Em função do
esperado aumento de consumo que deve ocorrer nesta noite tão logo o país saiba quem
matou Max, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) determinou ontem que
térmicas movidas a óleo combustível fossem acionadas para gerar energia e
evitar um possível apagão. Parece até coisa de ficção.
É comum que, assim
que a novela termina, os telespectadores acendam luzes, abram geladeiras, tomem
banho – em suma, toquem a vida em frente. Registra-se, então, um pico de alta
no consumo de energia: em janeiro, no minuto seguinte ao fim da novela Passione,
a demanda subiu 4,8%, um recorde. Seria tudo coisa normal, desde que não
estivéssemos no Brasil, onde tudo anda no fio da navalha.
O país se viu
obrigado a acionar suas térmicas em razão da situação dos nossos reservatórios,
atualmente no nível mais baixo desde 2003. O regime de poucas chuvas decorrente
do fenômeno climático El Niño deixou as represas no osso, impedindo que as
usinas hidrelétricas gerassem sozinhas energia suficiente para abastecer o
país.
A solução tem sido
acionar termelétricas, cuja energia não é apenas mais cara, como também mais suja
e poluente. Até agora, havia sido preciso ligar apenas térmicas a gás. Mas ontem
entraram em operação as usinas movidas a óleo combustível e, caso necessário,
em seguida entrarão também as a óleo diesel. Se nem isso for suficiente, ato seguinte
é melhor os brasileiros começarem a rezar para que o país não flerte perigosamente
com o risco de apagão...
O consumidor já vai
sofrer no bolso. Um megawatt-hora de uma térmica a óleo custa cerca de R$ 700.
Nas térmicas a gás, não passa de R$ 300 e nas hidrelétricas é menos de R$ 100.
Estima-se que, incapaz de gerar energia suficiente mesmo com seu enorme potencial
hídrico, o país deverá gastar R$ 1 bilhão a mais neste ano para acionar térmicas,
com impacto de 3% a 4% nas contas de luz em 2013, de acordo com o Valor
Econômico.
Este é mais um fator
a colocar em xeque a alardeada promessa de redução das contas de luz feita em cadeia
nacional pela presidente Dilma Rousseff no último 7 de setembro. O atabalhoado processo
de renovação dos contratos de concessão das empresas do setor elétrico – feito
em “atropelo”,
segundo o próprio diretor-geral da Aneel, e capaz de gerar um rombo
de R$ 22 bilhões nas companhias – é outro fator de dúvidas e riscos.
Mas os improvisos não estão apenas no setor elétrico. Também se nota na
novela da privatização dos aeroportos – que a gestão petista teima em segurar para
depois das eleições para não ser “acusada” de fazer a coisa certa – e até na
falta de combustível em algumas regiões do país.
A concessão dos terminais do Galeão, no Rio, e de Confins, na região
metropolitana de Belo Horizonte, tornou-se rocambolesca, e já ameaça
definitivamente as obras e melhorias com vistas à Copa do Mundo. O governo não
sabe se mantém o modelo que adotou na privatização dos aeroportos de Guarulhos,
Viracopos e Brasília, se reduz a participação da Infraero ou se compra uma
bicicleta.
Com a estatal nos consórcios, espanta investidores mais experientes,
que não querem ser sócios de um elefante branco. Sem ela, pretende recorrer a
fundos de pensão. Tudo para manter o Estado no negócio, ao invés de tomar o
rumo certo e passar os aeroportos integralmente para o regime de eficiência privada.
Como se não bastasse, no país do improviso já falta até gasolina nos
postos, como está acontecendo no Rio Grande do Sul desde a semana passada. O problema
decorre das dificuldades que a Petrobras tem enfrentado para descarregar petróleo
e nafta nos portos gaúchos por causa de ventos fortes e mar agitado, segundo o G1.
Eis a cansativa e interminável novela que os brasileiros somos
obrigados a assistir nesta improvisada avenida Brasil governada pelo PT, onde
um pneu de avião estourado, um capítulo de telenovela, o mar agitado, a falta
de chuva ou o excesso de vento é capaz de pôr o conforto da população em risco.
Isto precisa ter um “the end”.
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