Depois de segurar as
tarifas de ônibus, derrubar na marra as de energia e praticamente quebrar a Petrobras
para tentar impedir que a inflação acelerasse ainda mais, agora o governo federal
acena com a possibilidade de adiar o início da adoção de uma importante medida
de segurança nos automóveis produzidos no país.
A partir do ano que
vem, airbags e freios ABS tornam-se obrigatórios em todos os veículos fabricados
em montadoras instaladas no Brasil. Trata-se de iniciativa destinada a aumentar
a segurança dos modelos nacionais, considerados “mortais” neste quesito: num
teste realizado em novembro, 11 de 26 modelos produzidos no Brasil foram
considerados inseguros pelas normas internacionais.
A obrigatoriedade dos
dois itens foi estabelecida em abril de 2009, por meio de resolução do Contran.
Ou seja, lá se foram mais de quatro anos para que as montadoras se adaptassem...
Hoje 70% dos carros brasileiros não dispõem destes equipamentos, cujo uso é
capaz de reduzir em 29% o risco de lesão grave ou morte, segundo estudo do Insurance
Institute for Highway Safety citado por O Globo.
Na semana passada,
Guido Mantega disse que estuda adiar o início da vigência da nova regra. Alega que
a instalação dos itens irá encarecer os modelos – fala em algo como 9% – e
poderá esfriar as atividades da indústria automobilística. O ministro acena com
a possibilidade de postergar e escalonar a obrigatoriedade, isto é, apenas um
percentual da produção precisaria dispor dos airbags e freios mais seguros a
partir de 2014.
A atitude de Mantega
reflete a maneira com que o ministro da Fazenda administra a economia do país:
na base do salve-se quem puder. A mesma lógica do improviso vale para o atual desempenho
fiscal do governo, moldado à base de manipulações de toda ordem que já drenaram
quase toda a credibilidade de que o sistema dispunha.
Oficialmente, a inflação
no país gira hoje em torno de 5,7% anuais. O governo faz de tudo para que ela
feche o ano um pouquinho menor do que em 2013, quando chegou a 5,84%. Nesta altura,
qualquer diferença depois da vírgula está servindo e, para tanto, qualquer
ajudinha é bem-vinda pelo pessoal da equipe econômica.
No bolso das
famílias, porém, a inflação não fica apenas nisso. Preços livres – que o
governo não controla – aumentam cerca de 7,5% no ano e os serviços, mais de 8%,
enquanto os administrados sobem apenas 1%. É quase certo que, no ano que vem, itens
que estão com preços deprimidos, como a gasolina e a energia elétrica, subirão
mais e mais rápido.
Os mecanismos
artificiais de controle da inflação adotados pelo governo foram fazendo vítimas
pelo caminho, sendo a mais vistosa delas a Petrobras. Agora, é também a
segurança dos motoristas que é rifada em nome de uma estabilidade que, hoje, só
existe à custa de muita maquiagem. Inflação baixa só é mérito se, de fato, refletir
a realidade. Não é o que ocorre hoje no Brasil.
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