Ela até que tentou,
mas não teve jeito. Escondida no espaço mais recôndito da tribuna de honra do
Itaquerão, a presidente Dilma Rousseff fez tudo para passar incólume pela
abertura da Copa do Mundo. Mas foi brindada por milhares de torcedores com vaias
e xingamentos impublicáveis. Ela merece.
Foram pelo menos quatro
ocasiões durante a partida em que o Brasil – com nosso escrete reforçado pelo juiz
japonês Yuichi Nishimura – venceu a Croácia por 3 a 1 na estreia do Mundial, em
São Paulo. Dilma foi homenageada
com a galera gritando a plenos pulmões que ela fosse tomar no... deixa pra lá. Coitadinha.
Toda uma operação de
guerra foi montada para que a presidente da República fosse ao estádio que
custou mais de R$ 1,2 bilhão, a maior parte custeada com dinheiro público, sem
ser notada. A ordem era “blindar” Dilma para que ela não recebesse apupos.
Reservaram-lhe a cadeira mais escura do canto mais escondido das tribunas. Mas não
deu: o povo não é bobo.
As primeiras vaias
vieram logo após a cerimônia de abertura – se é que aquilo pode ser chamado de
cerimônia (será que até isso deixaram para a última hora?) Voltaram depois da
execução do hino nacional – e olha que nem dá para falar de falta de
patriotismo, porque a galera cantou toda a letra de Joaquim Osório Duque
Estrada a plenos pulmões, mesmo que a Fifa não quisesse que fosse cantada.
Mas os xingamentos explodiram
com força mesmo quando Dilma surgiu no telão após Neymar marcar seu gol de pênalti.
Para desgosto da presidente, e contra as suas ordens, sua imagem foi mostrada
pelas câmeras de TV para todo o mundo. E o Itaquerão veio abaixo, entoando seu
grito por um tempo que, para a petista, deve ter soado como o mais longo da
vida dela.
Vaias e Dilma Rousseff
têm sido par indissociável de uns tempos para cá. O pontapé inaugural foi na
memorável abertura da
Copa das Confederações, um ano atrás em Brasília. Na ocasião, sobrou para a
petistas declarar, em oito segundos e nada mais, “oficialmente aberta a Copa
das Confederações Fifa 2013”. Agora, não deu nem para ela falar vírgula.
Em suas viagens pelo
Brasil afora, Dilma tem sido brindada por vaias. Foi assim em abril, no Pará; em maio em Uberaba
e na Paraíba.
Até em show de música nossa querida presidente da República tem sido
homenageada, como aconteceu no mês passado em Ribeirão Preto, com
transmissão ao vivo e a cores para todo o Brasil de um corinho de mais de 40
mil vozes mandando Dilma ir tomar no... deixa pra lá.
Segundo o discurso
oficial, gente assim, tão mal humorada, faz parte dos pessimistas que já entram
em campo perdendo, como ela afirmou no pronunciamento em cadeia nacional de
rádio e televisão que fez à guisa de defender as memoráveis realizações de seu
governo com vistas à Copa – e outras coisas que nada tinham a ver com o
torneio.
Foram Dilma e seu
partido que optaram por cindir o Brasil entre quem diz amém ao governo e quem
mantém acesso seu espírito crítico e não corrobora com o estado atual de
degeneração que a administração de turno pratica. A resposta tem vindo em altos
decibéis: sobrou para a presidente colher, por ora apenas nos ouvidos, a indignação
da nossa gente.
Seu patrono e tutor sequer
ousa arriscar. Bem mais esperto que a pupila, Luiz Inácio Lula da Silva só se
exibe perante plateias previamente docilizadas, sem o risco de topar de frente
com o contraditório. De estádio, prefere nem passar perto – quanto mais ir de
jumento, como jurou que era capaz de fazer para ver a seleção ou seu
Corinthians jogar, porque de metrô é “babaquice”.
As vaias que se
reproduzem pelo país afora não são atos isolados. Não são atitude de gente
debochada. São, isto sim, gritos de protesto de milhões que não veem a hora de
virar a página e começar a escrever uma nova fase da nossa história. O que hoje
dói apenas nos ouvidos da presidente da República em breve vai doer-lhe fundo
na alma e na urna.
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