Ontem, a PF prendeu
José Francisco das Neves, mais conhecido como Juquinha. Por oito anos, ou seja,
durante todo o governo Lula, ele presidiu a Valec, estatal que cuida de obras
como a encrencada ferrovia Norte-Sul. Durante sua gestão, embora tocasse
empreendimentos importantes para o PAC, cuja “mãe” é hoje presidente do Brasil,
não foi incomodado. Até que, um ano atrás, depois de muita lambança, Juquinha foi
mandado para casa pela professora Dilma.
Agora, numa operação
batizada “Trem Pagador”, a PF descobriu que Juquinha tinha enchido os bolsos,
não de bala, mas de muito dinheiro. No tempo em que esteve na Valec, sua
fortuna – camuflada em nome de esposa, filho e um monte de terceiros – teria
crescido 830%, para algo na casa de R$ 60 milhões, como descobriu O
Globo. Haja vagão para tanta grana.
Juquinha chegou à
Valec pelas mãos de José Sarney, o bem-tratado aliado do PT que, em 1987, deu
início à Norte-Sul por meio de uma concorrência fraudulenta. Em sua gestão, o apadrinhado
deixou um rastilho de malfeitorias, trilhos por onde não se trafega, fábricas de
dormentes que só produzem prejuízos e licitações destinadas a avançar sobre os
cofres do Estado.
Nos inquéritos que
resultaram na prisão de Juquinha, a PF já constatou superfaturamento de R$ 129 milhões
só na construção de trechos da Norte-Sul em Goiás. As fraudes teriam
beneficiado o presidente da estatal e mais três pessoas. A construtora Delta,
que tinha contratos de R$ 574 milhões com a Valec, também pode estar envolvida
no esquema.
Mas o rombo produzido
por Juquinha e sua turma nos cofres públicos deve ser muito maior. Há um mês, o
Valor
Econômico já havia revelado que cerca de R$ 400 milhões terão de ser
gastos apenas para consertar obras malfeitas durante a gestão dele à frente da
estatal. Os contratos envolviam uma série de falcatruas.
O nova gestão da
Valec descobriu dormentes adquiridos com preço 36% acima do que seria possível,
prejuízo potencial próximo a R$ 200 milhões na aquisição de trilhos e quase mil
quilômetros de ferrovias para transportar grãos e minérios sem um único pátio
para os caminhões fazerem carga e descarga, como revelou O
Estado de S.Paulo em junho.
A Norte-Sul poderia ser
uma vistosa realização, mas, nas mãos do PT, se converteu num comboio de
corrupção, ineficiência, roubalheira e incapacidade de gestão. Embora a obra
fosse tida como prioritária no PAC, os descalabros que fizeram com que ela atrasasse
pelo menos três anos passaram incólumes sob o nariz da “gerente” Dilma
Rousseff.
Reiteradamente, a conclusão
da Norte-Sul foi prometida por Lula e Dilma para 2010, mas só sairá, se sair, em
fins de 2013. O atraso penaliza quem trabalha e produz, notadamente os
agricultores do Centro-Oeste brasileiro.
Sem a opção ferroviária,
cerca de 12% das cargas ficam pelas estradas, o custo do frete no país sai
muito mais caro que o de seus concorrentes e o Brasil perde R$ 12 bilhões por
ano entre cargas não transportadas, tributos não arrecadados e prejuízos com o
uso de caminhões, como mostrou a Folha
de S.Paulo em junho.
O modal ferroviário demanda
atenção do poder concedente, de forma a tornar-se mais competitivo e uma opção
real para que o país reduza seus dispêndios com logística, que levam US$ 80
bilhões das empresas brasileiras por ano. Mas, hoje, os trilhos estão
subaproveitados e os custos são muito mais altos do que poderiam ser num
ambiente mais adequado.
No entanto, ao invés
de concentrar-se em reformar o modelo, injetando mais concorrência e eficiência,
o governo federal prefere apelar para ideias mirabolantes, como a do trem-bala:
só o seu projeto de engenharia custará R$ 540 milhões, revela hoje o Valor.
O PT insiste em levar adiante a obra, que ninguém sabe sequer por quantas dezenas de bilhões
sairá.
Ao mesmo tempo, o
governo Dilma quer que as futuras expansões da malha ferroviária sejam tocadas
pela encrencada Valec: programa-se para os próximos anos a construção de 2,7
mil quilômetros de trilhos, em investimentos que podem chegar a R$ 13,7 bilhões,
tudo com recursos públicos. Como Juquinha está cansado de saber, pode ser mais
uma chance para o desvio de mais um comboio de dinheiro do contribuinte.
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