Ao mesmo tempo em
que revê suas previsões para o crescimento do PIB neste ano, o governo Dilma
Rousseff anuncia
agora que irá lançar, no próximo mês, uma nova fornada de privatizações de obras
e serviços de infraestrutura. Na lista, constam portos, aeroportos, rodovias e
ferrovias. Com o atraso que lhe é peculiar, a gestão petista endireita – neste particular,
pelo menos.
O PT perdeu anos
negando o óbvio: em vastíssima área da economia, o Estado é muito pior
empreendedor do que o agente privado. O dogma fez Luiz Inácio Lula da Silva
passar todo o seu governo execrando as privatizações, enquanto as condições de
competitividade do país iam, literalmente, buraco abaixo.
Dilma elegeu-se em
cima da mesma crença, mas vai abandonando-a aos poucos. Melhor seria renegá-la
de vez. Sem a participação da iniciativa privada na reconstrução e na expansão de
sua infraestrutura, o país não tem a menor chance de avançar. Não dá para
perder mais tempo defendendo o indefensável.
Foi apenas no início
de 2011 que o PT recolocou as privatizações de vez no radar, embora de maneira
envergonhada. Na gestão Lula, apenas alguns trechos de rodovias foram
concedidos, mesmo assim por meio de um modelo em que as melhorias custam a
chegar aos usuários, quando chegam. Aos pedágios baratinhos correspondem estradas
ordinárias.
Por volta de abril
do ano passado, Dilma anunciou que finalmente se convertera às privatizações
para fazer os aeroportos brasileiros decolar. Os leilões de três terminais –
Guarulhos, Viracopos e Brasília – ocorreram há cinco meses, mas até hoje as
obras não começaram. Com o PT, a distância entre decisão e ação se conta em
milhas aéreas. Já se teme pelo que irá acontecer na Copa de 2014...
Também foi preciso a
situação chegar à antessala do caos para que o governo resolvesse agir em
outras áreas, como os portos. Há R$ 19 bilhões em investimentos em suspense à
espera que se resolvam pendengas regulatórios do setor, mostrou o Valor
Econômico na semana passada. Há tempos, travadas por medidas tomadas no
governo do PT, as melhorias não acontecem, e as filas de caminhões na entrada
dos terminais se avolumam.
Ao longo dos últimos
nove anos, o total dos investimentos no setor portuário correspondeu a somente
0,07% do PIB. Nesse ritmo, o país levará 19 anos para sanar as restrições já
identificadas nos seus portos – isto sem considerar as novas necessidades
oriundas do próprio crescimento econômico.
O atraso de obras também em
outros modais mais adequados ao transporte de cargas, como ferrovias e
hidrovias, encarece bastante o frete praticado no país e retira um naco
considerável do poder de competição de nossos produtos frente à concorrência externa.
Na logística, se vão US$ 80 bilhões ao ano, ou 4% do nosso PIB.
Para fazer frente a
isso, no pacote que prevê anunciar em agosto o governo promete incluir novas
regras para o uso das ferrovias brasileiras. A malha nacional demanda investimento
de R$ 151 bilhões, de acordo com a CNT.
Mas o setor segue em ritmo de maria-fumaça: o valor equivale a seis vezes o que
foi aplicado no modal desde 1997, quando a malha foi privatizada.
O mesmo atraso que assola
as obras de infraestrutura viária também se abate sobre o setor elétrico. A exatos
36 meses para a data de vencimento dos contratos de concessão, o governo petista
ainda não decidiu oficialmente o que fará com elas. Por esta razão, empresas do
segmento não estão mais conseguindo financiar-se e estão suspendendo investimentos.
Faça-se luz.
Em sua revisão do
PIB, o governo Dilma mantém uma previsão para lá de otimista para este ano. Ninguém
mais crê que seja possível alcançar sequer os 2,7% de 2011, com o pibizinho se
aproximando de ser uma piada. Mas, se a intenção é não jogar fora também o ano
de 2013, a atual gestão tem de fazer com as concessões privadas tudo o que o PT
não fez em quase dez anos de poder: agir a tempo e a hora, para não perder mais
um bonde.
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