O país começou 2012 ouvindo
augúrios róseos da equipe econômica de Dilma Rousseff. Depois de um 2011
difícil, teríamos chegado ao “fundo do poço” na virada do ano e estaríamos
prontos para acelerar. A previsão oficial era de crescimento de, no mínimo,
4,5% neste ano. Durante meses, esta foi a cantilena que o Ministério da Fazenda
entoou, com contracantos animados ouvidos também no Palácio do Planalto.
Por mais que vozes
sensatas chamassem a atenção para a desafinação que se notava em parte das
atividades econômicas, especialmente na indústria, o governo fazia ouvidos moucos.
A Fazenda e o Planalto sustentaram, por meses a fio, que as previsões
pessimistas eram coisa de quem estava desinformada sobre o Brasil ou, pior
ainda, de quem torcia contra ou queria ganhar no grito.
Passou o tempo e, com
a confirmação de dois pibizinhos trimestrais seguidos, o vozerio se impôs:
agora, até a previsão oficial feita pelo Banco Central estima crescimento de
apenas 1,6% para o PIB brasileiro neste ano. O número é praticamente o mesmo
que o ministro Guido Mantega, apenas três meses atrás, havia ridicularizado
como “piada”, após ser prognosticado pelo banco Credit Suisse.
O BC percebeu que as
famílias brasileiras não consumirão tanto, as importações do país não
aumentarão como previsto antes e a indústria terá desempenho pior do que o
imaginado. Nem a inflação estará totalmente controlada, fechando mais um ano –
o terceiro seguido – acima da meta. A previsão do PIB para os próximos 12 meses também
é mais rigorosa do que a da Fazenda, com estimativa de 3,6%, ante os 4,5% de
Mantega.
Nos últimos dias,
mais duas instituições de peso firmaram consenso de que o Brasil vai mal. Para
a Cepal,
o crescimento brasileiro será o segundo pior entre os países da América Latina.
O governo de Dilma Rousseff só conseguirá superar o desempenho do Paraguai –
país que, ressalte-se, vive situação de excepcionalidade e instabilidade
institucional após a troca abrupta de seu presidente, em junho passado.
Outra previsão
negativa veio do FMI,
na semana passada, também convergindo para a piada sem graça do PIB na casa de
1,5% neste ano, numa machada feroz em relação ao prognóstico anterior, feito em
julho, que estimava 2,5% de crescimento. O Brasil será o país com pior
desempenho entre os países dos chamados Bric, com somente metade da média
global, de 3,3%. Apenas para aquilatar a distância que nos separa do resto do
mundo: a Rússia deve crescer 3,7%, a Índia, 4,9% e a China, 7,8%.
O maior problema é que
estes prognósticos não são apenas exercícios de futurologia ou elucubração estéril
em cima de números e cifras. Eles afetam o ânimo de quem quer investir,
produzir mais, trabalhar em prol de um país melhor. Em função dos maus
resultados que vêm sendo colhidos pela nossa economia, e pelas baixas
perspectivas de melhora no próximo ano, o Brasil vem perdendo o encanto.
Em sua edição de
ontem, a Folha
de S.Paulo mostrou que investidores estrangeiros estão “reduzindo o
interesse” pelo país. Ao longo do governo Dilma, o investimento externo líquido
em ações e títulos de dívida acumulado em 12 meses, por exemplo, caiu de 1,8%
do PIB, em janeiro de 2011, para 0,3% em agosto passado.
Entre os fatores que
justificam o temor dos investidores está a enorme voracidade que a gestão atual
tem demonstrado para intervir na economia. A lista é grande e cada caso valeria
uma análise mais detida: desarranjo no setor elétrico, com incertezas sobre o
futuro de contratos de concessão que terão validade de mais de 20 anos;
interferências – em alguns casos até corretas – nas empresas de telecomunicações
e uma investida brutal sobre as instituições financeiras, forçando um aumento de
crédito muitas vezes artificial.
O Brasil Econômico informa hoje que as consequências
sobre as companhias que operam nos mercados de energia, telecomunicações, bancário
e de infraestrutura têm sido visíveis na forma de desvalorização acentuada de
suas ações em bolsa. As quedas chegam a mais de 30% em menos de um mês, como é o
caso da Cesp, após as intervenções de Brasília.
Em seu ranking sobre
competitividade global, divulgado na semana passada, o Fórum Econômico Mundial
considera que o Brasil é, entre 144 países, o que tem a mais excessiva regulação
do governo, além de ser o 135° com maior desperdício de recursos públicos,
mostra hoje O
Estado de S.Paulo. Trata-se de um modelo asfixiante, ineficiente e
perverso.
O governo petista
jamais se dignou a vir a público explicar por que a distância entre o que
vocaliza e o que a realidade expressa é sempre tão grande. É possível que tenha
dificuldade em justificar e admitir sua tremenda incapacidade de fazer o que o
país espera: bem gerir os recursos públicos, aplicar com rigor o dinheiro do
contribuinte e colaborar para que o empreendedor privado produza, gere trabalho
e riqueza para os brasileiros. Se pelo menos não atrapalhar, já vai estar ajudando.
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