Ontem a Confederação
Nacional do Transporte (CNT) divulgou sua pesquisa
anual sobre as condições das rodovias brasileiras. Pelo segundo ano
consecutivo, o levantamento aponta piora na situação geral das estradas do
país.
A deterioração recente
coincide com o tempo já transcorrido do mandato da presidente Dilma Rousseff,
que se elegeu prometendo eficiência na gestão. O que tem-se visto é o oposto
disso: o governo nunca investiu tão pouco na melhoria das condições da infraestrutura do país quanto agora.
A CNT aponta 29,3%
das rodovias pesquisadas em condições ruins ou péssimas: são mais de 28 mil
quilômetros de vias nesta situação. Quando se somam as classificadas como “regulares”,
quase 63% da malha brasileira apresenta problemas – o total vai a 60 mil km de
estradas deterioradas.
Em 2011 já ocorrera uma
piora nas condições das nossas rodovias e agora a tendência se acentuou. Neste ano,
as estradas classificadas como ótimas ou boas caíram de 42,7% para 37,3%. No sentido
oposto, as ruins ou péssimas subiram de 26,9% para 29,3%. As consideradas regulares
aumentaram de 30,5% para 33,4%.
Segundo a pesquisa
da CNT, hoje o maior problema é a falta de sinalização – em 35% das rodovias
ela é nula ou praticamente inexistente – enquanto em 12,5% da extensão a situação
do pavimento é crítica. Ambos são fatores bastante sensíveis para a segurança
nas nossas estradas – vale dizer que, no ano passado, foram registrados 189 mil
acidentes nas rodovias brasileiras, causando lesões graves em 28 mil pessoas e a
morte de 8,5 mil indivíduos.
Como já se tornou a
tônica, novamente é gigantesca a distância entre as condições da malha mantida
pelo poder público, notadamente pelo governo federal, e a extensão operada sob
concessão privada. Não há termo de comparação.
Enquanto as rodovias
privatizadas têm 86,7% de sua extensão em situação ótima ou boa, nas públicas
este percentual cai para 27,8%. No outro extremo, somente 1,8% das concedidas são
classificadas como ruins ou péssimas e 34,6% dos trechos sob gestão
governamental estão nestas lastimáveis condições.
No ranking geral, as
21 melhores estradas do país são cuidadas por concessionárias privadas e as
seis melhores estão em São Paulo, estado com o mais longevo e bem sucedido programa
de concessão rodoviária do país. A melhor estrada sob gestão pública é a BR-471
(Rio Grande-Chuí), num modestíssimo 22° lugar.
Infelizmente, as
perspectivas de melhora não são animadoras. Basta ver o que está acontecendo
com a execução do Orçamento Geral da União deste ano. As cifras são sempre
vistosas, mas o nível do que é efetivamente investido é invariavelmente sofrível.
“O ano de 2012 chega ao fim carimbado como uma das piores execuções
orçamentárias do setor de transportes nos últimos tempos”, informa o Valor
Econômico na manchete de sua edição de hoje.
Dos R$ 13,6 bilhões
previstos para as rodovias neste ano, somente 48% foram executados até agora e,
mantido o ritmo histórico, apenas 58% o serão até o fim do ano. É o pior
resultado desde 2008 – e, ainda assim, inflado pela quitação de restos a pagar:
o pagamento de contratos firmados antes de 2012 responde por 70% de tudo o que
foi gasto desde janeiro último.
Também os
investimentos em ferrovias e hidrovias foram pífios: devem fechar o ano, respectivamente,
com menos de um terço e menos de metade do previsto executados. “O governo
iniciou o ano falando muito da necessidade de se ampliar os investimentos em
infraestrutura, mas o cenário mostra, claramente, que ele não conseguiu
deslanchar”, comenta um técnico do Ipea.
Recorde-se que estamos vindo de um ano ruim para a área de infraestrutura, em que a execução de obras pelo Dnit, pela Valec e por outros órgãos públicos do setor de transportes praticamente não andou em razão da torrente de casos de corrupção revelados ao longo de 2011.
Resta evidente que, em dez
anos, o governo do PT não conseguiu mudar as condições da nossa infraestrutura e
só agora, tardiamente, vem despertando para a necessidade de contar com
investimentos privados no setor. Com isso, o caminho para que o país retome a
estrada do desenvolvimento sustentado continua esburacado e tortuoso. Parece
incrível, mas, com Dilma, o que era ruim ficou ainda pior.
Nenhum comentário:
Postar um comentário