Os jornais de hoje
destacam a revelação, feita ontem pelo “Jornal
Nacional”, de que a nomeação dos irmãos Vieira para cargos de direção em
agências reguladoras de onde comandavam um vasto esquema de compra e venda de
pareceres pode ter contado com aval de Luiz Inácio Lula da Silva.
E-mails trocados
entre Rosemary Novoa de Noronha, então chefe de gabinete da Presidência da
República em São Paulo, e os dois irmãos mostram que ela teria tratado da
indicação deles para a ANA e para a Anac com o “PR”, ou seja, o presidente da
República. Meses depois, Paulo e Rubens se instalaram nos cargos que almejavam,
de onde só saíram na sexta-feira passada, presos pela PF.
Além de Lula, outros
capas pretas do PT aparecem nas mensagens e conversas em que Rosemary negocia
pedaços da República junto aos irmãos Vieira e sabe-se lá com quem mais. José
Dirceu e Dilma Rousseff são citados como possíveis facilitadores das nomeações.
É a patota de sempre: o esquema corrupto vai de mequetrefes a peixes graúdos.
Embora Lula e seus
apaniguados desempenhem papel central nesta trama, a questão não se limita ao
governo do ex-presidente. Trata-se de gestões do mesmo partido, com as mesmas
práticas, os mesmos personagens. Ou seja, se Lula é responsável por permitir que
os cabeças do esquema tenham se instalado no aparato estatal, Dilma é tão
responsável quanto por tê-los mantido lá.
Foi por intermédio
de Lula que todos os envolvidos no esquema de venda de pareceres chegaram aos
postos de comando que ocupavam quando finalmente foram flagrados pela PF. Todos
foram mantidos onde estavam por Dilma, até serem desmascarados e caírem. Não estavam
em cargos desimportantes; pelo contrário.
Estavam em órgãos
que deveriam zelar pelo interesse público, mas que passaram a funcionar como
verdadeiros balcões de negócios, traficando toda sorte de interesses com
chancela oficial. Assim como num armazém de secos e molhados, no governo
petista é possível comprar a manifestação que convier ao freguês na AGU, na SPU
(Secretaria de Patrimônio da União), na ANA, na Anac, na Antaq, no MEC. Onde
mais falta descobrir?
Na gestão Lula, como
no governo de Dilma, tudo está à venda, em todo lugar. Os termos com que Paulo
Vieira e Rosemary Noronha negociam a indicação dele e do irmão, Rubens, para a
direção de duas importantes agências é simbólico da importância que esta gente
dá a valores e instituições da República. “Estou enviando o meu currículo com
as informações que julguei mais pertinentes ao cargo da ANA, apesar de sabermos
que o currículo não é fator primordial”, escreve
Paulo num e-mail em abril de 2009.
Neste ambiente depauperado,
as credenciais para ocupar funções como a de conselheiro de administração em
estatais – como é o caso do ex-marido de Rosemary instalado na Brasilprev –
envolviam até diploma forjado em instituições de ensino fajutas. As
traficâncias também contemplavam adulteração de notas junto ao MEC para
credenciamento de faculdades de meia tigela. O que mais terá sido objeto de
transações neste governo? Na gestão do PT é diferente de Mastercard: tudo tem
preço.
“A descoberta do
esquema de corrupção montado a partir da ex-secretária particular de Lula e
chefe de gabinete do escritório da Presidência em São Paulo, Rose Noronha, se
conjuga com o mensalão e torna ainda mais estridente o alerta para o ponto a
que chegou, nos últimos anos, a degradação ética no manejo da administração
pública. (...) As causas de tudo isto podem ser várias. É possível que o apoio
popular aos donos do poder os tenha inebriado a ponto de fazê-los confundir
partido com Estado”, opina O
Globo em editorial.
Lula, até agora, não
se dignou a se manifestar sobre o mais novo escândalo petista. Questionado numa
cerimônia no Rio na terça-feira, virou as costas; ontem, calou-se. Apenas fez
vazar, por meio de assessores, que se sente “apunhalado pelas costas”. É o
mantra de sempre de quem já se disse “traído” pelo mensalão, mas depois lutou –
ingloriamente, como deixam claro os 282 anos de condenação imputados pelo STF
aos 25 condenados pelo maior esquema de corrupção da história política do país
– para provar que tudo não passara de uma “farsa”.
Como tampouco a
presidente Dilma Rousseff disse até agora o que pensa disso tudo, é lícito concluir que ambos
tenham se acostumado tanto com a roubalheira que agora acham tudo natural. Depois
de dez anos de leniência e de complacência com os malfeitos, deve ter se
tornado difícil para eles perceber onde termina o interesse público e onde começa
a esfera privada. Para o PT, dúvida não há: é tudo propriedade do partido.
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