Como se não bastasse
a quadrilha do mensalão, urdida “entre quatro paredes de um gabinete
presidencial” em Brasília, uma filial operou a todo vapor na capital paulista, também
instalada dentro de uma repartição dedicada aos despachos do chefe do Executivo
federal. Impossível não concluir que fossem unidades de uma mesma holding.
Na sexta-feira, a
Polícia Federal concluiu
o relatório final sobre a Operação Porto Seguro, que flagrou mais uma quadrilha
operando nas mais altas esferas do governo petista. Desta vez, o produto
ofertado eram pareceres e decisões oficiais vendidas sob encomenda a empresas
interessadas em negócios com o Estado.
Na chefia do bando
estava um diretor de agência reguladora – a ANA – e na linha de frente de sua
operação, uma fiel secretária de um presidente da República. A tropa de ação incluía,
ainda, dois diretores da Anac e da Antaq – deixando claro, se já não fosse
cristalino, a que, de fato, estes órgãos passaram a se dedicar nos governos do
PT.
No relatório da PF,
a chefe de gabinete do escritório da Presidência da República em São Paulo, Rosemary
Noronha, também foi indiciada por formação de quadrilha, além dos crimes de corrupção
passiva, falsidade ideológica e tráfico de influência. Era “o braço político da
quadrilha”, segundo descrevem os policiais.
A proximidade entre
a quadrilha de Rosemary e seus bebês e a dos mensaleiros ficou ainda mais explícita
com a revelação feita pela edição da revista Veja
que está nas bancas: apenas uma semana antes de ser indiciada, ela passara, com
seu marido, saborosas horas numa praia em Camaçari, na Bahia, na companhia de
ninguém menos que José Dirceu, condenado a dez anos e dez meses de cana pelo
STF, e a namorada dele.
Quando intimada pela
PF duas semanas atrás, foi para o chefe da quadrilha dos mensaleiros que Rose primeiro
pediu socorro. Sem conseguir ser atendida por Dirceu, ela tentou, também em
vão, o amparo do ministro da Justiça e do ex-presidente. Na hora do aperto, os
chefões da holding deixaram-na com o passivo a descoberto.
Até então, os poderes
de Rosemary pareciam sobrenaturais. Ela não apenas agiu para nomear os irmãos Paulo
e Rubens Vieira para operar seus balcões de falcatruas na ANA e na Anac, como
também se dedicou a abrir-lhes portas na Esplanada dos Ministérios, marcando
audiências de roldão com autoridades do primeiro escalão – do governo ou da
holding?
Com negócios tão prósperos
num governo em que a presidente se acha excelente gestora, tamanha eficiência deve
ter sido motivo de orgulho e acabou sendo recompensada: Rose foi a única
funcionária não concursada, de um total de 19, mantida em função de chefia na
Presidência após a troca de comando de Lula para Dilma Rousseff, conforme mostrou ontem O
Estado de S.Paulo.
Nada disso é capaz
de fazer corar os petistas. Muito menos Lula, que, antes falante, agora quase emudeceu.
Mesmo assim, questionado em Berlim se fora surpreendido pela operação da PF que
enredou Rose, o ex-presidente disse
quatro palavrinhas que revelam muito: “Não, não fiquei surpreso”.
Possivelmente, Lula e
seus seguidores considerem bastante natural que a estrutura do Estado tenha
sido tomada de assalto por gente que diz agir “em nome do povo”. Quantas outras
quadrilhas ainda terão de ser descobertas até que a holding do PT pare de operar?
Se demorar demais, quem vai à bancarrota é o Brasil.
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