A sessão de ontem no
Supremo Tribunal Federal, a 39ª do julgamento do mensalão, serviu como fecho de
ouro a um processo que pôs nos seus devidos lugares a “sofisticada organização
criminosa” articulada “dentro de quatro paredes de um palácio presidencial” no primeiro
mandato de Lula para assaltar cofres públicos.
Dez réus, entre eles
José Dirceu, ministro-chefe da Casa Civil do governo de Luiz Inácio Lula da
Silva, José Genoino, então presidente do PT, e Delúbio Soares, então tesoureiro
petista, foram condenados pelo crime de formação de quadrilha. Os próceres petistas já haviam
sido considerados culpados pelo crime de corrupção ativa.
A cúpula petista e
seus cúmplices no sistema financeiro e em agências de comunicação se
organizavam para “cometer crimes, qualquer crime, agindo nos subterrâneos do
poder, como conspiradores à sombra do Estado, para vulnerar, transgredir,
lesionar a paz pública”, nas irretocáveis palavras
do ministro Celso de Mello. Tratava-se de uma “sociedade de delinquentes”.
Quase três meses
depois de iniciado o histórico julgamento, restou provado que o PT desviou pelo
menos R$ 78 milhões dos cofres públicos para traficar o apoio de parlamentares
ao seu projeto de poder. Esta dinheirama foi lavada em instituições financeiras,
que usaram operações fraudulentas para escamoteá-la. Tudo articulado em torno
de uma ardilosa quadrilha, que durante mais de dois anos operou a todo vapor.
O choro dos
condenados, claro, já começou. José Dirceu, por exemplo, invoca
sua história de vida para tentar convencer o Supremo a livrar-lhe a cara. Mas,
diferentemente de outros que, como ele, lutaram pelo reestabelecimento da
democracia no país, o chefe da quadrilha do mensalão não tem uma ficha de
serviços prestados que lhe abone qualquer coisa. Pelo contrário.
Desde que se
embrenhou na vida política, o principal articulador do PT notabilizou-se pela
truculência e pela clandestinidade, a ponto de viver anos com uma mulher que
sequer sabia quem ele era. Nos momentos em que poderia devotar-se aos princípios
democráticos, negaceou, como na eleição de Tancredo Neves – não apenas Dirceu, mas
todo o PT recusou-se a sufragar o presidente no colégio eleitoral.
A história de vida
de Dirceu, portanto, corrobora seu objetivo de vida: assaltar o Estado em nome
de uma “causa maior”, no caso o poder desmesurado de um partido. Deveria servir
como agravante, e não atenuante, na definição das penas que lhe serão impostas
pelos ministros do Supremo, em sessões a transcorrer ainda nesta semana.
É de se perguntar
se, agora também condenado por formação de quadrilha, José Dirceu unir-se-á
novamente a seus pares para dizer que “o que importa é ganhar a eleição em São
Paulo”, como fez há duas semanas, depois de definida sua culpa por corrupção
ativa. No fundo, o que interessa ao chefe-mor da quadrilha e seus mensaleiros é
apenas isso: continuar a perpetrar ataques ao aparelho estatal. E, nesta
altura, o que pode ser mais vistoso aos olhos desta gente do que a prefeitura e
os cofres da maior cidade do continente?
O que o PT quer é
salvo-conduto para continuar sua saga de malfeitos, que é infinda, como mostra,
também, a ubíqua atuação do ministro Fernando Pimentel. Mal se viu absolvido pela
comissão de (falta de) ética da presidência da República, ele já se meteu em
outra falcatrua, como mostra O
Globo hoje: envolvimento em desvio de dinheiro para saldar dívidas de
campanha do PT à época em que era prefeito de Belo Horizonte.
Resta evidente que,
não apenas pelos mensaleiros condenados pelo Supremo, o PT organiza-se, efetivamente,
como uma quadrilha. Deve ser por isso que o advogado de Marcos Valério, também sobejamente
condenado pelo STF, reclame
que os “verdadeiros chefes políticos e interessados diretos no esquema admitido
pelos votos condenatórios proferidos” não estejam sentados no banco dos réus. Estão,
isto sim, por aí acendendo postes, para depois quebrar a lâmpada e fazer o que
bem entendem com o país.
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