cidade universitária no interior
do Rio Grande do Sul sirva para mudar isso: é de cuidar e preservar vidas que
se trata, e de fazer com que as leis sejam aplicadas em benefício dos cidadãos.
Vale lembrar que tragédia
semelhante ocorreu em Buenos Aires em 2004: 194 pessoas morreram num incêndio numa
discoteca, a República Cromañón. Lá o episódio acabou motivando a criação de
uma legislação específica mais rigorosa de prevenção. Deveríamos trilhar o mesmo
caminho.
Em suas diferentes
esferas, os governos federal, estaduais e municipais precisam assegurar que os órgãos
responsáveis por fixar normas para funcionamento de estabelecimentos comerciais
e pela sua fiscalização ajam rigorosamente desde já para impedir que a tragédia
de Santa Maria se repita.
Importa também fazer
o que defende o Zero Hora, no editorial de sua edição de hoje: “O caso da boate Kiss deve
servir de referência para que os legisladores revisem as normas de
funcionamento de casas de espetáculos e para que os órgãos fiscalizadores
adotem procedimentos mais criteriosos e mais transparentes na aferição das
condições de segurança desses estabelecimentos”.
Numa hora como esta,
não há governo e oposição; há seres humanos comovidos pela dor que poderia
acometer diretamente cada um de nós. É esta sensação de que o risco nos espreita e de que,
muitas vezes, é feito pouco para proteger os cidadãos e para zelar pela vida
humana que nos aterroriza. Mas é possível evitar que o pior volte a acontecer:
basta não esquecer, jamais, os jovens de Santa Maria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário