Fazia 12 anos que a
Organização Mundial do Comércio (OMC) tentava fechar um acordo multilateral de liberalização
dos negócios entre países. Ocorre que, num grupo formado por 159
nações, as regras da instituição só admitem decisões por consenso. Quase
impossível, mas saiu alguma coisa.
Pelo que foi
costurado, com o brasileiro Roberto Azevêdo à frente, haverá menos burocracia e
mais eficiência nas alfândegas (algo chamado de “facilitação de comércio”, por buscar
melhorar as práticas aduaneiras), compromissos para eliminar subsídios que
distorcem as exportações agrícolas e alguns benefícios para países mais pobres,
de forma a possibilitar seu maior desenvolvimento.
Estima-se que o consenso
global acordado neste fim de semana na Indonésia representa apenas 10% das
pretensões iniciais da OMC à época em que as negociações começaram, em 2001. Mesmo
assim, será capaz de injetar US$ 1 trilhão no comércio global e criar 21
milhões de empregos, o que demonstra a força que os negócios entre nações têm.
Se o acordo da OMC
tivesse naufragado, o Brasil estaria num mato sem cachorro, ou, sendo mais
preciso, num oceano sem bote de salva-vidas. Isto porque, na era petista, nossa
diplomacia jogou todas as suas fichas em negociações multilaterais de comércio –
estas que envolvem plenárias globais e em que Cuba ou Venezuela valem tanto quanto
EUA, Alemanha ou Japão – e praticamente se eximiu de buscar acordos bilaterais
com países e blocos.
“O governo [brasileiro]
não disfarçava o medo de que, com um colapso, a OMC fosse abandonada pelas
grandes potências, que passariam a fechar acordos comerciais entre elas. O
temor era de que essas iniciativas reformulassem as regras do comércio mundial,
desta vez sem a influência ou participação do Brasil ou de outros emergentes”,
resumiu O Estado de S.Paulo em sua edição de ontem.
Enquanto o Brasil aguardava
a OMC acertar o passo, o mundo girou e a Lusitana rodou. Multiplicaram-se as
negociações bilaterais entre países e blocos. Há, hoje, 543 acordos desta
natureza sendo negociados ao redor do mundo. Na última década, o Brasil só fechou
três deles: com Egito, Israel e Palestina. Não parece muita coisa. E não é
mesmo.
Ao mesmo tempo em
que o Brasil ficava a ver navios, vizinhos como Chile, Colômbia, México e Peru
firmaram a Aliança do Pacífico, liberalizando 90% dos produtos comercializados
entre si num mercado de US$ 2 trilhões que concentra 49% dos investimentos
diretos estrangeiros na América do Sul. Mas não foi só.
Os Estados Unidos
lançaram tratativas para firmar, com a União Europeia, o Acordo Transatlântico,
que, se bem sucedido, envolverá mercado equivalente à metade da produção e a um
terço do fluxo de comércio no mundo. E ainda mantêm em negociação uma parceria
com as poderosas economias do Pacífico. São, como se vê, movimentos capazes de alterar
a dinâmica da economia global e reconcentrá-la nos seus polos mais robustos.
Enquanto as movimentações
ao redor do mundo seguiam frenéticas, o Brasil manteve-se atado ao abraço de afogados
do Mercosul. Pior ainda, fez opção por se associar a governos ainda mais refratários
à abertura e ao livre comércio, como a Venezuela, admitida no ano passado, e a
Bolívia, que chegou há mais tempo no bloco.
O Brasil continua
sendo um dos países mais fechados do mundo. Somos a sétima economia global, mas
apenas o 25° maior exportador. Nossas exportações equivalem a 1,3% do total
mundial e a 12,5% do nosso PIB, enquanto a participação das importações na
economia brasileira é de apenas 13%, menor percentual entre 176 países analisados
pelo Banco Mundial.
Por isso, é urgente
uma reversão da orientação dada pelo PT a nossas estratégias de integração com
o mundo. O Brasil precisa voltar a liderar as negociações regionais no
continente e reorientar o Mercosul, aproximando-o dos objetivos de quando o
bloco foi concebido, ou seja, mais comércio e mais abertura de mercados. Também
deve jogar todos os esforços necessários para fechar um acordo com a União Europeia,
deixando de ficar a reboque, por exemplo, da Argentina, que continua se recusando
a aprofundar negociações.
Não é difícil
perceber que as melhores perspectivas de desenvolvimento e progresso econômico
estão na ampliação do comércio internacional, e não no contrário, como gostam
de fazer crer os especialistas petistas e seus colegas bolivarianos. Basta
constatar que a visão míope que esta turma tem sobre o lugar que o Brasil deve
ocupar no mundo deve nos levar a ter neste ano o primeiro déficit comercial
desde 2000. Com eles, andamos para trás, enquanto todo o resto do mundo avança.
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