Atualmente, 1.134 municípios
do semiárido encontram-se em situação de emergência devido à estiagem. Além do
suplício que a falta de chuvas causa à vida das pessoas, apenas em termos de
produção agropecuária estima-se que o Nordeste perderá R$ 12 bilhões neste ano.
Numa situação assim, é imperativa a ação do poder público.
Sobre minorar o
sofrimento dos afetados pela seca, o governo federal diz muito, mas faz quase
nada. Em abril, o Planalto enviou medida provisória ao Congresso para amparar vítimas
da estiagem no semiárido brasileiro. Nela, foi autorizada despesa extra de R$
706,4 milhões para ações de socorro como o seguro-safra, defesa civil e auxílio
financeiro emergencial. Passados quase três meses, porém, apenas 4% dos
recursos foram aplicados.
O Nordeste é
enaltecido em discursos oficiais, mas continua sendo vítima de práticas predatórias,
arcaicas, inescrupulosas. Enquanto a seca avança, obras que poderiam servir
para aplacar o problema apodrecem sob o sol inclemente. E instituições públicas
que deveriam zelar por uma vida melhor para o sertanejo servem de butim para
alimentar as alianças petistas.
Tome-se o que
acontece, por exemplo, no Dnocs e no Banco do Nordeste. Bem geridos, poderiam ser
instrumentos poderosos no combate à seca, mas, nas mãos do PT, são tratados
como meras moedas de troca na partilha de poder. Fatiados entre partidos da
base aliada, vira e mexe surgem no noticiário policial alimentando escândalos de
desvio de dinheiro público.
O Nordeste também tem
se notabilizado por ser a região onde as obras federais caminham mais
lentamente. O caso mais emblemático é o da transposição das águas do rio São
Francisco. Encampada pelo ex-presidente Lula como a redenção da seca, está
longe, muito longe de alcançar o objetivo: seja porque efetivamente não se
prestará a esta finalidade, seja porque sua conclusão fica cada dia mais distante.
Atualmente, segundo o
Jornal do Commercio, grande parte das
obras está paralisada. Dos 14 lotes, seis estão com obras suspensas. São eles: o
3, em Salgueiro (PE); o 4, em Penaforte (CE); o 5 em Jati (CE); o 6 em Mauriti
(CE); o 7 em São José de Piranhas (PB); e o 9 em Floresta (PE). Todos tiveram
seus contratos rescindidos por suspeita de irregularidades e agora aguardam a
realização de novas licitações.
A transposição não
tem data para acabar e o governo é incapaz de dizer quanto ela irá custar. O orçamento,
que começou em R$ 4,5 bilhões, já chegou a R$ 8,2 bilhões, mas continua mirando
o céu como limite. Antes prevista para 2010, a obra ficará pronta, na melhor
das hipóteses, em 2015 – até hoje apenas 36% foram executados. Somente um
trecho de 4 km do Eixo Norte foi entregue até agora, executado pelo Exército.
Mas o Nordeste não precisa
apenas de mais água. Necessita também de infraestrutura adequada para acelerar
o seu desenvolvimento. Se depender do ritmo de outro grande empreendimento da
região, o da ferrovia Transnordestina, ainda terá de esperar muito. A obra é
outro exemplo de abandono e inépcia.
A ferrovia é
privada, mas conta com grosso recurso do BNDES. Seu custo já subiu 20%, para R$
5,4 bilhões, mas pode crescer mais R$ 1,3 bilhão, de acordo com O
Estado de S.Paulo. A Transnordestina está em construção há cinco anos,
mas até agora só um terço da obra ficou pronta, impedindo o Nordeste de escoar
sua produção até os portos de Suape (PE) e Pecém (CE) de forma mais barata e
competitiva.
Em fevereiro, a presidente
da República foi pessoalmente aos canteiros de obras da transposição e da ferrovia.
Na ocasião, foi enérgica e garantiu que o tempo dos atrasos havia ficado para
trás. Não foi o que aconteceu e os dois empreendimentos permanecem em marcha a
ré.
Uma região com as
características do Nordeste merece atenção especial de qualquer governo que
pretenda imprimir uma marcha de desenvolvimento equilibrado ao país. Reclama políticas
estratégicas e estruturantes para lançá-lo num salto à frente, que já se
manifesta na intensa ampliação de seu mercado de consumo.
Na era petista, o Nordeste
tem servido de mote para a retórica afinada do governo federal. Mas não recebe em
troca o que lhe prometem. Os nordestinos são credores da eleição de Dilma
Rousseff, mas, até agora, o que a presidente da República fez foi virar-lhes as
costas. A região merece mais atenção e respeito, e não castigo.
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