Um dos lances mais
ousados da investida para tentar reescrever a história foi a decisão tomada no
início do mês pelo TCU – mas só revelada no fim da semana passada por O
Estado de S.Paulo – considerando regular contrato firmado em
2003 pela agência de publicidade de Marcos Valério, a DNA, e o Banco do Brasil
que serviu para irrigar o “valerioduto”.
Numa estranha lógica,
a relatora, ministra Ana Arraes, argumentou que uma lei aprovada em 2010, com
novas regras para a contratação de agências de publicidade pela administração
pública, tornara legal a operação entre a empresa de Valério e o BB, envolvendo
R$ 153 milhões e fechada nove anos atrás.
Contrariando parecer
técnico do próprio TCU, os demais ministros acompanharam o voto de Arraes – não
por coincidência, mãe do governador de Pernambuco, o socialista Eduardo Campos.
Travestiram de legalidade o esquema de drenagem de verba pública montado por
Valério para a compra de apoio de parlamentares pelo PT.
O que o TCU, bizarramente,
agora considerou legal foi o desvio de gratificações pagas por veículos de
comunicação que a DNA deveria ter repassado ao BB, mas foram apropriados pela
agência de Valério e de lá canalizados para o “valerioduto”, segundo denúncia
da Procuradoria-Geral da República.
Mas a tropa de
choque que quer transformar o mensalão em pizza – ou em “farsa”, no dizer de Luiz
Inácio Lula da Silva – também está avançando por outras frentes. Nesta semana,
a revista Veja
revelou que Marcos Valério mantém canal direto com o staff do ex-presidente,
numa relação cordial demais para quem estaria ameaçando chantagear o líder
petista.
O que resta evidente
é que há uma clara movimentação dos 38 réus e seus advogados para conduzir o
julgamento que se inicia no próximo dia 2 de agosto a uma absolvição em massa. São
movimentações subterrâneas, mas que também se somam a outras mais explícitas e constrangedoras.
Recorde-se a conclamação
feita por José Dirceu à UNE há pouco mais de um mês. E junte-se, agora, ato
marcado para hoje por militantes petistas de Brasília em defesa de Delúbio
Soares, o ex-tesoureiro do PT à época do mensalão, como mostra hoje o Estadão.
A ordem dada à tropa
petista é pressionar o Supremo com urros, intimidações e arreganhos. Nada mais
fazem do que seguir a senha dada por Lula antes de deixar a presidência da República,
quando prometeu tentar transformar o mensalão numa “farsa” urdida pela oposição.
O difícil é contradizer
o que o ex-presidente afirmou no auge da descoberta do escândalo, em 2005, em
rede nacional de televisão:
“Eu me sinto traído. Traído por práticas inaceitáveis das quais nunca tive
conhecimento. Não tenho nenhuma vergonha de dizer ao povo brasileiro que nós
temos de pedir desculpas. O PT tem de pedir desculpas”. Ninguém se desculpa por
uma suposta fraude cometida por adversários...
Como se ainda fosse necessário,
o advogado de Roberto Jefferson, líder do PTB que primeiro admitiu a existência
do esquema de corrupção no governo do PT, disse ao jornal O
Globo que Lula “não só sabia [do mensalão] como ordenou toda essa
lambança. Não é possível acusar os empregados e deixar o patrão de fora”.
Na reta final para o
início do julgamento mais importante da história política recente do país, é
essencial manter a vigilância sobre os movimentos dos réus e suas espúrias
tentativas de constranger a Justiça. Como já demonstrou em mais de uma ocasião,
a “sofisticada organização criminosa” que agiu no governo Lula dispõe-se a tudo
para que seus delitos permaneçam impunes.
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