Em tempo de Copa do Mundo,
os povos costumam se irmanar. O sentimento de união tende a ser ainda mais
forte quando o torneio acontece em países muito identificados com o esporte,
como é o caso do Brasil. Mas ontem a presidente da República foi à televisão
agredir os brasileiros que não comungam da visão rósea que seu governo busca propagar
do Mundial.
Dilma Rousseff
ocupou novamente uma cadeia nacional sob o pretexto de, segundo o Blog do Planalto, dizer que o Brasil “venceu os principais obstáculos e está
preparado” para a Copa. Curiosa a razão do pronunciamento: fosse verdadeira,
provavelmente a presidente não precisaria ir ao rádio e à TV para tentar
convencer os brasileiros.
Basta andar nas ruas
e ter olhos para ver que o Brasil que chega amanhã à Copa do Mundo não se
parece nem um pouquinho com aquele que se projetava quando o país foi escolhido
sede do torneio, em outubro de 2007 na Suíça. É abismal a distância entre o
clima desalentado hoje reinante no país e o que a propaganda oficial vendeu em
todos estes últimos anos.
Em seu pronunciamento,
Dilma mirou a oposição, mas vilipendiou os brasileiros que ousam não compactuar
com a mordaça com a qual o PT quer silenciar seus críticos e constranger os que
não lhe dizem amém. Várias pesquisas de opinião mostram a desaprovação da nossa
população à Copa ou a aspectos relacionados à promoção do torneio no Brasil.
Em abril, o Datafolha
constatou que 55% dos brasileiros vêm mais prejuízos que benefícios na realização
da Copa no país e só 36% acham o contrário. Outra pesquisa, feita pelo Ibope sob
encomenda do Planalto, reforça: em 11 das 12 cidades-sede os que enxergam mais
prejuízos que benefícios são ampla maioria, conforme publica O Globo em sua edição de hoje.
Sim, os brasileiros
esperavam bem mais da Copa, mas o governo que nos governa há 12 anos foi
incapaz de cumprir suas responsabilidades. Há um mês, a Folha de S.Paulo fez extenso levantamento no qual concluiu que somente 41%
das 167 obras previstas relacionadas ao torneio foram realizadas.
Dilma tem razão
quando diz que os estrangeiros não vão levar na bagagem os metrôs, os
aeroportos e as obras de mobilidade associadas à Copa. Até porque elas não
existem: só 10% ficaram prontas a tempo do Mundial.
O número de obras
abandonadas também não cabe nos dedos das duas mãos, incluindo todos os cinco
VLT (Veículos Leves sobre Trilhos) originalmente previstos. Corredores de ônibus,
como o do Rio, e metrôs, como o de Salvador, estão sendo entregues incompletos.
Não é irrealista apenas a
visão que Dilma apregoa sobre a Copa num espaço institucional que ela se especializou
em desrespeitar. São falsas também boa parte das informações que ela destilou em
seu pronunciamento – mais correto seria dizer que se tratou de um programa
eleitoral – exibido ontem.
Dilma mente quando
diz que “dobramos a capacidade dos aeroportos”. Melhoramos, é verdade, mas
muito, muito menos: o aumento foi de 36%. Além disso, em 11 das 12 cidades-sede
os aeroportos têm falhas, obras inacabadas, sujeira e desorganização, como
mostrou a Folha
na semana passada. Em Fortaleza, foi necessário erguer um terminal de lona; em
Salvador, as obras foram simplesmente postergadas para depois da Copa.
Dilma afirmou que “estamos
entregando, também, um moderno sistema de comunicação e transmissão que reúne o
que há de mais avançado em tecnologia (...) em todas as 12 sedes”. Sabe-se, porém,
que metade dos estádios não contará com redes de internet sem fio, tornando a comunicação bem
lenta, conforme admitiu o Sinditelebrasil
na semana passada.
Mas a presidente
exagera mesmo é quando coteja os gastos com estádios da Copa aos investimentos
supostamente feitos em saúde e educação. Diz que estes são “212 vezes” maiores
que o valor aplicado nas arenas. Para chegar a esta esdrúxula comparação, Dilma
somou despesas de estados e municípios, mas foi bem mais longe e adicionou desde
salários a gastos com cafezinho na conta.
Considerando apenas investimentos
feitos pelo governo federal em saúde e educação desde 2011 até hoje, foram despendidos
tão somente R$ 24,5 bilhões, conforme dados do Siafi levantados pela assessoria
do DEM. Para chegar aos R$ 1,7 trilhão que a presidente afiança ter torrado nas
duas áreas ao longo de seu governo é preciso muita ginástica...
Amanhã começa
oficialmente a Copa do Mundo do Brasil. É tradição que chefes de governo locais
deem boas-vindas aos esportistas e aos que acompanham a festa ao redor do
mundo. A presidente brasileira preferiu o ambiente frio de um estúdio de TV
para fazer seu pronunciamento. Lá pôde mentir à vontade, sem temer as vaias que,
num estádio, certamente receberia.
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