A Selic caiu ontem
para 8% ao ano, seu menor patamar histórico. Em termos reais, ou seja,
descontando-se a inflação, o juro brasileiro está próximo de 2,3% – ainda
assim, o terceiro maior do mundo, atrás apenas de China (3,7%) e Rússia (3,5%).
A previsão dominante
é de que os juros brasileiros devem baixar ainda mais para tentar reanimar a nossa
moribunda economia. Neste aspecto, a presidente poderá dizer que cumpriu o que
prometeu: levou a taxa a pisos impensáveis pouco tempo atrás. Infelizmente, a
Selic só cai porque o Brasil está metido num círculo vicioso.
Nesta manhã, o Banco
Central divulgou
o PIB de maio. O resultado é uma queda de 0,02% sobre abril. Em três meses
deste ano e em oito dos 17 primeiros meses da gestão Dilma, o Índice de
Atividade Econômica (IBC-Br) recuou. Nos últimos 12 meses, a economia brasileira
cresceu só 1,39%, segundo o levantamento do BC, que funciona como prévia da
estimativa oficial do IBGE.
O mais desagradável
é que a marcha lenta, que antes era mais concentrada na indústria, vai se
espalhando pelos demais setores. A agricultura vai bastante mal neste ano,
menos por culpa do governo, mais por causa de São Pedro, que foi inclemente com
a falta de chuva. O campo deixou de ser, pelo menos por ora, um dos motores
que sustentava o nosso crescimento.
Agora é a vez de o comércio
também ratear. Desde a eclosão da crise, em 2008, o incentivo ao consumo tem
sido a mola mestra da economia petista. Funcionou por um tempo, mas enferrujou de
uns meses para cá. Dois indicadores divulgados ontem deixam isso muito claro.
O mais relevante foi
a queda de 0,8% nas vendas de varejo em maio. É o pior resultado desde novembro
de 2008, isto é, desde o auge do paradeiro que se seguiu à quebra do banco
americano Lehman Brothers. Caíram, principalmente, as vendas de alimentos,
eletrodomésticos e material de construção.
Não é possível dizer,
ainda, se se trata de ponto fora da curva virtuosa do comércio ou se já é o
começo da descida ladeira abaixo. Mas crescem os sinais de que o modelo petista
– se é que pode ser chamado assim – esgotou-se. Até porque o consumidor
encontra-se com a corda no pescoço e quer distância de novas dívidas.
Segundo pesquisa da
Serasa Experian divulgada ontem, a inadimplência do consumidor cresceu 19% no
semestre. A renda, de acordo com análise feita pela entidade, está comprometida
com dívidas caras (cheque especial e rotativo do cartão de crédito) e altas (veículos
e imobiliárias). É uma situação que periga rumar para o descontrole. O nó
apertou.
Não se sabe como o
governo federal irá reagir à nova realidade. Nos últimos anos, com Lula e
depois com Dilma, executou um samba de uma nota só, que agora está claramente desafinado.
Atacar os juros tem sido medida acertada, porém insuficiente. Não adianta
consertar uma peça, se toda a engrenagem está falha.
O que tem acontecido
é que as medidas necessárias chegam com atraso. Muitas vezes só são tomadas
quando o problema já se manifestou ou o desequilíbrio fez novas vítimas pelo
caminho. O melhor a fazer seria aproveitar o que há de bom, como a queda dos
juros, para estruturar um plano geral para sustentar o desenvolvimento do país.
Mas, hoje, isso é apenas uma possibilidade distante.
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