Só com muito reforço
nas colunas de ativos e passivos, a contabilidade do programa para de pé. Mais
uma vez, o que segurou o desempenho do programa foram empréstimos e desembolsos
do Minha Casa, Minha Vida. O Ministério do Planejamento diz que a segunda etapa
do PAC, lançada há um ano e meio, concluiu R$ 211 bilhões em obras, das quais R$
129,3 bilhões (ou 61%) referem-se a incentivos habitacionais.
Mas como computar
como investimento em infraestrutura, ou seja, pedra, tijolo, areia e concreto,
o que, na maioria dos casos, é apenas assinatura em papel? Sim, porque o valor
do Minha Casa, Minha Vida incluído nos balanços do PAC representa meramente
financiamento concedido a mutuários. É como se um empréstimo tomado nas Casas
Bahia para comprar um fogão fosse contabilizado como aplicação na melhoria da
infraestrutura do país...
Ainda assim, os
financiamentos habitacionais caíram no primeiro semestre deste ano na
comparação com o mesmo período de 2011: passaram de R$ 35 bilhões para R$ 33,5
bilhões, com queda de 4,3%, segundo a Folha
de S.Paulo. Também diminuíram as obras de infraestrutura bancadas com
recursos do Tesouro Nacional: 7,8%, de R$ 9 bilhões para R$ 8,3 bilhões no
semestre.
O que nem o mais
carregado pó-de-arroz oficial consegue disfarçar é que o ritmo dos
empreendimentos de transportes, essenciais para que o país deslanche, continua
deixando muito a desejar. Em média, estes investimentos apresentam queda em
torno de 40% na comparação com o mesmo semestre do ano passado.
Um dos casos mais
gritantes é o da ferrovia Transnordestina. O Valor
Econômico mostra hoje que a obra simplesmente travou no semiárido
nordestino. O número de trabalhadores no canteiro caiu a praticamente um terço;
o ritmo de colocação de dormentes é de um quilômetro por dia, ante capacidade
para 2,5 km diários; e um trecho de 600 km entre Salgueiro (PE) e Pecém (CE)
está parado.
Pior que isso,
outros dois trechos, já na chegada ao litoral, não foram sequer iniciados. “Sem
uma ligação portuária, o trecho atual, do ponto de vista econômico, liga nada a
coisa nenhuma”, sentencia o jornal. No entanto, na contabilidade do PAC a
Transnordestina – que deveria estar pronta em 2010, mas só sairá no próximo
governo – caminha em compasso “adequado”.
A ferrovia não é a
única com cronograma atrasadíssimo. A Norte-Sul, a extensão da Ferronorte e a
duplicação da BR-101 também já deveriam estar prontinhas, mas só serão concluídas
entre fins deste ano e dezembro de 2014. Na criativa contabilidade do PAC,
todas estão, porém, em ritmo normalíssimo. Assim fica fácil...
Seria ótimo se as
estimativas oficiais correspondessem à realidade. Mas o que os números do
balanço do PAC tentam mostrar os olhos dos cidadãos não vêem no dia a dia.
Onde estão as ações de melhoria da mobilidade urbana, de modernização dos
terminais portuários, as ampliações de aeroportos, as expansões de metrôs? No
máximo, o que se avista são placas de publicidade em locais onde deveria haver
obras.
Tão importante
quanto eficiência e agilidade na execução de investimentos estruturais que
gerem benefícios diretos e conforto à vida dos brasileiros é a transparência no
trato da coisa pública. Ao apelar para malabarismos em suas prestações de contas
do PAC, o governo Dilma Rousseff ludibria a sociedade. Mais desejável seria
entregar o que a vultosa propaganda oficial promete; até agora, os gastos
publicitários são os únicos realmente bem executados pela gestão petista.
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