A proposta de
isentar alimentos e produtos da cesta básica da incidência de tributos federais
foi vetada
sem dó ontem pela presidente da República. O texto havia sido incorporado à
medida provisória n° 563 por iniciativa do deputado Bruno Araújo, líder tucano
na Câmara, e aprovado no Congresso. Talvez tenha sido seu maior pecado: Dilma
não aceita repartir louros com a oposição; dane-se a população.
A postura mesquinha
ficou evidente com as declarações dadas ontem pelo burocrata do Ministério da
Fazenda escalado pelo governo para tentar explicar o inexplicável: por que os
alimentos e os itens mais básicos e essenciais para a vida dos brasileiros não
podem ter o mesmo tratamento tributário que têm, por exemplo, os tablets, os
smartphones, os carrões de luxo?
Segundo Dyogo Henrique
de Oliveira, secretário-executivo-adjunto do Ministério da Fazenda, o governo
aceita, sim, a desoneração. Mas desde que patrocinada pelo próprio governo,
jamais por meio de ousadia da oposição. A presidente promete aposentar suas
reluzentes tesouras mais adiante e anunciar ela mesma as isenções. Neste ínterim,
a população que continue a pagar mais – a Fiesp estima que 70% das famílias
brasileiras comprometam mais de um terço de sua renda com a compra de
alimentos.
Pelas estimativas do
PSDB, a desoneração permitiria reduzir em cerca de 10% os gastos das famílias
com produtos da cesta básica. Seriam isentos de PIS/Pasep, Cofins e IPI, todos tributos
de âmbito federal. No veto, o governo também argumentou que a proposta da
oposição era imperfeita “técnica e juridicamente”, por não incorporar, também,
a isenção de ICMS.
Mas como o Congresso
Nacional pode legislar sobre tributo da alçada dos estados? Mais: se esta esdrúxula
justificativa fosse válida, a desoneração das contas de luz – proclamada em
rede nacional de rádio e televisão pela presidente no último dia 6 – é
igualmente capenga, porque não alcança o tributo estadual, sabidamente o que
mais onera as faturas de energia.
Desde a eclosão da
crise de 2008, o governo petista já anunciou pelo menos dez pacotes de
incentivos tributários. No ano passado, as isenções distribuídas por Brasília
alcançaram a estupenda cifra de R$ 187 bilhões, segundo o TCU.
Mas para ter acesso a esta dinheirama é preciso ser amigo do rei e ter portas
abertas nos gabinetes acarpetados de Brasília.
Não é de hoje que o
governo do PT usa a distribuição de benefícios fiscais para amealhar apoios e
calar protestos. Este é também um dos componentes do toma lá dá cá que o
Planalto estabelece com os que estão dispostos a se alinhar ao projeto de poder
em voga. Enquanto isso, ao povo sobram as batatas, na forma de impostos cada
vez mais altos a pagar.
Até o fim de agosto,
os brasileiros haviam deixado mais de R$
1 trilhão nos cofres do fisco. A cada ano do governo do PT que passa, a
marca é atingida mais cedo. Para se ter ideia, em 2008, quando pela primeira
vez a arrecadação de tributos no país foi trilionária, a soma só foi alcançada
em 15 de dezembro. No ritmo atual, os brasileiros pagamos R$ 4 bilhões de
tributos por dia.
Mas as mãos de
tesoura de Dilma não barbarizaram apenas os alimentos e a cesta básica. Também ceifaram
emenda à mesma MP, incluída pelo senador tucano Flexa Ribeiro (PA), que alterava
regras para a cobrança da CFEM (Compensação Financeira pela Exploração de
Recursos Minerais), tributo pago pelas empresas mineradoras a municípios,
estados e União.
Com isso, estados
como Minas e Pará – ambos atualmente governados pelo PSDB – deixarão de acrescentar
cerca de R$ 300 milhões e R$ 200 milhões por ano, respectivamente, a suas receitas
com royalties de minério. Para se ter ideia, neste ano foram recolhidos a título de CFEM menos de
R$ 1 bilhão, enquanto apenas as exportações de minério de ferro já tinham superado
US$ 22 bilhões até julho.
É evidente que a
presidente pretende posar mais à frente de benfeitora, quando, e se, anunciar as
desonerações que ela mesma acaba de vetar. Ainda que tardia, a bondade ainda
será bem-vinda, em favor da população mais carente. Mas ninguém esquecerá que Dilma
Rousseff ontem, mais uma vez, abriu seu saco de maldades e as distribuiu sem
piedade aos brasileiros mais pobres.
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