terça-feira, 23 de outubro de 2012

A mão peluda do Estado

O Brasil vem perdendo espaço na preferência dos investidores estrangeiros. A intervenção pesada do Estado na economia tem afugentado negócios e tirado o brilho do país. Com isso, novos empreendimentos privados, necessários para melhorar as condições internas de produção, não saem do papel e prejudicam a competitividade local.

A principal marca da gestão Dilma Rousseff na economia até agora tem sido a ingerência governamental em diversos ramos de atividade. Em alguns casos, o enfrentamento até se justifica, como ocorreu no embate com as companhias de telefonia, em razão da má qualidade de serviços prestados. Na maioria das ocasiões, porém, a mão pesada do Estado só atrapalha.

A interferência do governo em setores como energia, bancos e ferrovias tornou-se fator mais negativo para o bom desempenho da economia brasileira do que a própria crise externa, que vem desde 2008. Ou seja, o país poderia estar numa situação bem mais confortável em termos de crescimento não fossem as investidas de Brasília no mundo da produção.

O Globo publica hoje levantamento feito pela consultoria Economática mostrando que apenas os três setores mais penalizados pelo intervencionismo estatal perderam juntos R$ 59 bilhões em valor de mercado neste ano. São eles: energia elétrica (R$ 26,9 bilhões), telecomunicações (R$ 19,8 bilhões) e bancário (R$ 12,4 bilhões). 

Trata-se de setores em que, a despeito da saúde das companhias, as intensas e abruptas interferências do Estado tornaram os negócios arriscados e imprevisíveis. Tome-se o exemplo de empresas como a Cemig: suas ações haviam subido quase 65% desde janeiro e, em dois meses, já perderam mais de 30% do valor. (No ano, a Bovespa tem valorização de 3,82%.)

A interferência é particularmente grave quando se sabe que o investimento privado é fundamental para que o país supere seus atrasos na infraestrutura. “Sem dúvida havia abusos a combater, mas se criou uma atmosfera interpretada como hostil à rentabilidade dos negócios”, comenta a Folha de S.Paulo hoje em editorial.

O peso estatal vem retardando investimentos bilionários das companhias privadas. No setor de mineração, há R$ 350 bilhões engavetados, à espera de um novo marco regulatório. Na área portuária, onde o comércio exterior do país engargala de vez, existem projetos de R$ 44 bilhões prontos para ser tocados, mas o bate-cabeça de Brasília os impede de prosperar, conforme mostrou O Globo em sua edição deste domingo.

Segundo analistas de mercado, o Brasil está perdendo o brilho perante investidores internacionais, ressabiados com o que as idiossincrasias de Brasília podem lhes reservar. Ao mesmo tempo, o capital que antes aportava aqui agora segue para o México, onde o governo local implementa uma série de reformas liberalizantes.

“Enquanto por aqui o crescimento econômico tem sido modesto e o governo tem adotados medidas intervencionistas em alguns dos setores favoritos dos investidores estrangeiros, os mexicanos têm oferecido o mesmo que o Brasil de alguns anos atrás – expectativa de forte crescimento e reformas políticas e econômicas bem ao gosto do mercado”, informa o Valor Econômico.

Depois de ter crescido 9,7% nos últimos dois anos, o México deverá avançar mais 4% neste ano, segundo previsão da Cepal, acumulando 14% desde 2010. Já o Brasil viu o crescimento de seu PIB baixar de exuberantes e insustentáveis 7,5% em 2010 para anêmicos 2,7% em 2011 e raquítico 1,6% previsto para este ano.

À mão peluda do Estado na economia se junta a péssima execução das obras tocadas pelo poder público. O PAC, por exemplo, só executou 54% do seu orçamento até setembro, além de ter deixado R$ 15 bilhões parados nos cofres, informa hoje o site Contas Abertas. Um exemplo: os R$ 1,7 bilhão para aquisição de equipamentos como patrulhas agrícolas, ambulâncias, ônibus e retroescavadeiras, entre outros, continuam intocados.

Não é o caso de se defender o Estado mínimo num país onde enormes parcelas da população ainda têm carências gigantescas. Mas a experiência mostra que maior presença estatal na economia redunda sempre em menos eficiência e menores benefícios para a sociedade. Equilibrar os pesos, abrindo espaço para que o investimento privado floresça, tem sido algo que Brasília não tem demonstrado saber fazer na gestão petista.

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