Como era de se
esperar, os petistas reagiram ontem com as indignações de praxe à divulgação do
depoimento prestado por Marcos Valério à Procuradoria-Geral da República (PGR),
em setembro, em que ele informa que Lula não apenas sabia dos empréstimos tomados
pelo PT para irrigar o mensalão, como também que o dinheiro sujo pagou contas
pessoais do ex-presidente.
Por ora, o discurso
petista limita-se a desacreditar o depoente, que tem contra si o fato de ser um
condenado pela Justiça a mais de 40 anos de prisão – e justamente por ter
ajudado o PT a montar a maior rede de corrupção que se tem notícia na história
do Brasil. Derrubar os argumentos que Valério apresentou, ninguém ousou.
O próprio acusado
limitou-se a afirmar, de Paris: “É mentira”. Apresentar contraprovas, fatos, argumentos?
Nem pensar. Nem mesmo a presidente da República arriscou. Também na capital
francesa, Dilma Rousseff saiu em defesa de Lula, sem, no entanto,
comprometer-se um milímetro sequer em desmentir o que o operoso colaborador do PT
no mensalão disse aos procuradores da República em setembro.
“Eu repudio todas as
tentativas, e essa não seria a primeira vez, de tentar destituí-lo [a Lula] da
imensa carga de respeito que o povo brasileiro lhe tem. (...) Eu considero
lamentáveis essas tentativas de desgastar a imagem do presidente Lula”, disse
a presidente em Paris. Em momento algum, Dilma arriscou-se a “repudiar” o
mérito das acusações.
O senador José Sarney
tampouco pôs a mão no fogo. Questionado, disse que Lula é “patrimônio do país,
da História do país por sua vida e tudo que ele tem feito”. O próprio PT
preferiu dizer-se, uma vez mais, “alvo constante de setores da sociedade que
perderam privilégios”. A ladainha não muda.
A linha de defesa
dos petistas e seus aliados não é nova: se contra eles são apresentados fatos e
argumentos, retrucam atacando as premissas da acusação. Valério não está
tentando destruir a “imensa carga de respeito” que parte dos brasileiros eventualmente
ainda nutra por Lula, tampouco tentando dilapidar um questionável “patrimônio
do país”. Sequer parece alguém que tenha “perdido privilégio” – exceto o da
liberdade.
O publicitário e
operador-mor do mensalão está simplesmente dizendo que um gigantesco esquema de
corrupção contou com a participação direta do então presidente da República.
Por que os petistas não respondem a isso?
Talvez seja pela
dificuldade de se desvencilhar, depois de anos de conluio, de figuras como o
próprio Valério, outrora colaborador imprescindível às pretensões de poder do
PT. Ou talvez, ainda, por ter de se precaver do que pode sair da boca de outra
de suas más companhias, como Carlos Cachoeira. Ontem, ao sair de mais uma
prisão, o bicheiro avisou: “Sou a garganta profunda do PT”. Haverá um Watergate
brazuca no horizonte?
Não há outra
resposta possível: há que se apurar a fundo e esclarecer todas as suspeitas.
Como pediu a oposição ontem e como defenderam pelo menos três ministros do
Supremo Tribunal Federal, entre eles o presidente Joaquim Barbosa, para quem o
Ministério Público deve abrir investigação sobre o envolvimento de Lula no
mensalão. Numa república séria, assim deve ser: aos fatos, ações objetivas.
Além do que Valério
já revelou, há muito material novo a exigir detida apuração. A própria PGR
parece ter dado crédito robusto ao que o publicitário disse em seu depoimento
de setembro. Tanto, que, posteriormente, um novo depoimento já teria sido
tomado pelo próprio procurador-geral, Roberto Gurgel, segundo informa hoje Dora
Kramer.
Há muita informação a
conferir verossimilhança ao que denunciou Marcos Valério. Há a comprovação, já
feita pela CPI dos Correios, de que, de fato, o “faz-tudo” de Lula recebeu R$ 98,5
mil de uma empresa do publicitário, a SMP&B, em 21 de janeiro de 2003. Além
disso, hoje a Folha
de S.Paulo revela que a empresa de Freud Godoy continua recebendo gordo
dinheiro do PT: até 2011, foram mais de R$ 1 milhão do fundo partidário.
Há, ainda, a revelação,
no ‘Painel’
da Folha, de que o PT bancou não
apenas o advogado de Valério, mas uma penca deles, no processo do mensalão,
corroborando o que o publicitário dissera ao MP. E há, para coroar, a informação
de que funcionava no Banco do Brasil um “pedágio” para desviar dinheiro da publicidade
oficial para as campanhas petistas, revelado por O
Estado de S.Paulo em sua manchete de hoje.
Tudo isso apenas em
se tratando do escândalo da hora. Porque o que envolve Lula nos maus lençóis do
Rosegate também produziu nova fornada de novidades na forma de e-mail em que a
fiel servidora do ex-presidente cobra “650 em dinheiro” ao então diretor da
Agência Nacional de Águas Paulo Vieira para pagamento de um apartamento,
conforme mostrou ontem o “Jornal
Nacional”.
Marcos Valério,
Carlos Cachoeira, Freud Godoy, Henrique Pizzolato, Rosemary Noronha, Paulo
Vieira e outros tantos mais fizeram o que fizeram porque tinham carta branca do
PT para agir. Alguns deles, além do aval do PT, dispunham da bênção do presidente
da República. Quem escolhe com quem anda, diz quem é. Cabe agora a Luiz Inácio
Lula da Silva explicar o que fez, durante os oito anos em que governou o
Brasil, em tão más companhias. Boa coisa não foi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário