Depois de muita resistência,
o governo petista anunciou anteontem que voltará a licitar áreas para
exploração de petróleo. Os certames serão retomados em 2013. Já não era sem
tempo. Afinal, há quase quatro anos nenhum novo poço é levado a leilão no país.
O preço saiu caro: a negligência minou o vigor que a indústria do petróleo vinha
exibindo no Brasil.
Desde que o governo
Fernando Henrique Cardoso aprovou a nova lei do petróleo, em 1997, a
participação do setor no PIB multiplicou-se por quatro: saiu de 2,75% para 12%.
Mas tamanha arrancada perdeu ímpeto na gestão petista e estancou de vez após a chegada
do novo marco legal adotado após a descoberta das reservas do pré-sal.
De estrela
fulgurante, o país passou a patinho feio. Sem novos negócios à vista, empresas
e investidores do setor começaram a desmontar suas posições no Brasil e buscar
novas fronteiras, como a África e mesmo os EUA, onde ganha impulso a exploração
de gás de xisto. No ritmo atual, sem a abertura de novas fronteiras, temia-se
que a área prospectada sob regime de concessão acabasse em 2016, mostra hoje Míriam
Leitão n’O Globo.
Com a retomada dos
leilões, renasce a esperança. O Ministério de Minas e Energia promete ofertar 174
blocos em maio de 2013. Destes, 87 são em terra e 87 no pós-sal marítimo. E, em
novembro do ano que vem, as áreas do pré-sal serão oferecidas pela primeira vez
à iniciativa privada. Apenas em bônus de assinatura poderão ser arrecadados US$
1 bilhão.
As potencialidades são
imensas. Há 7,5 milhões de quilômetros quadrados de bacias sedimentares pesquisados
no país, mas, desta extensão, atualmente apenas 4% está sendo explorada. O pré-sal
é uma gota neste oceano, praticamente intocado por ora: representa menos de 9%
da produção nacional corrente de petróleo.
A expectativa em relação
à retomada dos leilões vem acompanhada de apreensão, dadas as regras nas quais
o governo federal amarrou a exploração das novas fronteiras. Dois são os
fatores mais preocupantes: a participação da Petrobras como operadora nas áreas
do pré-sal e a exigência de conteúdo mínimo nacional nas compras de insumos e equipamentos.
Pelas regras
definidas há três anos, a estatal terá participação, obrigatoriamente, de pelo menos
30% nos consórcios que buscarão petróleo nas águas ultraprofundas das bacias brasileiras.
O receio deve-se à limitada capacidade que a Petrobras vem demonstrando para
tocar seu ambicioso plano de investimentos, que soma US$ 236,5 bilhões até
2016.
Afundada num mar de
atribuições das quais não consegue dar conta, a maior empresa brasileira não cumpre
suas metas de produção desde 2003, ou seja, desde a chegada do PT ao governo. Além
disso, registrou a proeza de ter prejuízo, depois de 13 anos no azul. Tudo por
ter sido convertida pelo Planalto em instrumento de controle da inflação e ter
se metido em negócios pra lá de duvidosos. Manietada, a Petrobras travou todo o
resto da indústria.
Já a exigência de
conteúdo nacional mostrou-se restritiva aos negócios e um entrave à expansão da
indústria de petróleo no país. São comuns itens que custam até três vezes mais
no país, como tubos flexíveis usados para a ligação de poços com as plataformas.
Uma atividade que, por si só, já envolve muitos riscos tornou-se, em muitos
casos, proibitiva em razão dos marcos legais impostos pelo PT.
Os maus resultados desta
estratégia são palpáveis. A produção brasileira de petróleo tem declinado e a média
diária de julho foi 8% menor que a de dezembro passado e 2,6% abaixo da de um
ano atrás, segundo a ANP. Além disso,
o país que se jubilava de ser autossuficiente em petróleo agora é franco
importador de combustíveis, com déficit de US$ 10 bilhões na balança de
derivados em 2011.
No memorável artigo
que publicou no início do mês, Fernando Henrique Cardoso afirmou: “O que mais
pesa como herança [de Lula para Dilma Rousseff] é a desorientação da política
energética”. Em nenhum momento, o presidente teve os fatos que denunciou
rebatidos. Ao contrário: só foi corroborado por decisões e manifestações
recentes do governo. Ainda que tardia, a retomada dos leilões de concessão de petróleo
dá mais uma razão ao líder tucano.
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