Segundo o ministro da
Fazenda, e astrólogo frustrado, os problemas do Brasil são a crise
internacional e o escasso financiamento ao consumo, com respectivo aumento da inadimplência.
Mantega repete a ladainha governista de transferir para além-mar a culpa das
mazelas que nos são próprias. O inferno não são os outros; somos nós mesmos.
A crise financeira global
já completou cinco anos. Teve períodos muito severos, mas ninguém haverá de discordar
que o pior já ficou para trás. A maior parte das economias do mundo já está
decolando, recuperando terreno, reativando negócios e atividades. Isso só não
tem acontecido no Brasil e em alguns poucos lugares.
Ontem, a Cepal
divulgou a revisão de seus prognósticos para a economia da América Latina e Caribe
para este ano e o próximo. Pouca coisa mudou desde a versão anterior, de meados
do ano: o Brasil continua entre os de pior desempenho no continente, com
expansão projetada de 2,4% em 2013 e 2,6% em 2014. (Os números da Cepal parecem
otimistas demais.)
Neste ano, entre os
latino-americanos El Salvador e Venezuela continuam tendo crescimento menor que
o do Brasil – 1,7% e 1,2%, respectivamente. Mas o México também passou a
figurar na rabeira, com previsão de 1,3%, menos da metade do previsto cinco
meses atrás. De toda forma, além destes três países, o desempenho brasileiro
ficará também abaixo da média do continente.
Para 2014, o cenário
se repete: crescimento de 2,6% projetado para o Brasil, de novo maior somente
que os de El Salvador e Venezuela e tão ruim quanto o da Argentina – de acordo
com a Cepal, no ano que vem o México já deverá voltar a se descolar do grupo do
fundão, quase triplicando sua média de expansão prevista para 2013.
Se não somos páreos nem
em relação a nossos vizinhos do continente, imagine em relação a mercados emergentes,
cuja média de crescimento prevista pelo FMI é de 5% em 2013 e 5,4% no ano que
vem... Vale lembrar que, no terceiro trimestre deste ano, o Brasil já foi o
país de pior desempenho entre todas as economias do mundo, com retração de 0,5%
no PIB.
Os dados da Cepal
servem apenas para rechaçar um dos argumentos mancos empregados por Mantega
para tentar justificar o fiasco da política econômica avalizada por Dilma. Não adianta
acusar o mordomo quando o culpado é o dono da casa. A questão é que na equação
do pessoal da equipe econômica não entra o elemento governo, maior responsável
pelo mau andamento do país.
Se o crédito – a segunda
“perna manca” de Mantega – está caro é porque a economia está em desequilíbrio.
Juro alto, como o que o governo brasileiro pratica, resulta em maior inadimplência,
sim. Mas isso não é culpa apenas dos endividados. Juro alto é consequência da inflação
alta – esta mesma que Dilma Rousseff insiste em dizer que está dentro da meta,
quando há anos não passa nem perto do alvo...
Temos desequilíbrios
relevantes no lado da oferta, agravados pela incúria do governo em investir, ao
mesmo tempo em que a máquina pública acelera seus gastos. Até outubro, enquanto
as despesas correntes aumentaram R$ 92 bilhões, os investimentos não cresceram
nem R$ 3 bilhões. Assim não tem risco de dar certo.
Um bom diagnóstico é
o primeiro passo para a superação de qualquer problema. Mas, para nossa
infelicidade, Guido Mantega e a presidente Dilma Rousseff não costumam encontrar
o melhor ponto de partida, dificultando achar o melhor caminho a seguir. Pode
ser que tenham só dificuldade de compreensão, mas o mais correto é dizer que o
governo deles pratica uma política manca mesmo.
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