A nova confusão em
torno das novas regras de partilha dos royalties é apenas mais um capítulo de uma
novela de insucessos que vem desde a malfadada ideia de criar um novo marco
legal para a exploração de petróleo no país, levada adiante pelo governo Lula,
com patrocínio direto da ex-ministra de Minas e Energia e então ministra da
Casa Civil, Dilma Rousseff.
A partir daí, um setor
que até então vinha de dez anos de pujança afundou em incertezas e retrocessos.
Desde que o Brasil tirou o “bilhete premiado” do pré-sal, a indústria do
petróleo agoniza no país, a produção anda de lado e nossa maior empresa, a
Petrobras, acumula insucessos. Até o outrora promissor setor de etanol foi
afetado: de produtor, o Brasil passou a importador do combustível.
Desde abril, a
produção mensal de petróleo tem sido menor que a do mesmo mês do ano passado, segundo
a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Em setembro, ficou 8,4% abaixo de um ano antes e, no acumulado no ano, o desempenho também se tornou negativo,
perfazendo queda de 0,6% na comparação com o mesmo período de 2011.
Não é apenas pelos
números que o resultado deve ser analisado, mas, principalmente, pelas
circunstâncias. O Brasil produz menos petróleo hoje a despeito de novos campos
do pré-sal terem entrado em operação. Descobrimos mais reservas, mas não só não
conseguimos explorá-las a contento, como estamos vendo os demais poços secarem.
O que impera
atualmente no setor brasileiro de petróleo é a chamada insegurança jurídica. Ninguém
sabe ao certo como tocar seus negócios depois que o governo do PT embolou de
vez o meio de campo com o novo margo legal, implodiu o bem sucedido modelo de
concessões e instaurou o regime de partilha, que ainda não se conhece como
funcionará.
Havia outros
caminhos a seguir, mas a gestão petista optou pela trilha mais ideológica, mais
dogmática e menos eficiente. É admissível que a descoberta de uma nova e gigantesca
reserva de petróleo alterasse a modelo de repartição dos ganhos. Afinal, os
riscos de insucesso tornam-se menores, ainda que as condições de exploração
sejam até mais drásticas nas águas ultraprofundas do pré-sal.
Mas não era necessário
desmontar todo o arcabouço que, testado durante dez anos, apresentara vistosos resultados:
o mais reluzente foi o aumento significativo da participação do setor de petróleo
no PIB, que passou de 2,75% para 12% após a adoção da nova lei no governo
Fernando Henrique. Bastava, por exemplo, alterar os percentuais de participação
especial dos entes federativos – União, estados e municípios – fixados em
decreto presidencial. Mas, para o PT, o caminho preferível é sempre o mais
tortuoso.
Foi esta trilha que acabou
desembocando na decisão, tomada esta semana pela Câmara, de redefinir a
partilha dos royalties, jogando estados e municípios produtores numa luta fratricida contra os demais. O que os parlamentares tentam agora consertar é a
lambança que o governo do PT começou a produzir lá trás e que só produziu
despautérios.
Mesmo querendo, o empreendedor
privado não consegue investir na exploração de petróleo porque o setor está
travado por indefinições e incertezas, agora agravadas pela possibilidade de a
discussão da divisão dos royalties ser levada para deliberação do Supremo
Tribunal Federal, num processo que não se sabe quando pode ter fim.
Segundo a Folha
de S.Paulo, esta é hoje a tendência: “A presidente Dilma Rousseff está
inclinada a sancionar sem vetos o projeto de lei aprovado na Câmara dos
Deputados que muda a divisão dos royalties do petróleo, na esperança de que a
nova lei será derrubada mais tarde pelo Supremo Tribunal Federal.”
O problema é que, da
definição dos royalties, depende a retomada dos leilões de exploração de novos
campos de petróleo, prometida pela ANP para maio de 2013. Desde 2008 não se
realizam novos certames e o resultado veio de roldão: o tamanho da área prospectada
no país hoje é metade do que era no passado. Se os leilões não vierem, cairá novamente
à metade já em fins de 2013, segundo O
Globo, e tende a zerar até 2016.
O modelo que o PT preconiza para a exploração do pré-sal superdimensiona
a presença do Estado no setor, além de também pôr o futuro da indústria do petróleo
na dependência da Petrobras, convertida em participante obrigatória de todos os
consórcios. Transformada num esteio do governo para segurar a inflação, a
estatal não demonstra fôlego para cumprir tal incumbência.
Estados e municípios produtores preparam-se para travar uma
guerra com os demais, em defesa de seus royalties. O governo assiste
impassível e acena com a possibilidade de passar a bola para o STF, como se
nada tivesse com a pendenga. Mas nada disso estaria acontecendo agora se a gestão
petista não tivesse transformado uma “dádiva de Deus”, nas palavras de Lula,
num monumental problema de difícil solução. Perde o país.
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