Pelo jeito, José Dirceu,
José Genoino e Delúbio Soares creem que podem continuar caminhando pelo lado
pantanoso da vida para se dar bem. Suas tentativas de se safar da cadeia
revelam o pouco caso que devotam às instituições do país, em especial ao nosso Judiciário.
Só isso é capaz de explicar seus atos nos últimos dias. Parecem até chacota. E são.
Comecemos por Dirceu.
Ele se acha um detento especial, mais especificamente um “preso político”,
embora seja apenas um político preso. Nesta condição, partiu em busca de um
emprego que o livrasse do xadrez, pelo menos durante o dia, e, melhor ainda, lhe
pagasse R$ 20 mil em salário, com registro em carteira e tudo. Instalado na
gerência de um hotel no coração de Brasília, frequentado por parlamentares e lobistas,
Dirceu seria a própria raposa cuidando do galinheiro. Não conseguiu.
Ainda por cima, o
hotel em questão não é um estabelecimento qualquer. Seu dono é dirigente de um
dos partidos da base aliada de Dilma, o PTN, e também proprietário de redes de
rádio beneficiadas por polêmicas decisões tomadas pela Anatel há poucos dias,
quase no mesmo momento da contratação de Dirceu. Recorde-se que esta mesma
área, a de comunicações, era um dos alvos prediletos das “consultorias” que o
ex-ministro deu nos últimos anos. A fome das galinhas se junta à vontade de
comer da raposa...
Nesta semana,
soube-se mais: o estabelecimento que quer escalar Dirceu como gerente tem na
sua composição acionária um panamenho que não faz nem ideia do que seja ser
dono de um negócio no Brasil. Ou seja, é um laranja, como mostrou o Jornal Nacional anteontem. O hotel brasiliense reproduz em tudo o ambiente pantanoso
em que o ex-todo-poderoso ministro de Lula move-se com desenvoltura.
Mas Dirceu quer
mais. Quer ter vida normal na cadeia, usar computador, escrever em blog, receber
jornal do dia, revista da semana e até viver dando entrevista e recebendo visita de amigos
petistas (sem pegar fila no sol, é claro!), como mostra a Folha de S.Paulo hoje. Parece se sentir numa temporada de veraneio – como aquela
em que estava quando teve sua prisão decretada pelo STF. É escárnio ou não é?
Dirceu não está
sozinho. José Genoino também protagonizou uma pantomima dos diabos para se
livrar das grades. Tudo bem que o presidente do PT à época em que o mensalão correu
solto para sustentar o projeto de poder de Lula e do partido é, de fato, um
cardiopata. Mas uma penca de médicos de várias origens atestou que seu estado nem
de longe inspira os cuidados e riscos que o mensaleiro preso tentou fazer crer.
Ainda assim, Genoino
conseguiu escapulir da Papuda, não sem antes estampar capas de revistas
posando como preso político e militante imbatível. Ato contínuo, vendo-se na iminência
de ter seu mandato de deputado federal cassado pelos seus pares em função da
sua condenação e prisão por corrupção ativa e formação de quadrilha, renunciou.
Delúbio Soares, por
sua vez, se inspirou em Dirceu e também tentou achar logo uma boquinha
para empregar-se e livrar-se do incômodo das grades da Papuda. O ex-tesoureiro
do PT na época de ouro do mensalão quer exercer um cargo com salário de R$ 4,5
mil no setor de formação da CUT, a central sindical petista que também já teve
o mensaleiro como responsável por suas finanças. É mais uma raposa na granja ou
é só escárnio mesmo?
Mas Dirceu, Genoino
e Delúbio não agem como solistas. Há uma orquestra inteira do PT a lhes fazer
coro. A ponto de o partido dos mensaleiros preparar para a próxima semana um “ato
de desagravo” em favor de seus presidiários mais ilustres. Há uma plena
sintonia de sentimentos: afinal, o partido também se sente “prisioneiro de um
sistema eleitoral que favorece a corrupção”, segundo resolução
que pretende aprovar em seu congresso.
José Dirceu, José
Genoino, Delúbio Soares e a turma do mensalão condenada pelo Supremo são parte
de uma triste história que faz o Brasil afundar num mar de lama e nos coloca em
péssimas posições nos rankings mundiais de corrupção, como o divulgado
nesta semana pela Transparência Internacional. O escárnio que os mensaleiros
petistas exibem deve ficar guardadinho, bem trancado num pavilhão do presídio
da Papuda. É lá, e não à solta, que eles devem pagar pelos crimes que cometeram.
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