Pronunciamentos oficiais
em datas cívicas sempre foram, tradicionalmente, marcados pela sobriedade e
pelo estrito respeito institucional. Afinal, no dia em que o país comemora seu mais
importante feito histórico, quem se dirige aos cidadãos é o chefe da nação e não
o chefe de uma facção. É assim em qualquer democracia madura do mundo, era assim
também no Brasil. Até que o PT desvirtuasse mais este símbolo da República.
Dilma ocupou 10
minutos e 35 segundos no rádio e na televisão na noite de quinta-feira, véspera
do Dia da Independência. Usou o direito e o espaço que a Constituição lhe dá,
mas os transformou numa oportunidade para desferir ataques e veicular batatadas
em cadeia nacional. Assim como a nota oficial que divulgara há uma semana, ancorou
seu discurso em um monte de mistificações.
Para começar, seguindo
o padrão já adotado pelo seu antecessor no cargo, Dilma, oportunisticamente,
tentou se apropriar de conquistas pretéritas para justificar resultados – alguns
deles bastante questionáveis – do governo petista. Disse
que o Brasil “criou, nos últimos anos, um modelo de desenvolvimento inédito,
baseado no crescimento com estabilidade, no equilíbrio fiscal e na distribuição
de renda”.
Das três pernas do
tripé, duas lhe foram legadas pelo governo de Fernando Henrique Cardoso. Mas não
custa lembrar que o PT foi contra o Plano Real, que dizimou a inflação no país,
trazendo-a níveis comportados – na época, o plano de estabilização foi considerado
por Lula um “estelionato eleitoral”. Os petistas fizeram de tudo para sabotar a
conquista da estabilidade da moeda pelos brasileiros.
Também é sempre bom
recordar que o PT opôs-se à Lei de Responsabilidade Fiscal. O partido não
apenas votou em peso contra o projeto de lei de equilíbrio fiscal no Congresso,
como, derrotado, foi ao Supremo Tribunal Federal arguir-lhe a constitucionalidade.
É de se perguntar o que seria dos governos petistas que se seguiram – tanto no
plano federal, quanto nos estaduais e municipais – sem a legislação que pôs as finanças
públicas do país em ordem...
Em seguida, Dilma anunciou
que doravante a competitividade estará na agenda nacional. De pronto, é de se
perguntar: Mas só agora, cara-pálida? Repetidamente, o Brasil tem figurado nas piores
colocações em rankings globais que medem este requisito. No que é publicado pelo
Fórum Econômico Mundial, por exemplo, temos feito muito feio.
Na edição mais
recente, entre 142 países, fomos o 118° na qualidade rodoviária, 122° na
aeroportuária e o 130° na portuária. Na média geral deste quesito, recuamos 20
posições em relação a 2010. Pelo visto, vai demorar muito até que nos tornemos “um
dos países com melhor infraestrutura, com melhor tecnologia industrial, melhor
eficiência produtiva e menor custo de produção”, como prometeu a presidente no
pronunciamento.
Com pompa, Dilma também
anunciou aos brasileiros que descobriu a roda. Disse, no meio
do pronunciamento, que acaba de adotar “um conjunto de medidas que vai
provocar, no médio e no longo prazo, uma verdadeira revolução no setor de
transportes no nosso país, (...) em um novo tipo de parceria entre o poder
público e a iniciativa privada”.
A esta “verdadeira
revolução”, damos o singelo nome de privatização, contra as quais Dilma e seu
partido, sistematicamente, se contrapuseram quando eram oposição e também ao
longo dos dez anos em que estão governo. Será que o PT demora tanto a acordar para
tudo o que é bom para a sociedade?
As privatizações que
ora serão tocadas pelo PT são as mesmas que Dilma Rousseff – deselegante e
equivocadamente – criticou no pronunciamento que deveria ser de chefe de nação,
mas transformou-se em mais uma peça de campanha eleitoral. É dever do presidente
da República dirigir-se aos seus concidadãos a cada 7 de setembro. Mas, daqui a um
ano, veremos que as 1.336 palavras proferidas na última quinta-feira foram
lançadas ao vento. Pouco delas sobreviverão ao choque de realidade de um
governo que fala muito mais do que faz.
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