O dinheiro sujo do
esquema de corrupção que o PT instalou dentro da máquina pública federal quando
assumiu o poder foi usado para pagar contas pessoais de Lula, revela O
Estado de S.Paulo em sua edição de hoje. A informação consta das 13
páginas de depoimento prestado pelo publicitário Marcos Valério à Procuradoria-Geral
da República em 24 de setembro passado. Foram três horas e meia de relato.
O esquema que drenou
milhões de reais dos cofres públicos para bancar a compra de votos, e sabe-se
lá mais o que, pelos partidários de Dilma Rousseff foi montado logo no iniciozinho
da gestão petista. Os repasses de Valério para custear as despesas pessoais de
Lula aconteceram já no começo de 2003, quando ele mal assumira a presidência da
República.
O operador do mensalão
afirmou que as operações para levantar o dinheiro que seria usado para pagar contas
pessoais de Lula foram acertadas numa sala do segundo andar do Palácio do
Planalto. Na reunião estavam ele, José Dirceu e Delúbio Soares, o ex-tesoureiro
do PT – todos os três já devidamente condenados pelo STF a passar anos em cana.
Na ocasião, foi definido
que Valério tomaria empréstimos em bancos e amealharia dinheiro sujo de
empresas para custear o mensalão. A primeira operação seria de R$ 10 milhões,
logo somada a outra de R$ 12 milhões. O céu era o limite. Instantes depois da
conversa, o grupo foi levado ao gabinete presidencial para narrar a Lula o que
fora acertado: em resposta, Valério ouviu um “ok” do então presidente.
O dinheiro chegaria
a Lula por meio de contas de uma empresa de segurança de um antigo colaborador
do ex-presidente: Freud Godoy. Dois repasses teriam sido realizados. A CPI dos
Correios identificou um deles, feito em 2005, no valor de R$ 98.500. Sobre o
outro, ainda não há maiores detalhes, mas dinheiro não era problema para Godoy:
ele também é um dos aloprados pegos pela Polícia Federal em 2006 por participação
na compra de um falso dossiê contra tucanos, envolvendo R$ 1,75 milhão em cédulas.
Além da participação
direta de Lula no esquema, o depoimento de Valério também reforça o total controle
que José Dirceu detinha sobre o mensalão, não deixando sombra de dúvida sobre a
condenação dele a dez anos e dez meses de cadeia, decidida pelos ministros do
Supremo. “Ao longo dessa reunião, Dirceu teria afirmado que Delúbio, quando
negociava com Valério, falava em seu nome e em nome de Lula”, cita o Estadão.
Por tudo o que sabe,
e pelo muito que ainda não revelou, Valério é um arquivo vivo na mira do alvo
do PT. Não é figura de retórica: no depoimento de setembro, o publicitário afirmou
ter sido ameaçado de morte pelos partidários de Lula, Dilma e José Dirceu. Ele teria
ouvido de Paulo Okamotto, pessoa de estrita confiança do ex-presidente e hoje nada
menos que o diretor-presidente do Instituto Lula, as seguintes frases:
“Tem gente no PT que acha que a gente devia matar você. Ou você se comporta, ou
você morre”. Na máfia também é assim.
Vale lembrar que Okamotto
foi alvo de investigações do esquema do mensalão feitas pela CPI dos Bingos, em
2005. Na época, descobriu-se que ele pagara uma dívida de quase R$ 30 mil
contraída por Lula. Aos parlamentares, o então presidente do Sebrae não
explicou por que quitara o compromisso. Na época, a CPI aprovou a quebra de
sigilo de Okamotto, mas liminar concedida por Nelson Jobim, então presidente do
Supremo, impediu que seus dados bancários, fiscais e telefônicos fossem
investigados. Valeria retomar a investida.
Até porque a teia de
negócios e crimes do PT vai muito além do mensalão. No depoimento dado em
setembro, Valério também relatou o envolvimento do então presidente da CUT e
hoje prefeito de São Bernardo (SP), Luiz Marinho, na edição de uma medida
provisória que fez o lucro do banco BMG, uma das caixas-fortes do mensalão,
triplicar. No Estado do PT, tudo vira fonte de dinheiro.
O publicitário contou,
ainda, que o então secretário-geral do PT, Silvio Pereira, também o procurou
para pedir R$ 6 milhões para tentar sossegar um empresário que ameaçava
envolver capas-prestas do partido, como José Dirceu e Gilberto Carvalho, hoje secretário-geral
da Presidência, na morte de Celso Daniel, prefeito de Santo André (SP)
executado em janeiro de 2002.
Ontem, Lula e a
presidente Dilma Rousseff conversaram por duas horas e 40 minutos num encontro a
portas fechadas em Paris em que a imprensa foi mantida a profilática distância.
Supõe-se que tenham falado das falcatruas que Rosemary Noronha aprontou no
gabinete da Presidência da República em São Paulo. Mas é possível que tenham
tratado de muito mais escândalos, inclusive as novas revelações de Valério. Assunto
para isso os dois têm de sobra...
Nestes quase oito
anos desde que o mensalão foi revelado, o PT sempre tentou livrar a cara de
Lula, que chegou a dizer que fora “traído” pelos seus companheiros de partido. Vê-se
agora que, na função de presidente da República Federativa do Brasil, ele
protagonizou uma farsa e avalizou pessoalmente um assalto ao patrimônio público.
Por um Fiat Elba, um presidente foi apeado do cargo. Pelo conjunto de sua obra,
Lula merecia ser banido da vida política brasileira.
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