quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Delinquência em série

A cúpula que comandava o Partido dos Trabalhadores quando a legenda ascendeu à presidência da República foi condenada ontem pela mais alta corte de Justiça do país pelo crime de formação de quadrilha. Como admitir que os mesmíssimos quadrilheiros estejam por aí, leves e fagueiros, tentando fazer com que o mesmo Partido dos Trabalhadores ascenda ao comando de importantes municípios do país no próximo domingo?

A sessão de ontem no Supremo Tribunal Federal, a 39ª do julgamento do mensalão, serviu como fecho de ouro a um processo que pôs nos seus devidos lugares a “sofisticada organização criminosa” articulada “dentro de quatro paredes de um palácio presidencial” no primeiro mandato de Lula para assaltar cofres públicos.

Dez réus, entre eles José Dirceu, ministro-chefe da Casa Civil do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, José Genoino, então presidente do PT, e Delúbio Soares, então tesoureiro petista, foram condenados pelo crime de formação de quadrilha. Os próceres petistas já haviam sido considerados culpados pelo crime de corrupção ativa.

A cúpula petista e seus cúmplices no sistema financeiro e em agências de comunicação se organizavam para “cometer crimes, qualquer crime, agindo nos subterrâneos do poder, como conspiradores à sombra do Estado, para vulnerar, transgredir, lesionar a paz pública”, nas irretocáveis palavras do ministro Celso de Mello. Tratava-se de uma “sociedade de delinquentes”.

Quase três meses depois de iniciado o histórico julgamento, restou provado que o PT desviou pelo menos R$ 78 milhões dos cofres públicos para traficar o apoio de parlamentares ao seu projeto de poder. Esta dinheirama foi lavada em instituições financeiras, que usaram operações fraudulentas para escamoteá-la. Tudo articulado em torno de uma ardilosa quadrilha, que durante mais de dois anos operou a todo vapor.

O choro dos condenados, claro, já começou. José Dirceu, por exemplo, invoca sua história de vida para tentar convencer o Supremo a livrar-lhe a cara. Mas, diferentemente de outros que, como ele, lutaram pelo reestabelecimento da democracia no país, o chefe da quadrilha do mensalão não tem uma ficha de serviços prestados que lhe abone qualquer coisa. Pelo contrário.

Desde que se embrenhou na vida política, o principal articulador do PT notabilizou-se pela truculência e pela clandestinidade, a ponto de viver anos com uma mulher que sequer sabia quem ele era. Nos momentos em que poderia devotar-se aos princípios democráticos, negaceou, como na eleição de Tancredo Neves – não apenas Dirceu, mas todo o PT recusou-se a sufragar o presidente no colégio eleitoral.

A história de vida de Dirceu, portanto, corrobora seu objetivo de vida: assaltar o Estado em nome de uma “causa maior”, no caso o poder desmesurado de um partido. Deveria servir como agravante, e não atenuante, na definição das penas que lhe serão impostas pelos ministros do Supremo, em sessões a transcorrer ainda nesta semana.

É de se perguntar se, agora também condenado por formação de quadrilha, José Dirceu unir-se-á novamente a seus pares para dizer que “o que importa é ganhar a eleição em São Paulo”, como fez há duas semanas, depois de definida sua culpa por corrupção ativa. No fundo, o que interessa ao chefe-mor da quadrilha e seus mensaleiros é apenas isso: continuar a perpetrar ataques ao aparelho estatal. E, nesta altura, o que pode ser mais vistoso aos olhos desta gente do que a prefeitura e os cofres da maior cidade do continente?

O que o PT quer é salvo-conduto para continuar sua saga de malfeitos, que é infinda, como mostra, também, a ubíqua atuação do ministro Fernando Pimentel. Mal se viu absolvido pela comissão de (falta de) ética da presidência da República, ele já se meteu em outra falcatrua, como mostra O Globo hoje: envolvimento em desvio de dinheiro para saldar dívidas de campanha do PT à época em que era prefeito de Belo Horizonte.

Resta evidente que, não apenas pelos mensaleiros condenados pelo Supremo, o PT organiza-se, efetivamente, como uma quadrilha. Deve ser por isso que o advogado de Marcos Valério, também sobejamente condenado pelo STF, reclame que os “verdadeiros chefes políticos e interessados diretos no esquema admitido pelos votos condenatórios proferidos” não estejam sentados no banco dos réus. Estão, isto sim, por aí acendendo postes, para depois quebrar a lâmpada e fazer o que bem entendem com o país.

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