Ontem, o ministro Joaquim
Barbosa começou a analisar as denúncias de gestão fraudulenta por parte das instituições
financeiras por onde transitaram os milhões do mensalão. O relator do processo
no Supremo Tribunal Federal não deixou pedra sobre pedra, ou melhor, tostão
sobre tostão.
As operações, pelas
quais R$ 32 milhões foram destinados ao PT, eram todas fictícias, feitas com
base em contratos fajutos e garantias furadas. Eram, em suma, uma cascata,
empréstimos e financiamentos feitos para nunca serem pagos, cuja única função
era tentar encobrir que os recursos que bancavam o mensalão haviam sido
surrupiados de cofres públicos.
Barbosa ressaltou
que o banco de onde o dinheiro saiu, o Rural, somente decidiu “cobrar” do PT os
valores que supostamente teriam sido objeto de empréstimo depois que o
escândalo estourou na imprensa. Maus financistas, esta gente dos bancos do
mensalão...
Por lá, e pelo BMG,
passava um ramal do valerioduto que depois desaguava no bolso dos parlamentares
comprados pelos petistas. O crédito era liberado sem que o Rural tivesse sequer
o cadastro do partido, das pessoas físicas responsáveis e dos avalistas. A análise
do “financiamento” ignorava a situação de insolvência do PT, afundado nas dívidas
que contraíra para chegar ao poder em 2002.
Em tudo, a atitude dos
envolvidos, seja na ponta credora, seja na tomadora do dinheiro, mostrou-se
criminosa. “O Banco Rural extraviou dezenas de microfichas, balancetes,
incluindo todas as do segundo semestre de 2005. Toda a remuneração referente a
novembro de 2004 foi ocultada”, destacou ontem o ministro relator do mensalão.
Conhecendo os
detalhes das operações fictícias e fraudulentas montadas pelos mensaleiros, muitos
hão de se lembrar de uma chamada Operação Uruguai, forjada 20 anos atrás para
tentar encobrir a origem do dinheiro que alimentou o esquema PC Farias, que permeava
o governo de Fernando Collor. Curiosamente, tanto lá como cá o mesmo banco está
envolvido: o Rural. A diferença é que o duto petista de agora é bem maior que o
dreno de outrora.
Segundo Joaquim Barbosa, os banqueiros do Rural estariam
agora novamente enredados numa “cadeia de ilicitudes” para simular empréstimos
e favorecer o PT e as agências do publicitário Marcos Valério. Os financiamentos
concedidos foram rolados por dez vezes, numa clara comprovação de que não foram
feitos para ser quitados.
A primeira fase do julgamento foi concluída ontem, sacramentando
não apenas a condenação de João Paulo Cunha, como também sepultando algumas
teses da defesa. Está mais que claro que o dinheiro usado para corromper
parlamentares era público; que se tratou de lesão aos cofres do Estado e não uso
de recursos de campanha; e que o ato de corrupção não exige provas cabais para
restar demonstrado, basta comprovar que o dinheiro recebido é indevido.
Na etapa que ora se inicia, em que os réus são os
administradores do Banco Rural, o Supremo terá oportunidade de desnudar outra
face da tramoia petista: a de empréstimos forjados pelo partido em conluio com
instituições financeiras para lesar o erário. Assim como as alegações fajutas
da defesa dos réus foram uma a uma derrotadas no primeiro capítulo do
julgamento, o esquema montado para encobrir a origem do dinheiro sujo do mensalão
vai acabar se mostrando uma operação tão falsa quanto uísque fabricado no Paraguai.
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