Antes confinado a
grandes centros urbanos, o crack espalhou-se por todo o país nos últimos anos. Praticamente
não há mais localidades onde o consumo da droga não esteja presente e seja
motivo de angústia para familiares de usuários. O crack tornou-se uma epidemia
nacional.
Pelo interior do país,
espalham-se “minicracolândias”, perímetros onde reina a degradação e a falta de
perspectiva. Segundo pesquisa
feita pela Confederação Nacional dos Municípios em fins de 2011, 90% das
cidades brasileiras registram consumo de crack; em 1.078 delas, o uso já atingiu
níveis considerados altos.
O crack e sua
desenfreada disseminação no território brasileiro foram um dos temas da
campanha presidencial de 2010. Às vésperas do pleito, sem nunca ter feito nada
para deter o avanço ao longo dos oito anos de seu governo, Luiz Inácio Lula da Silva
lançou um retumbante programa de combate à droga, destinando R$ 400 milhões a
ações que jamais foram realizadas.
Já na cadeira de
presidente, no segundo mês de governo, Dilma Rousseff reiterou o compromisso de
uma “luta sem quartéis” contra a droga. Em dezembro passado, relançou o
programa que Lula lançara como mera peça eleitoral. Mas, infelizmente, até
agora as providências não passaram de promessas vazias. A batalha contra o
crack continua sendo perdida.
Em agosto, O
Globo mostrou que o programa federal – batizado “Crack, é possível
vencer” – “anda a passos lentos”. Mais correto seria dizer que simplesmente não
sai do lugar. “Dados do Ministério da Saúde apontam que, dos 3.600 mil leitos
que seriam criados ou qualificados até 2014, só 79 funcionam. Das 188 unidades
de acolhimento infanto-juvenil, só uma saiu do papel (em Vitória, no ES). Dos
323 consultórios de rua prometidos, só 74 abriram”, informou o jornal.
É difícil saber onde
estão indo parar os R$ 4 bilhões anunciados pela presidente da República para
combater o flagelo do consumo de crack no país. A abertura de mais vagas de
acolhimento em comunidades terapêuticas dedicadas a tratamento de dependentes
também não ocorreu, como mostrou O
Estado de S.Paulo na semana passada. “As exigências eram inúmeras. Foi
um fracasso”, resumiu um dirigente.
Com tamanha leniência,
não foi surpresa ver o Brasil alçado à condição de lugar do mundo onde mais se
consome crack, segundo pesquisa
feita pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas
do Álcool e Drogas divulgada no início do mês. Já são 1 milhão de usuários. No caso
da cocaína, o consumo registrado no Brasil nos últimos 12 meses supera o de toda
a Ásia. Lamentavelmente, é possível que os números estejam subestimados.
O mesmo levantamento
mostra que o que colabora para a franca disseminação do mal no país é a
facilidade de obter a droga. Nossas fronteiras são um verdadeiro queijo suíço por
onde se contrabandeia de tudo, principalmente entorpecentes e armas – dois itens,
aliás, intimamente irmanados na escalada de violência que também assola nossas cidades.
O descuido federal em
relação a nossos 15,8 mil quilômetros de fronteiras tem proporções amazônicas. A
despeito de toda a pirotecnia que, vira e mexe, o governo petista apronta, talvez
tenhamos as divisas mais mal vigiadas do planeta, como restou mais uma vez evidente
com os veículos aéreos não tripulados (VAT) que não voam.
Os VATs foram uma
das estrelas da campanha eleitoral de Dilma, mas não decolam desde janeiro, conforme
revelou a Folha
de S.Paulo na segunda-feira. Vários motivos já colaboraram para isso:
falta de combustível, de treinamento e, agora, de um contrato de manutenção a
ser firmado com a empresa israelense que forneceu as aeronaves. Nisso, R$ 80
milhões já foram embora e a droga continua a passar, sem ninguém ladrar.
O desleixo do
governo petista em relação ao combate ao crack e a negligência com nossas
fronteiras ilustram à perfeição a inação que marca tanto a atual quanto a gestão
anterior. Há muito marketing, mas pouquíssimos resultados. Há milhões de pais e
mães desesperançados no Brasil aguardando que esta viagem sem volta acabe.
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