Dirceu, José Genoino
e Delúbio Soares, além de outros sete réus, foram condenados ontem por
corrupção ativa pelo ministro relator. A partir da Casa Civil do governo de
Luiz Inácio Lula da Silva, foi montada uma máquina para corromper parlamentares
que se sujeitassem a sustentar o projeto de poder do PT. O ministro-chefe a
comandava.
Barbosa empilhou um monte
de evidências para mostrar que José Dirceu detinha o “domínio final de todos os
fatos” do mensalão. Nada acontecia sem a sua anuência, de tratativas de
liquidação de bancos à exploração do raríssimo nióbio. Marcos Valério era seu
operador – “broker”, ou corretor e negociador, na definição do ministro
relator.
De fato, é difícil admitir
que Dirceu participasse de tantas e tão díspares reuniões, com tão distintos
interlocutores, sem que fosse para tratar da montagem e da atuação da quadrilha
que concebeu, estruturou e operacionalizou o maior esquema de corrupção que se
tem notícia na história política do Brasil.
Mais: como explicar que,
para tratar de mineração ou de sistema financeiro, estivessem sempre sentados à
mesa de reuniões com Dirceu o tesoureiro do seu partido (Delúbio Soares) e um
publicitário cujo maior dom era montar esquemas de desvio de dinheiro público para
molhar a mão de parlamentares (Marcos Valério)?
Mais ainda: como
explicar que, logo depois de realizadas tais reuniões, uma gorda dinheirama tenha
saltado das burras do Banco Rural para os cofres do PT, de onde escorreu para o
bolso dos mensaleiros? Terão sido meras coincidências? Barbosa deixou claro que
não: era o mensalão mesmo em plena ação.
A defesa de Dirceu
argumenta que uma das reuniões com o pessoal do Rural serviu para tratar da
exploração de nióbio. Estranhíssimo. Primeiro, porque, até onde se sabe, não é
atribuição da Casa Civil cuidar de pesquisa mineral. Segundo, porque o Brasil
tem um único produtor do metal – aliás, um dos únicos no mundo: a CBMM, que
pertence, justamente, a um grupo concorrente do banco mineiro, o Moreira Salles,
então à frente do Unibanco, hoje do Itaú-Unibanco. O que, diabos, o Rural iria
querer com nióbio? Nada, provavelmente; o papo era outro.
Os interlocutores de
Dirceu eram gente que não tinha nada a ver com assuntos de governo ou com os
temas alegados pela defesa do “chefe da quadrilha”, mas tudo a ver com o mensalão,
como ressalta Marcelo Coelho em precisa análise sobre o voto de Barbosa ontem
no Supremo, publicada na Folha
de S.Paulo.
Era uma profusão de “reuniões
fechadas, jantares, encontros secretos”, com Dirceu “em posição central,
posição de organização e liderança da prática criminosa, como mandante das
promessas de pagamentos de vantagens indevidas aos parlamentares que viessem a
apoiar as votações do seu interesse”, conforme resumiu, com a acuidade de
sempre, Joaquim Barbosa em seu voto.
São evidências de
sobra para que José Dirceu passe uns bons tempos no xadrez. Se condenado a mais
de oito anos pelos ministros do STF, amargará cumprimento da pena em regime fechado.
Um ocaso e tanto para quem foi o segundo homem mais poderoso da República e
sonhava tornar-se o maioral. Dirceu terá uma ficha corrida e tanto a exibir:
ex-ministro, deputado cassado, presidiário e quadrilheiro.
Hoje, O
Estado de S.Paulo diz que o PT prepara manifestações de desagravo para
seus próceres condenados pelo Supremo. A turba petista costuma saldar gente
como o ex-ministro com urros e palavras de ordem do tipo “Dirceu, guerreiro do
povo brasileiro”. No encontro que terão após a conclusão do julgamento do
mensalão pelo STF, poderá inaugurar um novo brado retumbante: “Dirceu,
quadrilheiro do povo mensaleiro”.
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