Tanto Lula quanto
Dilma Rousseff foram eleitos com votações acachapantes no Nordeste: tiveram 61%
e 70% dos votos, respectivamente, nas eleições de 2006 e 2010. Em campanha, o
PT prometeu a redenção da região, por meio de obras há muito aguardadas pela
população. Mas, depois de uma década de governo petista, nada, rigorosamente
nada, foi concluído.
A lista de promessas
é robusta e, se tivesse sido concretizada, poderia ter contribuído para que a região
diminuísse expressivamente o hiato que ainda a separa do restante do país – o
Nordeste tem quase 28% da população brasileira, mas participa com pouco mais de
13% do PIB. Inclui refinarias, melhoria da malha rodoviária, em especial a
BR-101, a conclusão da ferrovia Transnordestina e, principalmente, a
transposição das águas do rio São Francisco.
Nesta semana, a
Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou levantamento em que mostra
que, de uma lista de 83 projetos prioritários para o Nordeste, somente 25%
estão em andamento. Um extenso rol de obras continua na gaveta ou avançam a
passos de cágado, como é mais notável no caso das ferrovias e dos portos.
Isso torna as
condições logísticas da região muito prejudicadas, impedindo maior expansão da
economia local. Enquanto a carteira de obra classificadas como prioritárias na
região atinge R$ 25,8 bilhões, os gastos com transportes no Nordeste somam a R$
30 bilhões. “Os investimentos nos projetos de infraestrutura teriam retorno em
pouco mais de quatro anos”, avalia o Valor
Econômico.
O exemplo mais
gritante da incúria do governo federal em relação ao Nordeste continua a ser a
transposição das águas do Velho Chico. A obra foi apresentada no governo de
Luiz Inácio Lula da Silva como a salvação do semiárido, assolado por frequentes
estiagens e indesejáveis faltas d’água. Prometida para 2010, não deve ficar
pronta sequer na gestão Dilma, sobrando para 2020.
Lançada como uma das
vedetes do hoje esquecido PAC, em janeiro de 2007, a transposição deveria
assegurar oferta de água a cerca de 400 municípios dos estados de Pernambuco, Ceará,
Paraíba e Rio Grande do Norte. Mas oito dos 16 lotes que compõem a obra estão
hoje paralisados – muitos a cargo da Construtora Delta, blindada pelo governo petista
e sua base aliada na CPI do Cachoeira – e somente um foi concluído: o chamado canal
de aproximação do eixo norte, em Cabrobó (PE).
Mas, mesmo já
inaugurado, este trecho não leva água alguma para as famílias do semiárido,
conforme mostrou o Correio
Braziliense há um mês: “Ninguém foi beneficiado pelo canal com pouco
mais de dois quilômetros porque, até hoje, uma estação de bombeamento e uma
ponte não estão prontas.” A ponte sequer começou a ser construída e a estação
só deve ser finalizada no fim de 2014.
A transposição
envolve obras numa extensão de 713 quilômetros de canais. Orçada inicialmente
em R$ 4,5 bilhões, já praticamente dobrou de valor, mas continua longe da
conclusão. Sobram denúncias de sobrepreços, superfaturamento e desvio de recursos
públicos. A Controladoria Geral da União também já apontou deficiências graves nos
projetos básico e executivo das obras e falhas de fiscalização por parte do
Ministério da Integração Nacional.
Enquanto isso, o
semiárido nordestino agoniza com a falta d’água e a perspectiva de um verão rigorosíssimo.
A estiagem já atinge 80% de Pernambuco e 90% da produção agrícola de Ceará e
Piauí está comprometida. O Jornal do Commercio mostra hoje em manchete que 2012
já é o ano mais seco na região desde 1985.
Alterar as condições
climáticas é algo que escapa à intervenção humana. Mas ações que poderiam reduzir
as agruras que o sol inclemente impõe ao Nordeste poderiam muito bem ser
desenvolvidas pelo poder público. A região exige e merece mais atenção do
governo federal, e não apenas promessas vãs e compromissos nunca honrados.
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