Na tradicional
cerimônia das Nações Unidas, Dilma classificou de “espúria e fraudulenta” a
vantagem comercial obtida por meio de medidas protecionistas, bem como criticou
“todas as formas de manipulação do comércio”. Em sua frase mais forte, disse: “Não
podemos aceitar que iniciativas legítimas de defesa comercial dos países em
desenvolvimento sejam injustamente classificadas como protecionismo”.
Na realidade, Dilma foi
dura na condenação de uma prática que, infelizmente, tem vicejado no país com
especial vigor nos últimos anos. Diferentes levantamentos apontam o Brasil entre as nações que mais têm adotado práticas de restrição ao comércio como forma de se
contrapor às dificuldades econômicas surgidas a partir da crise detonada pela
quebra do banco Lehman Brothers, há exatos quatro anos.
Em junho, ONU, OMC e
OCDE mostraram que o governo brasileiro foi recordista na aplicação de novas
medidas protecionistas no mundo ao longo de 2012, conforme informou O
Estado de S.Paulo à época. Foram erigidas 17 novas barreiras contra
importações e 16 medidas antidumping entre outubro de 2011 e abril de 2012. Nem
a empedernida Argentina ousou tanto.
Outro levantamento,
feito pela consultoria Global
Trade Alert, coloca o Brasil como o oitavo país que mais adotou mecanismos
de restrição ao comércio desde 2008: foram 56 medidas, criando defesa para 33
setores da economia e afetando as taxas de 258 produtos, de acordo com a
entidade. Se sete países foram mais fechados, outras 194 nações foram mais
liberais que nós no enfrentamento da crise.
Nesta leva, não estão
consideradas as novas rodadas de restrições brasileiras, como a decisão, tomada
no início deste mês, de aumentar a alíquota de importação de cem produtos
estrangeiros – alvo de protestos do Departamento de Comércio dos EUA na semana
passada. Naquela ocasião, o governo Dilma antecipou que outro tanto de produtos
também serão afetados em breve.
Ninguém aqui defende
que o Brasil seja passivo às investidas de outras nações sobre o mercado local.
Não: o interesse nacional deve, sim, ser firmemente defendido pela nossa
diplomacia e pelos nossos governantes. Nisso, Brasília age corretamente.
A questão é
identificar até onde a escalada protecionista beneficia o cidadão, o consumidor
e as empresas nacionais. Mais comércio, e mais abertura, tendem a contemplar melhor
os interesses das nações do que mecanismos que restrinjam os negócios. A burocracia
é inimiga da eficiência.
Quando anunciou o
pacote de aumento de alíquotas no início de setembro, o governo federal
divulgou que estará monitorando o comportamento dos preços praticados no varejo
para garantir que o consumidor não será prejudicado por preços mais altos. Não se
tem notícia, porém, de como conseguirá ressuscitar práticas pretéritas que já não
cabem no ambiente econômico contemporâneo.
Fechar as portas ao
comércio internacional serve, em geral, para abrir oportunidades para
interesses bem situados no mercado interno. Cada concorrente externo a menos é
um estorvo que um mau empresário ineficiente consegue afastar do seu caminho. Por
isso, o protecionismo deve ser sempre visto com redobrada cautela.
É positivo que a presidente da República defenda os
interesses do país, de suas empresas e de seus cidadãos. Mas restringir o
mercado local à participação de concorrentes estrangeiros não pode servir para
salvaguardar o poder de lobbies bem articulados em Brasília. O país não deve se
fechar. Deve, sim, tornar-se mais eficiente, competitivo, moderno. Para enfrentar
seus concorrentes de peito aberto, e não apenas nos acarpetados salões da ONU.
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